Pesquisa do Ipea aponta que Bolsa Família não estimula beneficiários a abandonarem oportunidades de trabalho
segunda-feira, 06 de outubro de 2025, 16h48
O novo Bolsa Família, lançado em março de 2023, gerou um fenômeno que pode ser chamado de “fuga da precariedade”. Ao prover uma renda mínima, o programa deu aos beneficiários a opção de recusar ou abandonar ocupações de “baixíssima qualidade, marcadas pela informalidade, instabilidade e baixa remuneração”, principalmente entre as mulheres com responsabilidades de cuidado.

É o que aponta o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) denominado: “O efeito do aumento no valor das transferências de renda sobre a inserção dos beneficiários no mercado de trabalho: uma análise com dados em painel da PNAD-Contínua”.
A pesquisa demonstra que o valor mínimo do Bolsa Família de R$ 600 por domicílio não representa um desincentivo generalizado ao trabalho. Pelo contrário, “os dados indicam que o aumento do benefício não gerou um incentivo para que os trabalhadores migrassem de empregos formais para informais”.
Ou seja, a evasão da força de trabalho se concentrou em ocupações precárias e informais, tais como: indivíduos que já estavam desocupados; trabalhadores domésticos sem carteira e trabalhadores familiares auxiliares.
O estudo conduzido pelos pesquisadores Ricardo Campante e Fábio Soares utiliza como recorte o período de transição do valor da transferência de renda de R$ 400, do antigo programa Auxílio Brasil, para o mínimo de R$ 600 do Bolsa Família, que vai do início da crise sanitária da Covid-19 em 2020 até o primeiro semestre de 2023.
Utilizando dados longitudinais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C), o estudo busca isolar o impacto do aumento do benefício de outras dinâmicas macroeconômicas e das peculiaridades dos beneficiários.