GAZETA
Menos de 40% das APPs estão preservadas
segunda-feira, 27 de novembro de 2017, 11h05
DA REDAÇÃO
A preservação das matas ciliares das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) é fundamental para a conservação dos recursos hídricos nas cidades, já que protegem o solo ao longo das margens dos corpos d’água contra erosão, excesso de assoreamento e ainda barram o acesso dos resíduos, evitando a poluição.
Apesar da importância, menos de 40% dessas áreas estão preservadas em Cuiabá, conforme estudo do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Em números, isso significa que de um total de um total de aproximadamente 1,6 mil hectares, de 34 córregos levantados, 617 estão degradados.
Essa destruição impacta diretamente na qualidade da água, pelo menos é o que aponta um levantamento feito pelo Ministério Público Estadual (MPE) para a implantação do projeto Águas para o Futuro. Das 117 nascentes identificadas este ano pela instituição, menos de 1,5% estão preservadas. Desse montante, uma parte das mais conservadas está em condomínios.
A funcionária pública Flávia Motta do Carmo é moradora há 7 anos do Condomínio Belvedere, no Jardim Imperial, e nos últimos 3 está à frente da diretoria de meio ambiente criada pelos moradores. Um dos importantes trabalhos realizados é a implementação de várias medidas de proteção à APP do condomínio que possui cerca de 9 hectares e tem uma das nascentes mais conservadas da capital, com uma rica biodiversidade.
“Temos 3 pilares importantes de atuação, que são fauna, flora e sustentabilidade. Além de todos os cuidados para manter a mata intacta e com ela os recursos naturais existentes, entre eles, uma nascente do Rio Coxipó, também trabalhamos a sensibilização dos moradores, principalmente crianças e jovens, quanto ao contato com os animais silvestres, alguns deles peçonhentos, e ainda fazemos o controle de natalidade de animais domésticos visando manter o equilíbrio ecológico”.
Cobras, jacaré, lagartos, lobetes, várias espécies de macacos e pássaros, ariranha e até uma jaguatirica pequena já circularam pelo residencial onde há 924 lotes, com 520 residências habitadas e 70 em obras. O gerente Éder Marchiori explica que geralmente aquelas pessoas que têm maior afinidade com a natureza e que gostam da convivência com os animais silvestres preferem construir próximos ao limite com a APP.
“Os próprios moradores ajudam a cuidar para que ninguém entre na mata e resgatam os bichos que às vezes aparecem, há uma preocupação em preservar, em acompanhar e zelar, eles sabem que esta é uma riqueza natural. Em 8 anos de trabalho aqui, venho observando que apenas a área de preservação do Belvedere está conservada, as demais da região não existem mais ou diminuíram sensivelmente”, afirma Éder.
O gerente administrativo do Condomínio Florais dos Lagos, Manasses da Costa Cunha Cardoso, pontua que existem quatro APPs que estão muito bem preservadas, e são monitoradas constantemente pela equipe de manutenção, com apoio dos moradores que são muito comprometidos com a causa. “Inclusive realizamos atividades, como caminhadas, passeios de bike com as crianças pelas trilhas para mostrar a importância de mantê-las intactas”.
Convivência harmoniosa - A preocupação com os animais silvestres vem mobilizando a diretoria de meio ambiente do Belvedere, que tem realizado palestras e já fez uma edição de acampamento com crianças para promover a educação ambiental. “Trouxemos uma escritora para criar uma história narrando a origem da APP, sua importância e os cuidados necessários para mantê-la.
Algumas crianças já estão engajadas nas nossas atividades que incluem ainda horta comunitária, compostagem e reciclagem”, acrescenta Flávia Motta. Há cerca de um mês, uma coruja sofreu um acidente e foi encontrada por um dos moradores com uma asa e uma pata quebradas. Imediatamente eles se mobilizaram para ajudá-la. O carinho foi tão grande que ela recebeu até nome: “Cora”, que após tratamento especializado e um período de recuperação foi reintroduzida pelo Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental - juntamente com outra coruja em reabilitação de outra região - na APP do residencial.
Preocupada com a proximidade com as festas de fim de ano, a diretoria está trabalhando para aprovar uma proibição ao uso de fogos de artifício que geram muitos danos aos animais domésticos e até a morte de animais silvestres, sensíveis ao barulho. Paralelamente, são feitas ações de esclarecimento sobre bichos peçonhentos e outros animais silvestres. ‘Além das palestras, vamos lançar uma cartilha explicando a importância deles para o equilíbrio ecológico da mata e como o morador deve se portar ao encontrá-lo’, afirma a diretora.
Um projeto ambiental para os próximos 10 anos está “no forno” e deve sair para o próximo ano contemplando inúmeras outras prioridades, como aproveitamento de água de chuva, reutilização de água, energia solar, ampliação da reciclagem e atividades no auditório verde, que fica ao lado da APP. Importância das APPs As áreas de preservação permanente proporcionam diversos benefícios, como a infiltração e a drenagem pluvial, contribuindo para a recarga dos aquíferos, evitando, deste modo, enxurradas, inundações e enchentes.
As APP promovem ainda a estabilidade geológica e do solo, prevenindo contra deslizamentos de terra, especialmente nas proximidades de rios e córregos. A manutenção de áreas verdes nas áreas urbanas é requisito essencial para proporcionar uma maior qualidade de vida e conforto ambiental à população, amenizando a temperatura e mantendo a umidade do ar. Também é vital para inserir os elementos naturais capazes de amenizar a poluição visual das cidades que, via de regra, caracterizam-se por um meio ambiente excessivamente denso.
“Conservar a vegetação das APP transforma as cidades em um ambiente agradável, a partir da diversificação da paisagem, com a inserção de elementos naturais no cenário urbano, como os pássaros, garantindo assim o direito da população a cidades sustentáveis”, pontua o superintendente executivo do Instituto Ação Verde, Vicente Falcão de Arruda Filho.