Delegado fala sobre os golpes mais comuns, desafios no combate e a importância da conscientização digital
terça-feira, 28 de outubro de 2025, 15h08
Ao longo do mês de outubro, a Anatel vem ampliando o diálogo sobre segurança digital com diferentes instituições e especialistas, promovendo uma série de entrevistas e ações de conscientização em todo o país

A transformação digital trouxe inúmeras facilidades para a vida das pessoas e das empresas, mas também abriu espaço para novas modalidades de crimes. Para discutir esse cenário e reforçar a importância da prevenção, a Anatel, por meio da campanha #OutubroCiberSeguro, segue com ações para conscientizar a sociedade sobre os riscos e as boas práticas no ambiente digital. Nesta edição, a superintendente de Controle de Obrigações, Suzana Silva Rodrigues, conversou com o delegado Emmanoel David, titular da Delegacia de Estelionato de Curitiba e referência nacional no combate a crimes cibernéticos, estelionato e fraudes.
Com vasta experiência em operações que desarticularam quadrilhas responsáveis por prejuízos milionários, o delegado trouxe uma visão prática sobre os desafios da segurança digital e as estratégias para reduzir os impactos desses crimes. Ele também explicou como a integração entre órgãos públicos e reguladores é essencial para proteger cidadãos e empresas.
Confira o diálogo:
- Delegado Emmanoel, os crimes virtuais estão cada vez mais sofisticados. Quais são os golpes virtuais mais comuns atualmente e por que eles têm se tornado tão frequentes?
Hoje, os golpes mais comuns envolvem engenharia social — ou seja, a manipulação psicológica das vítimas para que entreguem dados, façam transferências ou cliquem em links falsos. Entre os principais estão o golpe do falso suporte bancário, o falso investimento, a clonagem de aplicativos de mensagem, e os golpes com uso de deepfakes, em que criminosos utilizam inteligência artificial para falsificar rostos e vozes.
Esses crimes se tornaram mais frequentes porque a tecnologia democratizou tanto o acesso à informação quanto aos meios de fraude. Qualquer pessoa com conhecimento básico de internet pode adquirir ferramentas ilícitas na dark web e aplicá-las em escala. Além disso, o ambiente digital acelerou a comunicação e reduziu o senso de desconfiança — fatores que os criminosos exploram com maestria.
- Crianças, adolescentes e idosos estão entre as principais vítimas de golpes digitais. Quais cuidados específicos essas faixas etárias devem adotar para evitar fraudes em redes sociais, aplicativos de mensagens e transações online?
Cada grupo tem vulnerabilidades distintas.
Crianças e adolescentes precisam de orientação e supervisão constante: é fundamental que os pais saibam com quem eles interagem, que configurem controles parentais e ensinem sobre privacidade desde cedo.
Já os idosos são alvos preferenciais de golpes bancários e de falso atendimento. Para esse público, a regra de ouro é desconfiar de qualquer contato que envolva pressa ou pedido de dados pessoais, mesmo que o interlocutor pareça ser do banco ou de um familiar.
Em ambos os casos, a educação digital preventiva é a melhor defesa: ensinar, repetir e reforçar boas práticas é mais eficaz do que tentar reparar o dano depois.
- A Polícia Civil do Paraná tem realizado operações de grande impacto contra quadrilhas digitais. Como esses grupos atuam e quais são os principais desafios para combatê-los?
Essas organizações funcionam de maneira empresarial, com divisão de tarefas bem definida: há quem colete dados, quem realize os contatos, quem opere as contas bancárias e quem faça a lavagem dos valores. Muitos desses grupos atuam de forma interestadual e até internacional, utilizando contas de laranjas e empresas de fachada para dificultar o rastreamento.
O maior desafio é a velocidade com que os crimes acontecem — em minutos, valores são movimentados por dezenas de contas — e a dificuldade de obtenção rápida de dados telemáticos e financeiros, o que exige integração ágil entre polícias, instituições financeiras e órgãos reguladores.
O Paraná tem investido fortemente em tecnologia e capacitação, o que tem permitido desarticular grupos e recuperar valores expressivos em operações recentes.
- A prevenção é um dos pilares da campanha #OutubroCiberSeguro. Na sua visão, qual é o papel da educação digital e como campanhas como esta podem ajudar a reduzir os índices de fraude?
A educação digital é a primeira linha de defesa contra o crime cibernético. Campanhas como o #OutubroCiberSeguro cumprem um papel essencial ao levar informação acessível à população e às empresas, mostrando que a segurança digital é responsabilidade de todos.
Quando o cidadão entende como os golpes funcionam, ele deixa de ser uma vítima em potencial. Isso reduz o número de ocorrências e desafoga o sistema de investigação. É uma lógica semelhante à da saúde pública: prevenir é sempre mais eficaz — e menos custoso — do que remediar.
5. Para encerrar, quais são as principais recomendações que o senhor daria para cidadãos e empresas se protegerem no ambiente digital? Há medidas simples que podem fazer a diferença?
Sim. A maior parte dos golpes pode ser evitada com medidas simples:
Desconfie de urgências e ofertas fora do padrão. O golpe quase sempre se apoia na pressa.
Nunca compartilhe códigos de autenticação, senhas ou links enviados por terceiros.
Ative a autenticação em dois fatores em todos os aplicativos.
Confirme informações diretamente com as instituições por canais oficiais.
Mantenha sistemas e antivírus atualizados.
No caso das empresas, é imprescindível treinar colaboradores, adotar protocolos de resposta a incidentes e realizar auditorias periódicas de segurança.
A segurança digital não é um investimento opcional, mas um pilar estratégico de sobrevivência no mundo conectado.
A entrevista faz parte das ações da campanha #OutubroCiberSeguro, iniciativa da Anatel que busca conscientizar a sociedade sobre os riscos no ambiente digital e incentivar práticas seguras. A campanha reforça que a prevenção é a melhor forma de combater crimes virtuais.
Minibiografia
Delegado de Polícia Civil do Estado do Paraná, titular da Delegacia de Estelionato de Curitiba, é referência nacional no combate a crimes cibernéticos, fraudes financeiras e estelionatos digitais. Conduziu operações de grande repercussão, com foco na desarticulação de organizações criminosas e na proteção da população contra golpes virtuais. Atua também como palestrante, pesquisador e educador digital, defendendo que a prevenção é o mais poderoso instrumento de segurança pública.

Emmanoel David, titular da Delegacia de Estelionato de Curitiba e referência nacional no combate a crimes cibernéticos, estelionato e fraudes
Categoria
Comunicações e Transparência Pública