Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Pesquisadora premiada propõe práticas antirracistas na pedagogia

por Isadora Batista, da FFLCH-USP*

quarta-feira, 12 de novembro de 2025, 15h53

Fabiana Rodrigues da Silva em sua formatura da educação infantil. Seus cachos, preparados pela mãe, foram penteados a seco e desfeitos pela equipe da creche antes da foto - Fotomontagem com imagens de: arquivo pessoal/extraída da dissertação; Freepik

 

 

Para combater o racismo, será essencial criar novas narrativas sobre corpos negros e indígenas nas escolas. É o que propõe a educadora Fabiana Rodrigues da Silva, autora da dissertação Corpografias negras: Afetividades e pedagogias emancipatórias em prática antirracistas. Em sua pesquisa, Fabiana analisou as narrativas criadas sobre pessoas negras para pensar o racismo estrutural e institucional no processo de formação das crianças, e defendeu uma mudança nas formas de representação das pessoas racializadas.

 

A pesquisadora defendeu seu mestrado em dezembro de 2024, para o Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e outras Legitimidades (Diversitas) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A orientação foi do professor Diego dos Santos Reis.

 

De acordo com Fabiana, todo conteúdo que é visto e consumido constrói um pensamento. Por isso, as representações às quais crianças são expostas desde cedo vão contribuir para suas formações. “Se você vê o tempo todo, no desenho, o personagem com a boca grande, o nariz gigante, a pele retinta, preta, sem nenhuma outra tonalidade, isso vai gerar estereótipos. Isso vai nutrir o racismo recreativo que adolescentes e principalmente crianças sofrem”, explica. Em livros didáticos, é comum a ausência de pessoas negras sendo retratadas e, quando são, aparecem em lugares subalternos, como empregadas domésticas e porteiros.

 

Segundo ela, estereótipos que colocam as crianças negras como menos delicadas e limpas do que as brancas também condicionam o comportamento de professores da educação infantil. “Principalmente na educação infantil, crianças negras são menos tocadas e recebem menos afetos”, afirma.

 

 

Mulher negra adulta de cabelo cacheado escuro bem volumoso, veste uma camisa marrom e sorri para a câmera

Fabiana Rodrigues da Silva - Foto: CV Lattes

 

 

A pesquisa foi motivada pelas experiências de racismo que Fabiana e seus familiares viveram nos períodos em que frequentaram a escola. No prólogo de sua dissertação, a educadora narra o evento de sua formatura na educação infantil. Seus cachos – preparados pela sua mãe, um a um, para a foto – foram desfeitos, penteados a seco, pela equipe docente da creche. “Disso resultou uma tristeza profunda e intensa por parte de minha mãe, que por anos não conseguiu sequer olhar a foto. A pequena Fabi também não gostou”, escreve.

 

Para ela, é importante “entender que todos estão aprendendo a partir do toque e se a criança entende que o corpo dela é rejeitado, ela vai crescer se rejeitando também”.

 

Esses imaginários coletivos, ela propõe, devem ser recriados a partir de novas narrativas positivas na mídia, na escrita e nas imagens. “Precisamos existir em outros lugares, e não nos lugares onde esperam nos encontrar”, afirma.

 

Utilizando o termo “pedagogias emancipatórias”, a autora defende práticas de aprendizagem que promovam ferramentas para o desenvolvimento de pensamento crítico e transformação social contra todas as formas de desigualdades sociais e raciais ou de gênero e sexualidade. Para isso, ela sugere uma curadoria na biblioteca das escolas visando à revisão dos materiais disponibilizados e à implementação de livros com temáticas raciais, de autores negros, ilustrados sem estereótipos.

 

Fabiana entende que existem três linhas de frente para combater o racismo estrutural no processo formativo: referência bibliográfica reformulada, um currículo articulado à Lei nº 11.645/08 (que exige o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena) e a formação continuada dos professores.

 

Nesse último mês de setembro, seu texto foi laureado melhor mestrado em educação pelo V Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Unicamp-Instituto Vladimir Herzog. O prêmio é uma iniciativa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) junto com o Instituto Vladimir Herzog, e reconhece pesquisas de graduação, mestrado e doutorado em diferentes áreas, com o objetivo de fortalecer o compromisso entre a universidade pública e a sociedade na defesa dos direitos humanos para as gerações do presente e do futuro.

 

 

*Com edição de Diego Facundini**
**Estagiário sob supervisão de Antonio Carlos Quinto e Silvana Salles


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