Presidente do Sindpetróleo sai rindo do Gaeco e fazendo V da vitória
quinta-feira, 24 de abril de 2008, 00h00
Todos os 12 mandados de prisão temporária já foram cumpridos pelo Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Geaco) que usou mais de 200 homens, inclusive 20 pessoas de Brasília, na “Operação Madonna“, que resultou na prisão de nove pessoas – uma se apresentou na tarde de hoje. Entre elas empresários e um advogado. Todos, segundo o Gaeco, formavam uma organização criminosa que agia diretamente na manipulação dos preços de combustíveis e derivados de petróleo, tornando-os os mais carros do Brasil. Um dos presos, o presidente do Sindipetróleo, Fernando Chaparro, saiu rindo do Gaeco e fazendo um V de vitória com os dedos da mão direita.
“O Cartel do Combustível está destruído. Levamos seis anos, mas conseguimos provas suficientes para destruir um império que parecia intransponível“. Palavras de Paulo Prado, procurador geral de Justiça de Mato Grosso. Além de Chaparro, foi preso também Nilson Roberto Teixeira, ex-homem forte do bicheiro João Arcanjo Ribeiro.
As prisões foram determinadas pelo juiz José Arimatéia Costa, da 15ª Vara Criminal de Cuiabá. Chaparro, Nilson Teixeira, o advogado Valdir Chachet Júnior, e os empresários Daniel Locatelli, Bruno Borges, Paulo Roberto Casta Passos, Marcos Roseano da Silva e Grécio Marcelino Mendonça Júnior foram acusados e indiciados em crimes de formação de cartel, formação de quadrilha, corrupção, crime contra ordem tributária e econômica e combinação de preços com margens inferior, também conhecido como “dump“.
As investigações, ainda na área cívil tiveram início em 2002, logo após a debandada de algumas empresas do ramo de petróleo, entre elas a Taxaco, que não aceitou, segundo as investigações, fazer poarte do cartel. Foi em junho de 2007, no entanto, que o Gaeco coemçou as investigações criminais, parte delas concluídas na manhã de hoje.
O cartel, segundo Gaeco, manipulava os preços dos combustíveis, para tanto, tinha a colaboração e o apoio do presidente do Sindpetróleo, Fernando Chaparro. Era lá também, segundo o promotor Célio Wilson, um dos chefes das investigações, que o cartel se reunia. “Quem ousava atrapalhar os planos era ameaçado, inclusive com truculência“, afirmou o promotor Célio Wilson.
Com 12 mandados de busca e apreensão e nove mandados de prisão temporárias, o Gaeco começou a desmanchar o cartel dos combustíveis com apoio de mais de 200 pessoas do Ministério Público Estadual, do Ministério da Justiça, da Justiça Federal, do Ministério da Fazenda, da Secretaria de Fazenda de Mato Grosso, da Secretaria de Assuntos Econômicos, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Civil através da Delegacia Fazendária e da Polícia Militar, através do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
As investigações, segundo a procuradora Eliana Maranhão, coordenadora geral do Geaco, não deixaram dúvidas sobre a participação de cada um no esquema, agora conhecido como Cartel dos Combustíveis“. O presidente do Sindipetróleo, José Fernando Chaparro, o empresário Nilson Teixeira, e o empresário Orisvaldo Jacomini, do Grupo Simarelli, preso na tarde de hoje, eram os três principais líderes da organização em Mato Grosso.
“As provas são abundantes. Temos testemunhos de pessoas lesadas. De pessoas ameaçadas, inclusive com truculência, interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça e outras tantas mais“, mencionou a promotora do Gaeco.
“Temos centenas de provas documentais e testemunhais, e ainda temos certeza que vamos encontrar mais provas ainda com as apreensões de documentos e computadores que fizemos hoje, pois as investigações, apesar de já ser longa, não vai parar por aqui, com certeza“, alertou a procuradora Eliana Maranhão.
Os empresário do ramo de petróleo se reuniam no Sindipetróleo, onde foi montado, segundo o Gaeco, um verdadeiro quertel general (QG). De lá saiam as decisão para baixar e aumentar, do dia para noite, os preços dos combustíveis. Um dos líderes era o presidente, Fernando Pacharro, mas o cabeça pensante da organização, segundo o Geaco, era o empresário Nilson Teixeira e o empresário Orisvalddo Jacomini, do Grupo Simarelli, preso na tarde de hoje.
O esquema, segundo o promotor Célio Wilson, funcionava da seguinte maneira. O dono de posto que não aceitava equacionar os preços juntos com os outros do esquema era intimado. Caso não abaixasse a cabeça, era ameaçado.
Além de ameaçado, o comando do cartel determinava que outro posto trouxesse para bem mais baixos o preço em relação ao “rebelde“, que se via obrigado, mesmo sem querer a entrar no esquema. Para juntar provas, o Gaeco usou de escutas telefônicas com gravações de conversas entre a quadrilha, filmagens e fotos das reuniões.
“O preço do combustível em Mato Grosso era o mais alto do país por causa da carterização. Eles manipulavam os preços a bel prazer, mas jogavam a culpa para cima dos impostos cobrados pelo governo quando eram questionados, inclusive pelos consumidores. Isso é crime, e por isso nós tivemos todo esse trabalho durante as investigações, porque é muito difícil se provar e comprovar o crime de cartel“, afirmou o promotor Célio Wilson.
Em boa parte das gravações, das filmagens e das fotos, sempre, segundo o Gaeco, aparece a figura do empresário Nilson Teixeira. Em uma das conversas, num pequeno trecho que a reportagem teve acesso, uma pessoa fala de Nilson assim: “O cabeça branca é o cabeça pensante. É o que pensa por nós todos“.
“Como que eu estou preso. Não pode. Ninguém me avisou nada. Porque ninguém me avisou nada?“. Questionou um dos oito acusados na manhã de hoje ao receber voz de prisão de um policial que integrava a “Operação Madona“ - uma referência à irreverência e as constantes mudanças da cantora Madona, mesmo -, desencadeada pelo Gaeco.
Ao deixar a sede do Gaeco na noite de hoje, o presidente do Sindpretróleo, José Fernando Chaparro ironizou e debochou das investigações. Ele simplesmente saiu rindo e ainda fez um V como sinal de vitória com os dedos da mão direita.
Foram apreendidas mais de uma tonelada de material em escritórios, postos de combustíveis e em distribuidoras de petróleo.
São tantos os materiais apreendidos, que o Geaco teve que pedir emprestado o auditório do Ministério Público, ao lado do local para onde os presos foram elevados provisoriamente na manhã de hoje para estocar as apreensões.
Depois de mais de 10 hoje de interrogatório, todos os nove presos foram transferidos da sede do Gaeco no Centro Político Administrativo (CPA), para a Gerência Estadual de Polinter.
Fonte: José Ribamar Trindade
Redação 24HorasNews