Instituto Ação Pela Paz celebra 10 anos com autoridades, parceiros e apoiadores
terça-feira, 02 de dezembro de 2025, 14h01
Organização apresenta resultados de impacto no Brasil, dados do Programa SEMEAR, lança livro com experiências de ressocialização e reforça compromisso com a redução da reincidência criminal

O Instituto Ação Pela Paz celebrou, em 18 de novembro, uma década de atuação dedicada à construção de uma sociedade mais justa, segura e comprometida com a redução da reincidência criminal. O evento ocorreu na área livre e no auditório do Espaço Abrahão e Rosa, em São Paulo, reunindo autoridades, parceiros, proponentes, beneficiários, representantes de instituições públicas e privadas e um público superior a 130 convidados.
Entre os presentes estavam importantes lideranças do sistema de Justiça e Segurança Pública, como o atual corregedor-geral da Justiça e presidente eleito do Tribunal de Justiça de São Paulo para o próximo biênio, desembargador Francisco Eduardo Loureiro; o coordenador da Coordenadoria Criminal e de Execuções Criminais do TJSP e gestor do Programa SEMEAR, desembargador Luiz Antonio Cardoso; o secretário de Estado da Administração Penitenciária (SAP), Coronel Marcello Streifinger; o secretário executivo da SAP, Coronel Marco Antonio Severo; o diretor da Polícia Penal, Dr. Rodrigo Santos Andrade; e o diretor-executivo da Funap, Dr. Mauro Lopes dos Santos, além de coordenadores do sistema prisional, representantes da sociedade civil e servidores dos Poderes Executivo e Judiciário.
A diretora executiva e cofundadora do Instituto, Solange Senese, conduziu a cerimônia destacando a importância do trabalho contínuo e colaborativo para transformar vidas e fortalecer políticas públicas de reinserção. Ela abriu o evento lendo um texto do desembargador Luiz Antonio Cardoso sobre a execução penal como ferramenta de ressocialização — trecho que introduz o livro “Instituto Ação Pela Paz e o Sistema Prisional – 10 Anos de Perseveranças e Conquistas”, lançado durante o encontro.
A publicação, editada pela Giostri, reúne artigos técnicos, análises e relatos de projetos apoiados ou que inspiram a instituição. A obra foi organizada por Solange Senese, pelo pesquisador e professor Railander Figueiredo e pelo jornalista Marcos Ferreira, oferecendo um panorama das iniciativas acumuladas ao longo de uma década.
Em seguida, o empresário e filantropo Jayme Brasil Garfinkel, presidente e cofundador do Ação Pela Paz, apresentou uma palestra sobre o papel da sociedade civil organizada na construção de caminhos consistentes para o recomeço. Autor do prefácio da obra comemorativa, Garfinkel compartilhou os motivos que o levaram a investir na causa da ressocialização e relatou como a parceria com Solange Senese deu origem à organização, que já atuou em mais de 12 estados.
Resultados e evidências
Solange Senese comandou a apresentação do painel de resultados e exibiu a 6ª aferição da reincidência criminal entre participantes do Programa SEMEAR, referente ao período de 2015 a 2023. O levantamento analisou 25.677 pessoas beneficiárias de projetos: 10.805 permanecem presas, 66 faleceram, 138 evadiram e 14.668 deixaram os estabelecimentos prisionais. Entre os egressos, 82,06% não reincidiram, o equivalente a 12.036 indivíduos.
Ela foi acompanhada por Graciela Minozzi, diretora técnica II do Centro Técnico de Sistema do Departamento de Tecnologia da Informação da SAP, e por Rosileia Dias, coordenadora Administrativa e Financeira do Ação Pela Paz.
Os dados, presentes no “Relatório de Atividades 2024 – 10 Anos do Ação Pela Paz” — lançado também durante o evento, apresentam o desempenho de não reincidência por faixa etária:
– 84% dos participantes entre 18 e 25 anos;
– 85% dos que têm entre 26 e 35 anos;
– 89% entre 36 e 45 anos;
– 92% entre 46 e 55 anos;
– 95% entre 56 e 65 anos;
– e 98% entre aqueles com 66 anos ou mais.
Outro dado relevante indica que, dos 10.805 ainda privados de liberdade, 8.694 participaram de projetos em 2023. Todos os números foram atualizados até setembro de 2025.
Após a apresentação, diversas autoridades reforçaram a importância da cooperação entre o poder público e a sociedade civil. O desembargador Francisco Eduardo Loureiro enfatizou que o trabalho do Instituto não significa amenizar a responsabilidade penal, mas cumprir o ciclo previsto em lei: “A mesma lei que leva ao cárcere devolve ao convívio social”, afirmou. Ele destacou, ainda, que cada egresso que não reincide representa um crime a menos e, considerando que mais de 30 mil pessoas já passaram pelo SEMEAR, trata-se de impacto expressivo na segurança pública.

O secretário da Administração Penitenciária, Marcello Streifinger, destacou a importância da participação da sociedade civil no processo de ressocialização. Segundo ele, o Estado, sozinho, não dá conta do desafio.
“Não éramos suficientes, porque a sociedade quer que a pessoa seja punida, seja segregada, e aí está resolvido. Mas não está”, afirmou. Streifinger explicou que, sem os antigos “freios morais” da religião e da família, muitos acabam reincidindo — e o ciclo se repete.
Com o tempo, diz, a sociedade começou a perceber que também é vítima desse processo. “Tem que fazer alguma coisa. Só que esse ‘tem que fazer alguma coisa’ depende de se mexer, e a inércia é muito pesada.”
O secretário ressaltou que a tendência é adiar decisões, esperando “ver como fica”. Mas há quem enfrente esse movimento. “Tem pessoas que afrontam a inércia, que desafiam a inércia e enxergam que ajudar o próximo é uma forma de criar um mundo melhor para a sua família”, concluiu.
Investidores como Eugênio Liberatori Velasques, fundador da LV5 e conselheiro do Ação Pela Paz, e representantes do Rotary Club relataram a relevância de apoiar iniciativas voltadas à reinserção social. Parte do público pôde conversar com autores do livro. Entre eles, a Dra. Carolina Passos Branquinho Maracajá, coordenadora da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania da Polícia Penal da SAP, coautora de um dos 16 artigos da obra.

Cinema e ressocialização
A programação incluiu também a première do documentário “Luiz Alberto Mendes – Memórias em Letras”, dirigido por Marcello Novaes, que emocionou o público ao retratar a trajetória do egresso e escritor que dá nome ao filme e o papel transformador da literatura na vida de pessoas privadas de liberdade.
O jornalista Paulo Lima, editor-chefe e fundador da Revista Trip, relembrou sua convivência com Mendes, que publicou uma coluna na revista por muitos anos e se tornou autor de obras de referência, como Memórias de um sobrevivente (Companhia das Letras, 2001). “Eu sempre pensava: se ele escreve assim preso, imagina quando estiver na rua”, disse Lima. “Ainda na cadeia, ele produzia conteúdo e conseguia remuneração — algo extraordinário para quem está em processo de reconstrução.”
Uma década de impacto
Diversas pessoas importantes para a história do Ação Pela Paz foram convidadas a falarem sobre suas experiências aos presentes, relatando a força da união entre os diversos atores envolvidos no impulsionamento dos trabalhos realizados para a diminuição da reincidência criminal no Brasil.
O evento foi encerrado com homenagens e agradecimentos aos que contribuíram para a trajetória do Instituto ao longo desses dez anos.
Ao decorrer A celebração reforçou o compromisso do Ação Pela Paz em ampliar seu impacto, fortalecer redes de cooperação e desenvolver iniciativas baseadas em evidências. Ao completar uma década, a organização se consolida como agente de transformação, mostrando que investir no recomeço é investir em segurança pública, cidadania e em um futuro mais inclusivo e humano para todos.
Fonte: Instituto Ação Pela Paz