Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

GAZETA

Ledur é afastada dos Bombeiros eusará tornozeleira

segunda-feira, 31 de julho de 2017, 13h42

DANTIELLE VENTURINI
DA REDAÇÃO

Tenente do Corpo de Bombeiros Izadora Ledur de Souza, acusada por crime de tortura que resultou na morte do aluno Rodrigo Patrício Lima Claro, 21, foi afastada do cargo até o final do processo criminal e passará a ser monitorada por tornozeleira eletrônica. As determinações são da juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda, que recebeu a denúncia feita pelo Ministério Público do Estado contra Ledur e outros 5 militares, entre eles o tenente coronel BM Marcelo Augusto Reveles, comandante do 1º Batalhão da Capital.

A juíza determinou ainda que a tenente fique distante de qualquer local relacionado ao Corpo de Bombeiros, inclusive da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), para evitar o risco de novas infrações, “... considerando que se trata de Tenente Bombeiro, que embora não ocupe função de alto escalão detém certa influência junto aos de cargo inferior...”.

Ela também está proibida de manter contato com as testemunhas arroladas pelo Ministério Público sob qualquer hipótese, “visando evitar que tente ludibria-las ou induzi-las, de qualquer modo, a mudarem suas versões em Juízo”. Selma Arruda ainda destacou a gravidade do caso que gerou grande repercussão e as ações de Ledur para com Rodrigo Claro “que demonstra crueldade extrema por parte da tenente Izadora e seu total desprezo pelo aluno vitimado”.

Ao negar o pedido de prisão feito pelo MPE, a juíza esclareceu que quando a denúncia foi oferecida, a defesa da acusada apresentou documentos que comprovaram sua exoneração do cargo que ocupava e que lhe possibilitava ministrar cursos e treinamentos. Na época, a defesa ainda afirmou em juízo que Ledur, a todo tempo, demonstrou-se “colaborativa com as investigações” e que não há “contemporaneidade” entre o fato criminoso e o pedido de decretação da prisão preventiva, já que ele se deu após 8 meses da morte de Rodrigo Claro.

Na denúncia, o MPE destacou os momentos de terror vivenciados por Claro, que foi submetido a intenso sofrimento físico e mental e que mesmo agonizando e pedindo por socorro, sofreu incontáveis sessões de afogamento por parte da tenente. No pedido de prisão da tenente, o promotor Sérgio Silva da Costa, da 24ª Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá, defendeu a necessidade da segregação para que fosse garantida a segurança da sociedade e das testemunhas até a conclusão da ação penal.

Lembrou que este não era o primeiro caso em que Ledur era acusada de excessos e tortura. Outras denúncias já haviam sido feitas à corporação contra a tenente. Frente aos argumentos da defesa a juíza afirmou que embora haja indícios suficientes da autoria de materialidade, existem medida cautelares diversas da prisão “capazes de assegurar que a denunciada não volte a delinquir e não tenha qualquer influência junto a testemunhas”.

Em depoimentos colhidos pelo MPE, várias testemunhas relataram ter medo da tenente que teria “influência” dentro da instituição. Relataram também a perseguição de Ledur contra Rodrigo e a situação de desespero vivida pela vítima. Diante do crime de tortura, o MPE destacou também a gravidade da “omissão” de socorro dos outros instrutores e monitores presentes no local e também denunciados tenente Thales Emmanuel Pereira, sargento Enenas Xavier, sargento Diones Sirqueira e o cabo Francisco Barros, e pediu a perda dos cargos públicos de bombeiros militares e a indenização e reparações devidas à família.

Na denúncia, o promotor lembrou que em diversas oportunidades os denunciados puderam intervir em favor Rodrigo, e que “por escolha” não o fizeram. Segundo o promotor, os bombeiros deixaram de cumprir o mínimo exigido para suas funções, ou seja, de garantir a segurança e a saúde de todos os alunos.

Sendo submetido aos incontáveis “caldos”, Rodrigo chegou a implorar para não voltar para água dizendo “que não aguentava mais e que estava sentindo muita dor de cabeça e que estava desistindo e que o deixassem parar [...]”, mas ele foi impedido por Ledur e também pelo comandante Reveles, que, “em alto e bom tom”, exigiram o retorno imediato dele ao ponto inicial da prova, sem lhe dar chance de algum descanso ou pausa, e se quer levaram em consideração os pedidos de “clemência e de desistência” da vítima.

Após as sessões de tortura e de ter vomitado muito, Rodrigo, então, teria seguido sozinho até o batalhão onde se apresentou e informou que estava passando mal. Ele foi levado a pé até a Policlínica do Verdão, que fica a 200 metros do batalhão, onde começou a ter convulsões e foi em seguida encaminhado a um hospital particular em estado grave, onde faleceu 5 dias depois, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

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