DIÁRIO DE CUIABÁ
Hoje é dia de ajudar a limpar o Cuiabá
segunda-feira, 26 de junho de 2017, 10h40
EDUARDO GOMES
Da Reportagem
Poluído, assoreado e com boa parte da mata ciliar derrubada. Essa é a imagem do rio Cuiabá tanto na área do aglomerado urbano da capital mato-grossense quanto ao longo de seu curso, incluindo a região pantaneira. Para minimizar parte dessa agressão, um informal comitê gestor do grupo Amigos do Rio Cuiabá promove hoje a segunda coleta de lixo nas margens e leito no trecho em que o rio divide a cidade à qual empresta o nome e Várzea Grande. A primeira ação desse grupo aconteceu no ano passado.
A coleta acontecerá entre 7 e 12 horas, na área urbana, com grupos de voluntários nas duas margens e uma equipe embarcada que atuará na remoção no leito do rio. O ponto de encontro dos participantes será a Praça Luiz de Albuquerque, mais conhecida como Praça do Porto, no bairro Porto, em Cuiabá. Ônibus transportarão gratuitamente os participantes até o ponto de atuação. Os barcos sairão das proximidades da Ponte Júlio Müller.
O trabalho de limpeza do rio terá a participação do grupo Amigos do Rio Cuiabá, Marinha, Exército, órgãos do governo estadual, Assembleia Legislativa, prefeituras e câmaras municipais de Cuiabá e Várzea Grande, Juizado Volante Ambiental, Ministério Público Estadual, organizações não-governamentais, cooperativa de catadores, empresas de reciclagem e que atuam em outras áreas, estudantes e ambientalistas.
O deputado estadual Wancley Carvalho (PV) é um dos líderes da iniciativa. Segundo ele, além do ato em si, integrantes da organização proferirão palestras para conscientização ambiental dos participantes, que poderão se tornar multiplicadores junto à população. O deputado cita que é preciso difundir os direitos garantidos ao consumidor pelas regras da logística reversa.
Essa logística nada mais é do que a obrigação legal que o vendedor de eletroeletrônico, móveis e outros produtos tem em recolher junto ao seu cliente o bem por ele comprado, quando esse se torna peça de descarte e entrega-lo às empresas de reciclagem ou cooperativas de catadores.
Se posta em prática essa logística haveria sensível redução no descarte de sofás, geladeiras e televisores nos córregos afluentes urbanos do rio Cuiabá. Wancley é radicado em Pontes e Lacerda – na faixa de fronteira -, banhada pelo amazônico rio Guaporé. Segundo ele, há 16 anos naquela cidade criou-se um grupo de amigos do Guaporé, para promover limpeza idêntica à que se pretende hoje no rio Cuiabá. Na primeira ação – acrescenta – foram recolhidos seis caminhões de lixo.
A cada ano o recolhimento diminuiu em razão da positiva resposta ambiental da população. “Na última coleta o entulho retirado não deu meia carga de caminhão”, comemora o deputado. A organização da ação acredita que conseguirá retirar grande parte do lixo no rio e em suas margens, de onde são arrastados para seu leito pelas chuvas. Wancley quer ir além e cita que Cuiabá e Várzea Grande, juntas têm uma população superior a 850 mil habitantes.
As duas cidades lançam mais de 70% de seus esgotos sem tratamento no rio, que é importante na formação do Pantanal. O deputado também deseja se aprofundar na questão da vazão do rio Manso – principal afluente do Cuiabá acima da capital – na barragem do Aproveitamento Múltiplo de Manso (APM Manso) nos municípios de Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia.
PANTANAL - No período das enchentes, de dezembro a maio, o Cuiabá arrasta boa parte do lixo para o Pantanal. No ciclo das águas baixas, de junho a novembro, o rio agoniza e a agressão com o lixo e o esgoto fica mais visível, mas nessa época o volume a vazão deveria ser maior, tanto para minimizar o efeito do esgoto sem tratamento quanto para assegurar a navegação de embarcações leves.
A vazão do rio no ciclo das águas baixas teria que ser assegurada por Furnas Centrais Elétricas e seus parceiros no APM Manso, conforme entendimento quando da inauguração daquela barragem, em 2000. À época Furnas assumiu três compromissos como compensação pelo impacto ambiental da obra: assegurar a irrigação de 50 mil hectares por gravidade em Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Cuiabá e Barão de Melgaço; garantir vazão suficiente para a navegação de embarcações leves no período da estiagem e controla-la nas águas altas, para impedir enchentes em Cuiabá e Várzea Grande; e fomentar o turismo.
Os compromissos de Furnas continuam em aberto, à exceção da exploração turística do APM Manso, que é feita pela iniciativa privada. A irrigação corresponderia a uma área equivalente aos 42.700 hectares inundados em Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia. A vazão também minimizaria o impacto do esgoto sem tratamento no volume pequeno de água na época da estiagem.
À época dos compromissos Furnas enfrentava pressão de movimentos ambientalistas e de setores políticos mato-grossenses. A obra da barragem era polêmica. Sua construção começou em 1988, mas pouco depois foi suspensa no auge do desentendimento político do governador de então, Carlos Bezerra, com o presidente José Sarney. Transcorridos 10 anos os trabalhos foram retomados, graças ao fim do impasse político e aos parceiros que Furnas buscou na iniciativa privada.
As construtoras Odebrecht, Pesa e Servix bancaram 30% da obra por meio do consórcio Produtores Energéticos de Manso (PROMAN), por elas criado e liderado por Furnas. Em 8 de abril de 2000, quando a primeira turbina foi acionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Dante de Oliveira, o empreendimento deu seu primeiro passo para alcançar sua capacidade instalada para gerar 212 MW.
Paralelamente a isso ressurgiu a pressão sobre a hidrelétrica, mas daquela feita por parte do Movimento dos Atingidos por Barragem, MST, pastorais da igreja católica e partidos socialistas: acuada pelo fogaréu Furnas assumiu os três compromissos sendo um deles de interesse direto do rio Cuiabá.