Cartel de combustíveis é desmascarado em Cuiabá
quinta-feira, 24 de abril de 2008, 00h00
Cartel de combustíveis é desmascarado em Cuiabá
Nove empresários foram presos em Cuiabá acusados de combinar preços de combustíveis. Mais de 70% dos postos da cidade vendiam gasolina por um valor acertado entre eles e com margem de lucro abusiva.
Os empresários foram presos numa operação do grupo de combate ao crime organizado de Mato Grosso. Durante o dia também foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão em postos de combustíveis, distribuidoras e no Sindipetróleo, o sindicato que representa os donos de postos de gasolina.
Os empresários são acusados de combinar preços para obter lucro abusivo, o que caracteriza a formação de cartel. A investigação começou em junho do ano passado. Desde então, os donos de postos suspeitos de participar do esquema tiveram os passos monitorados e várias testemunhas foram ouvidas. Segundo o Ministério Público, os preços nas bombas eram definidos em reuniões realizadas dentro do próprio sindicato dos revendedores de derivados de petróleo.
"Tinha pessoas ligadas ao sindicato que exerciam um trabalho de fiscalização, monitoramento de preços e abordagem de eventuais dissidentes para que voltassem a praticar aqueles preços que consideramos abusivos para o mercado de Mato Grosso”, disse o promotor Célio Wilson.
As negociações foram reveladas em gravações telefônicas feitas com autorização da justiça. Num trecho, o dono de um posto combina com o gerente de outro posto e, em tese, seu competidores, o valor do litro do álcool e o dia em que o novo preço deveria entrar em vigor.
Sinval - gerente de posto 1: Pra ele colocar 1,66?
Paulo - dono de posto 2: É! Amanhã pra todo mundo já, entendeu? É porque o Sindipetróleo tá me ligando, tá meio mundo me ligando também. Se não mexer vai estourar o mercado, aí vai pra baixo, aí não tem como depois subir.
Sinval: É uma coisa do sindicato pros postos Bandeirar?
Paulo: É.
A diretora do Departamento de Proteção e Defesa da Economia do Ministério da Justiça, Ana Paulo Martinês, diz que em todo o país estão sendo investigados trezentos casos de formação de cartel, 150 são denúncias envolvendo o setor de combustíveis. “É um setor propenso à cartelização porque é um produto homogêneo, tem pouca barreira á entrada e tem sempre uma atuação dos sindicatos de forma bastante forte coordenando as partes e unificando as condutas e os preços", explica.
Em Cuiabá, o preço médio é de R$ 2,76, o terceiro maior entre as capitais do Brasil. E na maioria dos postos ligados aos empresários presos, o litro da gasolina é vendido por R$ 2,87.
Os envolvidos no esquema vão responder por crime contra a ordem econômica, formação de cartel, formação de quadrilha e podem perder a licença de funcionamento.
Fonte: Jornal da Globo