DIÁRIO DE CUIABÁ
Guizardi explica esquema na Seduc
sexta-feira, 02 de dezembro de 2016, 10h53
Da Reportagem
Em depoimento ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado), no último dia 16 de novembro, o empresário Giovani Guizardi explicou como funcionava a divisão de propinas, no esquema de direcionamento de licitações na Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Segundo Guizardi, 25% do valor era entregue ao secretário Permínio Pinto, 25% ao empresário Alan Malouf, 25% ao deputado estadual Guilherme Maluf(PSDB), presidente da Assembleia Legislativa, 10% ficava com Guizardi - que seria o responsável por organizar o esquema -, os servidores da Seduc Fábio Frigeri e Wander Luiz dos Reis ficavam com 5% cada um e os 5% restantes eram destinados ao ‘custeio’ do esquema, como o aluguel da sala comercial no Edifício Avant Garden, no bairro Santa Rosa.
Aos promotores e delegados, Guizardi explicou em detalhes como metade do dinheiro era deixado no banheiro da sala do empresário Alan Malouf, na sede do Buffet Leila Malouf, na estrada da Guia, em Cuiabá. Giovani Guizardi relatou que tinha conhecimento de que do dinheiro que deixava para Alan Malouf metade ficava com o empresário e a outra metade era destinada ao deputado estadual Guilherme Maluf. Inclusive explicando que fazia a divisão do dinheiro em dois pacotes, com metade para Alan e a outra metade para Guilherme.
“Em determinada oportunidade, em junho ou julho de 2015, num sábado pela manhã, estive no buffet para entregar uma quantia que girava entre R$ 120 mil e R$ 160 mil. Após conversar com Alan, a pedido dele, deixei uma caixa arquivo de papelão no banheiro. Nesta ocasião ele pediu que eu retirasse a parte dele, deixando no banheiro toda a quantia de dinheiro devidamente separada em duas partes”, disse na delação ao explicar ter visto Guilherme Maluf chegar ao buffet, em dois veículos Corolla, para receber a sua parte.
De acordo com a delação, a organização criminosa foi montada em 2015. "Não fui eu quem criou a referida organização, mas me vi envolvido a participar através da pessoa de Alan Malouf", disse em trecho de seu depoimento, explicando que conhece Alan Malouf desde a infância e que é casado com uma prima de Alan, a empresária Jamille Grunwald Guizardi.
Guizardi contou que quando Alan Malouf o inseriu no esquema já existia uma organização criminosa que atuava na Seduc, que contava com a participação do então secretário Permínio Pinto, do ex-servidor Fábio Frigeri e dos empreiteiros Leonardo Guimarães e Ricardo Sguarezi. "No final do ano de 2014, Alan Malouf mencionou que investiu a quantia de R$ 10 milhões na campanha do atual governador Pedro Taques, valor este não-declarado, tendo dito também que teria que recuperar esse valor investido junto ao Estado", disse no depoimento.
Guizardi contou que procurou Alan Malouf em março de 2015, ocasião em que pediu que sua empresa pudesse trabalhar em obras da Seduc, já que não tinha nenhuma obra naquela secretaria. Após esta conversa, Alan Malouf providenciou um encontro de Guizardi com o secretário Permínio Pinto, no Buffet Leila Malouf. Durante o encontro, Permínio teria dito a Guizardi que os projetos das obras ainda estavam em fase de elaboração e o que ele precisava era de manutenção nas escolas.
Após a reunião, Guizardi procurou o então superintendente de estrutura escolar da Seduc, Wander Luiz, para conversar sobre as obras. Da conversa com Wander, Guizardi viu que o esquema na secretaria já funcionava com o secretário Permínio Pinto e o ex-servidor Fábio Frigeri recebendo dinheiro.
“O próprio Wander citou que as empresas Aroeira Construtora Ltda. e Relumat, ambas de propriedade de Ricardo Sguarezi, bem como a empresa JER, de propriedade de Leonardo Guimarães Rodrigues, já estavam ‘operando’ com o secretário Permínio Pinto. Eu entendi que havia pagamentos de vantagens indevidas, propina. Naquele mesmo dia, solicitei a Wander que verificasse ‘como estava sendo essa operação”.
Dias após a reunião, Guizardi disse que se encontrou novamente com Wander Luiz - em março ou abril de 2015 - para saber como funcionava o esquema. “Wander afirmou que essa ‘operação’ havia ocorrido da seguinte forma: solicitaram, de forma antecipada, 5% de propina do valor total, em relação a um dos contratos de prestação de serviços da empresa Aroeira e da empresa JER, sendo que essas obras sequer tinham sido executadas na sua totalidade”.
Apesar de Wander não ter mencionado quem havia pedido o pagamento de propina antecipada, Guizardi entendeu que se tratava do então secretário, "pois o pessoal da Aroeira tinha acesso direto ao Permínio". “Fábio Frigeri também me relatou que o Ricardo Sguarezi pagava um percentual de 15% de propina sobre o valor de contratos de locação de salas de aula com a empresa Relumat, sendo que o valor girava em torno de R$ 27 mil a R$ 30 mil de propina por mês e, segundo Fábio, eram entregues diretamente a ele ou ao Permínio”, disse no depoimento.
Em agosto do ano passado, já com o esquema em funcionamento, Guizardi disse que recebeu em seu escritório o empresário Ricardo Sguarezi e seu irmão, que lhe entregaram R$ 29 mil em dinheiro referente às propinas. “Não me recordo ao certo, mas acredito que recebi este valor porque, na época, Permínio estaria viajando; diante dessa informação, reuni com Alan Malouf, dizendo ao mesmo que somente ele (Alan Malouf) não estaria recebendo, visto que teve informação de que outros patrocinadores estariam recebendo através do então secretário Permínio Pinto, ocasião em que mencionei toda a conversa que travei com Wander”, declarou em seu depoimento.
Em razão disso, Guizardi sugeriu a Alan Malouf uma forma de ampliar a maneira de receber as propinas de empresas que tinham contrato com a Seduc. “Mencionei a Alan Malouf que esse 'esquema' já vinha sendo realizado pelo proprietário da Aroeira, senhor Ricardo Sguarezi, o qual operou dessa maneira até o mês de novembro do ano de 2014, fato esse mencionado pelo próprio Wander. Inicialmente Alan Malouf refutou essa ideia, por entender que 'não cheirava bem'.
Passados mais alguns dias, procurei novamente Alan Malouf cobrando dele uma decisão para ampliar o esquema de arrecadação de vantagem indevida e então passei a relatar para Alan Malouf como funcionava o esquema anterior e como deveria funcionar o esquema proposto”.
Na delação, Guizardi disse que além do deputado Guilherme Maluf o deputado federal Nilson Leitão, ambos do PSDB, integravam o “núcleo de agentes políticos” da organização criminosa montada na Seduc. Segundo ele, Leitão foi o responsável pela indicação do ex-secretário Permínio Pinto para comandar a Seduc e teria indicado também o ex-servidor Fábio Frigeri. Já Maluf foi o responsável pelas indicações dos ex-servidores Wander Luiz dos Reis e Moises Dias da Silva.
OUTRO LADO – O empresário Alan Malouf, através de nota, negou participar de organização criminosa. Disse que sua defesa vai aguardar ter acesso aos autos para se manifestar e finalizou afirmando estar “à disposição das autoridades competentes para prestar as informações necessárias, acreditando, sempre, na Justiça”.
O presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Maluf, também através de nota, afirmou não ter participado de nenhuma irregularidade cometida na Seduc. Disse que tomará as providências cabíveis assim que a sua assessoria jurídica tiver acesso aos autos do processo e teor das denúncias. “Afirma que confia na Justiça e que ficará comprovado de que não teve participação em qualquer irregularidade”, finaliza a nota.
Apesar do empresário não ter acusado o governador Pedro Taques, o Gabinete de Comunicação do Estado também emitiu uma nota afirmando que o governador Pedro Taques tomou as medidas que lhe competiam - quando da deflagração da operação Rêmora, exonerando ou afastando todos os servidores públicos denunciados, inclusive o ex-secretário de Educação.
“Tal medida, por si só, demonstra a firmeza do governador e do governo no combate à corrupção e na apuração de qualquer denúncia que envolva atos de improbidade no âmbito do governo do estado de Mato Grosso. Pedro Taques lamenta, ainda, que pessoas do seu convívio pessoal, político ou partidário, possam estar envolvidas em malfeitos, e reitera seu entendimento de que ninguém está acima da lei e apoia investigação para que, ao final, comprovados os fatos denunciados, todos os envolvidos sejam punidos com o rigor da lei”, afirma a nota.