GAZETA
Silval deu ordem para desvio
quinta-feira, 20 de julho de 2017, 10h09
GLÁUCIO NOGUEIRA E CELLY SILVA
DA REDAÇÃO
O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) confirmou ter dado a ordem para que o processo de desapropriação de uma área no Manso fosse concluído. O procedimento, segundo o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), foi fraudulento e resultou em um desvio de R$ 7 milhões aos cofres públicos. Em depoimento prestado à juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Rosane Santos Arruda, nesta quarta-feira (19), o político admitiu que ficou com R$ 1,5 milhão do que foi desviado, valor utilizado na quitação de uma dívida.
Silval manteve a postura de confirmar os fatos denunciados e, conforme as palavras de seu advogado, Délio Lins e Silva Júnior, “limpar os excessos”. Entre outras coisas, o ex-governador contou, por exemplo, que só soube que o “retorno” pago pelo negócio foi de R$ 3,5 milhões após o ex-secretário Pedro Nadaf ter revelado o fato, quando ambos estavam presos no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), e negou que outros secretários soubessem do que se tratava o processo.
Uma pergunta formulada pela juíza, quase ao final do depoimento de cerca de 40 minutos chamou a atenção. Ela questionou o político se algum dinheiro desviado neste caso foi repasado a algum conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em resposta, o peemedebista preferiu não comentar. ‘Prefiro não entrar nessa questão, doutora’. Silval contou que havia incumbido Nadaf de quitar dívidas políticas que ele mantinha.
Então, foi procurado pelo ex-chefe da Casa Civil, com o indicativo de que havia um processo de desapropriação que poderia render ao grupo uma taxa de retorno. Em conversa com Nadaf e com o procurador aposentado Francisco de Andrade Lima Filho, soube que a desapropriação era viável. “Eles me explicaram o seguinte: governador está tudo ok essa parte legal, já está tramitando há mais de anos dentro do governo, nas esferas onde é competência de cada um, é uma área que já tem um estudo, é uma área na cabeceira das nascentes do rio Cuiabá”.
Segundo Silval, os trâmites foram conduzidos por Nadaf. ‘Pedro Nadaf que conduziu todo esse processo e o Chico Lima entra porque o Pedro Nadaf falou que [Filinto Correa] era parente dele. Ele ia acertar como um favor para o parente”. O processo foi transferido para o Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), à época sob o comando de Afonso Dalberto, após uma conversa mantida por Nadaf com ele.
Para viabilizar os pagamentos, o ex-governador explicou que teve que conversar com os ex-secretários Marcel de Cursi e Arnaldo Alves, que cuidavam das pastas de Fazenda e Planejamento, mas que eles não sabiam do que se tratava. Silval afirma que somente no Centro de Custodia de Cuiabá (CCC), ele soube que houve um ‘retorno’, ou seja, desvio de recurso público maior do que o combinado, maior do que R$ 1 milhão que ele precisava para quitar dívidas, teria sido de R$ 3,5 milhões.
Por Pedro Nadaf, o ex-governador soube que Chico Lima, Afonso Daberto Pedro Nadaf também foram beneficiados. Além disso, o empresário Alan Malouf, dono do Buffet Leila Malouf, também recebeu a título de uma dívida da festa de posse. O ex-governador negou, ainda, que o Estado tenha comprado uma área que já lhe pertencia, como afirma o Gaeco.“A informação que tem é que não é a mesma área A discussão é das matriculas 1063 e 1062. Essa discussão que eu saiba já está definida e pacificada até no Ministério Público”, destacou.