GAZETA
Conflitos são denunciados à CIDH
quarta-feira, 24 de maio de 2017, 12h54
KEKA WERNECK
DA REDAÇÃO
Um mês após a chacina em Colniza, motivada por disputa agrária, em que 9 homens foram executados a tiros e golpes de facões, o Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso entrega hoje (24), em Buenos Aires, capital da Argentina, um documento à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), denunciando o constante derrame de sangue no campo em Mato Grosso, sem que autoridades locais investiguem e punam devidamente os responsáveis.
Denunciam também a falta de proteção aos ameaçados de morte, situação de pelo menos 229 homens e mulheres, incluindo crianças, por não haver um programa estadual nesse sentido. O documento será entregue pela professora Marilza Schuina, em audiência pública. Ela fará o convite aos integrantes da comissão para virem ao Brasil, mais especificamente a Mato Grosso, para conhecer de perto “os fatos da vida da população brasileira morta e ameaçada de morte”.
O documento ressalta que as vítimas preferenciais são trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Atualmente, 7 membros da comissão viajam pelos países para ouvir sobre situações de injustiça desprezadas pelos poderes locais. A professora Marilza, que terá direito a uma breve saudação, pretende ressaltar que “o Brasil passa por profundo processo de retrocesso de ameaça à vida e violação aos direitos humanos e sociais com o aumento da violência no campo e na cidade, a exemplo do que ocorreu em Colniza”.
Segundo ela, o cenário é histórico e os governos se omitem. Para o sociólogo Inácio Werner, do Fórum de Direitos Humanos e da Terra MT, esta é uma tentativa de ecoar o problema em nível nacional e internacional. “Aqui não fazem nada e as pessoas choram, sofrem, vivem com medo e muitas morrem nesses conflitos”, lamenta.
De 1985 até 2016, 136 pessoas morreram em Mato Grosso em conflitos por terra. “Isso sem que nenhum mandante tenha sido preso”, revolta-se. Esta semana, mais uma vez cortaram as cercas em 6 lotes na Gleba Gama, em Nova Guarita (697 km ao norte de Cuiabá). Na Gleba Gama, estão em disputa 409 hectares.
Em 10 anos,12 famílias pré-assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), são hostilizadas por proprietários da fazenda ao lado, a Baixa Verde, de pecuária. Já registraram 396 boletins de ocorrência. Mas só 2 inquéritos foram abertos.