Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

GAZETA

Projeto de reinserção social muda a cidade

domingo, 02 de julho de 2017, 16h10

JANÃ PINHEIRO
DA REDAÇÃO - MP/MT

Para chegar ao município de Colniza, localizado a noroeste do Estado de Mato Grosso, é preciso percorrer, saindo de Cuiabá, 1.114 km, sendo 270 km de estrada de chão, pontes improvisadas, poeira ou dezenas de atoleiros, na época da chuva. Na cidade, a pavimentação é restrita a duas ou três avenidas na área central, o restante das ruas é de terra.

Com a intenção de mudar a “cara” da cidade, um projeto de reinserção social tem utilizado a mão de obra de recuperandos e adolescentes em conflito com a lei para fabricar e instalar bloquetes nas ruas do município. O “Projeto Urbaniza Colniza - Fábrica de Bloquetes” é realizado pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso, em parceria com a Defensoria Pública, Poder Judiciário, Conselho da Comunidade e Conselho Tutelar.

A prática, além de diminuir demandas judiciais, gera efetividade social, uma vez que a medida socioeducativa de prestação de serviço à comunidade junto à fábrica normalmente é aplicada pouco tempo após a ocorrência de oitiva informal, o que gera resultados positivos. Os bloquetes são feitos em um barracão da Secretaria Municipal de Obras. Todos que ali chegaram não sabiam fazer este tipo de trabalho, mas como a fabricação é considerada simples, bastou algumas aulas práticas para que o grupo aprendesse a produzir.

Por dia, recuperandos e adolescentes fazem 400 blocos. Depois de 24 horas secando os bloquetes já estão prontos para serem instalados, tarefa que também é realizada pelos recuperandos. Gilmar Chaves da Fonseca há oito meses trabalha nas ruas da cidade instalando os blocos, das 7h às 11h e das 13h às 17h. O sol quente e o serviço pesado não são problema para ele, que durante três anos e meio passou exclusivamente atrás das grades, cumprindo pena por aliciamento de menores.

A rotina e as perspectivas de vida de Gilmar mudaram quando ele teve a chance de participar do projeto. “Nossa, tem muita diferença estar aqui fora. Fiquei mais de três anos fechado e foi muito sofrido. Hoje valorizo a liberdade. Me esforcei para ter esta chance de participar do projeto. Tudo o que o diretor e o promotor falam pra fazer, eu faço. Agora estamos em sete aqui e fazemos questão de cumprir tudo o que eles passam, para não prejudicar eles e nem nós”.

Gilmar diz que a oportunidade de trabalhar lhe deu uma nova chance de voltar para a sociedade. “Cada dia que fico aqui é mais um passo que dou para cumprir a pena e nunca mais voltar para aquele lugar. Agora eu tenho uma profissão, realmente aprendi alguma coisa, porque a cadeia não conserta ninguém, ela só arrebenta”.

Preso usou o trabalho como oportunidade

DA REDAÇÃO - MP/MT

Anderson da Silva Souza decidiu mudar de vida quando recebeu o segundo mandado de prisão, por tráfico de drogas. “Eu já tinha sido preso e sabia da realidade. Quando recebi o mandado eu não tive dúvidas, procurei o promotor e falei que queria uma chance. Pedi que ele me desse a oportunidade de trabalhar e hoje, graças a Deus, eu tenho um emprego. É muito bom ver que o nosso trabalho está deixando a cidade mais bonita para as pessoas que moram aqui.

Antigamente eu vivia na ‘correria’, só perturbava a população de Colniza, hoje o meu trabalho ajuda a sociedade. Eu ganhei esta oportunidade e vejo que posso mudar, aliás, todos nós podemos mudar, basta querer”. Ele garante que retomou sua vida e que viver fora da cadeia não tem preço. “Trabalhando aqui na eu posso ficar perto da minha família, tenho um serviço digno e não preciso mais ter vergonha de falar o que eu estou fazendo.

Antigamente eu não podia contar o que eu fazia porque eu vivia escondido, andava a noite para não ser reconhecido e preso. Hoje saio de dia, de peito aberto e cabeça erguida. Algumas pessoas me criticam, mas, com as críticas eu reconstruo a minha vida. Os outros falam, mas é porque estão vendo eu fazer alguma coisa, antes ninguém falava de mim, só a Polícia. O dinheiro fácil não compensa.

Quero seguir outro caminho”, garante. Social Para a psicóloga Marceli Estela de Lima, que é voluntária na Promotoria de Justiça de Colniza e acompanha o trabalho dos adolescentes, este tipo de iniciativa mostra, principalmente para os jovens, que é possível trabalhar e ganhar dinheiro de forma honesta. “Infelizmente a maioria destes jovens cresce no meio do crime, eles, então, acabam achando que isso é algo comum. A maioria já teve alguma experiência com drogas. É um projeto de relevância social, que traz um novo olhar para estes adolescentes”. (JP)

Plano está sendo concretizado agora

DA REDAÇÃO - MP/MT

O promotor de Justiça de Colniza William Oguido Ogama explica que o projeto já existia no papel, mas que precisava ser executado. “Já havia uma ideia formulada, porém, faltava ‘vontade política’ para que o projeto pudesse ser viabilizado. Conseguimos sair da teoria para a prática porque arregaçamos as mangas e fomos atrás de parceiros”, ressalta.

Conforme ele, o projeto tem dois focos principais. Primeiro, a reinserção dos recuperandos na sociedade, por meio da remissão de pena. Segundo, a mobilidade urbana, revertendo o erro dos recuperandos ou dos adolescentes em conflito com a lei, à sociedade. “Colniza está carente de vias asfaltadas, por isso a ideia dos bloquetes, eles proporcionam este impacto na mobilidade urbana.

Além disso, quando os recuperandos trabalham o índice de reincidência reduz drasticamente”, explica o promotor. Segundo o diretor da cadeia Pública de Colniza, Anderson Nunes de Moreira, para participar do projeto os presos passam por uma triagem. Quem tem bom comportamento e não oferece nenhum risco à sociedade é escolhido.

“Essas pessoas erraram e estão pagando pelo que fizeram, elas, porém, não são voltadas para o crime. Este é o perfil que nós analisamos. A sociedade de Colniza e nós também, vemos este projeto com bons olhos, porque, de alguma forma, eles estão recompensando a sociedade pelos prejuízos causados”.

O secretário adjunto de Obras de Colniza, Joaquim Silas, explica que o projeto foi colocado em prática há três meses e o resultado já pode ser visto nas ruas da cidade. “Se não fosse o trabalho dos recuperandos não teríamos recursos financeiros para pavimentar as ruas. A cidade está ficando bonita, eles estão ocupando a mente e, de certa forma, pagando pelo que fizeram”. (JP)

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