Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

GAZETA

MPE denuncia 6 militares e pede a prisão de Ledur

quinta-feira, 20 de julho de 2017, 10h13

DANTIELLE VENTURINI
DA REDAÇÃO

Ministério Público Estadual denunciou a tenente do Corpo de Bombeiros Izadora Ledur de Souza Dechamps por crime de tortura que resultou na morte do aluno Rodrigo Patrício Lima Claro, 21, após treinamento aquático na Lagoa Trevisan e pediu sua prisão preventiva destacando o perfil perverso da militar. Além dela, outros 5 militares foram denunciados pelo mesmo crime, entre eles o tenente-coronel BM Marcelo Augusto Reveles, comandante do 1º Batalhão da Capital.

Na denúncia, o MPE destaca os momentos de terror vivenciado por Claro, que foi submetido a intenso sofrimento físico e mental e que mesmo agonizando e pedindo por socorro, sofreu incontáveis sessões de afogamento por parte da tenente. No pedido de prisão da tenente, o promotor Sérgio Silva da Costa, da 24ª Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá, destaca a necessidade da segregação para que seja garantida a segurança da sociedade e das testemunhas até a conclusão da ação penal.

Diante do crime de tortura, o MPE destacou ainda a gravidade da “omissão” de socorro dos outros instrutores e monitores presentes no local e também denunciados tenente Thales Emmanuel Pereira, sargento Enenas Xavier, sargento Diones Sirqueira e o cabo Francisco Barros, e pediu a perda dos cargos públicos de bombeiros militares e a indenização e reparações devidas à família.

Na denúncia, o promotor lembrou que em diversas oportunidades os denunciados puderam intervir em favor Rodrigo, e que “por escolha” não o fizeram. Segundo o promotor, os bombeiros deixaram de cumprir o mínimo exigido para suas funções, ou seja, de garantir a segurança e a saúde de todos os alunos.

“Os denunciados ouviram os pedidos de clemência de Rodrigo, arremessaram e tomaram a boia de flutuação do mesmo, passaram ao lado da vítima no momento de sua aflição, além de forçá-lo a retornar pelo mesmo trajeto, cientes de que ele não tinha condições para tanto e sequer quetionaram o que estava ocorrendo, deixando-o a própria sorte e totalmente submisso às barbáries cometidas pela denunciada Izadora”.

Ele lembrou ainda que não foi disponibilizada nenhuma Unidade de Resgate (UR) para o treinamento. Na denúncia consta depoimentos dos alunos da mesma turma de Rodrigo, que afirmaram que a tenente humilhava o pelotão chamando-os de “lixo, burros”, e que mesmo diante da pouca habilidade de Rodrigo com água, ela submeteu o mesmo a uma “perseguição desproporcional” e que havia garantido à vítima que “lá na Lagoa não tinha bordas” e que “os alunos que não sabiam nadar iriam sofrer num é Claro?”.

O promotor destaca que os depoimentos dos 4 colegas que auxiliaram a vítima durante a travessia “são a voz de Rodrigo” já ele não pode se manifestar por causa da morte. Nos depoimentos, os então alunos deixam claro a perseguição de Ledur contra Rodrigo e da situação de desespero vivida pela vítima. Conforme os colegas de curso, por várias vezes quando a tenente aplicava os “caldos”, eles mergulhavam junto segurando-o pelas axilas para tentar mantê-lo emerso.

Diante da sessão de afogamento, o promotor destaca ainda que a atitude de omissão tomada pelo sargento Enenas Xavier, também denunciado, que percebendo o desgaste e a agonia sofrida pela vítima chegou a arremessar uma boia ecológica a Rodrigo, porém poucos metros à frente, a tenente exigiu a retirada da boia que, naquele momento, era a única ferramenta que mantinha Rodrigo emerso, “sendo tal ordem manifestamente ilegal cumprida prontamente pelo Sargento e sem qualquer objeção de sua parte, colocando a vítima novamente em situação de risco, dada as condições de desgaste em que se encontrava”.

Segundo os colegas, após os incontáveis “caldos” e com estado de total insuficiência física e mental, ao chegarem do outro lado da lagoa, Rodrigo começou a implorar dizendo “que não aguentava mais e que estava sentindo muita dor de cabeça e que estava desistindo e que o deixassem parar [...]”, mas ele foi impedido por Ledur e também pelo comandante Reveles, que, “em alto e bom tom”, exigiram o retorno imediato dele ao ponto inicial da prova, sem lhe dar chance de algum descanso ou pausa, e se quer levaram em consideração os pedidos de “clemência e de desistência” da vítima.

Nesse momento, os colegas relatam que Rodrigo estava ofegante, desesperado e dizendo que assinaria qualquer documento, mas que não queria retornar para a lagoa, quando a tenente Ledur se posicionou à frente dele impedindo que o mesmo passasse. Ainda assim, Rodrigo teria tentado passar pela tenente, quando ela teria gritado: “Você está maluco? Está tentando me agredir? Quer bater em mulher?”. Rodrigo teria respondido que não, e Ledur retrucado dizendo que ele não tinha opção de desistir.

Impedido por ela de desistir, novamente ele teria retomado o trajeto auxiliado pelos seus colegas, já que não apresentava o mínimo de condições necessárias para a travessia, e ainda assim a tenente teria retomado a sessão de tortura. Ao chegar à margem da lagoa, Rodrigo teria ajoelhado-se no chão, em posição “de três pontos” quando começou a vomitar muita água e dizer que estava sentindo muita dor de cabeça.

Ainda assim teria sido obrigado pelo comandante Reveles a se colocar “em forma” junto com os demais graduandos, questionou o grupo sobre a capacidade física de todos em dar andamento ao treinamento. Nesse momento, Rodrigo informou que não tinha condições de continuar e ainda foi alvo de chacota do seu superior, que relembrou um atestado médico apresentado por Rodrigo anteriormente.

Após a insistência da vítima em não continuar o treinamento a tenente teria mandado ele ir se apresentar no Batalhão de Bombeiros, e que ao ir em direção a sua moto, ele segurava a barriga e que Ledur teria gritado em tom irônico “a sua dor é na cabeça ou na barriga?”. Rodrigo, então, teria seguido sozinho até o batalhão onde se apresentou e informou que estava passando mal. Ele foi levado a pé, até a Policlínica do Verdão, que fica a 200 metros do batalhão, onde começou a ter convulsões e foi em seguida encaminhado a um hospital particular em estado grave, onde faleceu 5 dias depois, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Compartilhe nas redes sociais
facebook twitter
topo