Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

GAZETA

Terrenos baldios prejudicam o combate ao Aedes Aegypti

terça-feira, 08 de dezembro de 2015, 10h22

DANTIELLE VENTURINI
DA REDAÇÃO

A confirmação do Ministério da Saúde sobre a relação entre a infecção de mulheres grávidas pelo Zika Vírus e o crescimento do número de casos de microcefalia gerou pânico na população e intensificou o alerta ao combate ao mosquito Aedes Aegypti transmissor da Dengue, Chikungunya e também do Zika Vírus. Com mais esse vírus, o desafio agora para o poder público no Estado e também na capital é colocar em execução um plano efetivo de combate ao mosquito, que deve contar com a participação de todas as secretárias do estado e do município, além do exército e da Justiça.

Mesmo com o plano de combate, o maior desafio está em adentrar residências que estão fechadas e terrenos baldios na capital. Cuiabá tem hoje mais de 40 mil terrenos baldios e a maioria deles está tomada por mato e lixo, sendo locais propícios para o mosquito. O problema é que na maioria dos casos, os fiscais da Secretaria de Ordem Pública de Cuiabá não consegue se quer encontrar o dono do terreno para notificá-lo. Nesse ano, por exemplo, foram feitas apenas 614 notificações de limpeza, construção de muros e calçadas em terrenos baldios.

De acordo com o secretário-adjunto de Ordem Pública, Noelson Carlos Dias, uma força tarefa junto com a Vigilância Sanitária, o Centro de Controles de Zoonozes e a secretaria de Saúde está sendo estruturada e um relatório elaborado com as informações sobre esses terrenos e também residências fechadas, ou onde os proprietários não permitem a entrada dos agentes de endemias, para pedir à Justiça uma autorização para a entrada das equipes nos locais. “Com essa autorização judicial, poderemos entrar nos terrenos e também auxiliar os agentes de endemias nas casas que estão fechadas ou que os moradores não permitem a entrada”.

Conforme ele, a intenção é fazer um trabalho preventivo para que o município não decrete estado de epidemia. A Prefeitura de Cuiabá está fechando o plano de combate ao mosquito, que deve ser composto por uma série de ações, entre ela está a capacitação dos agentes e fiscais que vão atuar no combate, além de mutirões pontuais que serão feitos em bairros mais críticos que apresentarão um número maior de ocorrências da dengue, como Pedra 90 (215 casos) onde o mutirão será nos dias 14 e 15 de dezembro, Dom Aquino (66) nos dias 21 e 22, e Santa Isabel (150), Cidade Alta (70), e Dr. Fábio (55) em janeiro.

Esses mutirões envolverão várias secretarias do Estado e do município, e devem contar ainda com a participação voluntária do Exército e da Justiça. O Ministério Público do Estado de Mato Grosso (MPE-MT) também está em alerta quanto à transmissão das doenças e já recomendou às Promotorias de Justiça do interior e da Capital que acompanhem as medidas efetivas adotadas pelo Poder Público para combater o mosquito. A iniciativa partiu da Procuradoria Especializada em Defesa da Cidadania e do Consumidor.

BAIRROS - No bairro Santa Isabel, que está entre os bairros com os maiores registros de casos da dengue na capital, um terreno na rua Projetada 2, que está murado, virou depósito de lixo, e ninguém consegue entrar para limpar a não ser o dono. Segundo a moradora Joanice Patrícia Silva, 37, o dono sempre aparece para limpar o terreno uma vez no mês, mas enquanto isso, os moradores continuam expostos aos riscos. “Eu não sei o que pode ser feito, pois eu entendo que ele não tem como vir mais de uma vez, mas até que ele vem a gente fica aí sujeito às doenças”.

Leticia Maria Paixão, 27, também moradora na rua, está grávida de oito meses e afirma que o medo é constante, não só pelo terreno, mas também pelo lixo acumulado em todo a região. “Já tinha medo por causa da dengue, agora com o Zika o medo é maior”. Segundo ela, a situação no local é sempre a mesma, uma vez que grande parte da população do bairro vai até o local, onde existe um pequeno córrego, para descartar o lixo. “Se fosse só o terreno, mas o problema é na rua toda, é lixo para todo lado”.

Arthur Alves Pereira, 74, afirma que a indignação maior é a de que a população não faz a sua parte. “Não adianta, a prefeitura vem e limpa, no dia seguinte tem lixo novamente”. A situação não é muito diferente no bairro Altos da Boa Vista, onde moradores da rua 16 de Dezembro estão preocupados com a quantidade de lixo que foi jogado em um terreno baldio da rua. Entre os objetos deixados no local, tem até geladeira, fogão e carrinho de bebê. Segundo moradores, o terreno vive abandonado e cheio de lixo, e trabalhadores da prefeitura é que realizam a limpeza esporádica do local.

“Não sabemos se a prefeitura não localiza o dona para cobrar, ou multar. Só sabemos a prefeitura é quem limpa, mas sempre depois de várias ligações e muitas reclamações nossa”, disse uma moradora da rua que não quis se identificar. Ela afirmou ainda reconhecer que a população é a culpada pelo lixo no local. “A gente não sabe quem joga. Não é o pessoal aqui da rua, pois nós sabemos dos riscos que corremos com esse lixo aqui. É gente que vem durante a noite e descarta”.

A coordenadora do Centro de Zoonoses, Alessandra Carvalho, explica que o alerta é geral, e a população também precisa fazer a sua parte no combate. Ao todo, 275 agentes de combate a endemias estão trabalhando durante toda a semana, orientando a população e também combatendo as larvas do mosquito. “Precisamos descartar objetos que possam conter água parada como pneus, latas, embalagens plásticas, caixas d’água destampadas, vasos de plantas e outros”.

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