Quanto custa uma árvore? Estudo avalia em R$ 41 milhões o retorno gerado pela área arborizada em Piracicaba
por Gabriela Ferraz, Edijan Del Santo, Rodrigo Pereira
terça-feira, 14 de março de 2023, 11h43
De acordo com autor da pesquisa, a presença das árvores exige menos investimento público em manutenção de ruas e avenidas, além de proporcionar benefícios para a saúde.
Um estudo desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) estimou em R$ 41 milhões por ano o retorno financeiro que as 60,1 mil árvores plantadas em calçadas de Piracicaba (SP) proporcionam.
O novo método de valoração monetária da arborização foi desenvolvido pelo engenheiro florestal Flávio Henrique Mendes durante seu doutorado, sob orientação do professor Demóstenes Ferreira da Silva Filho, do departamento de Ciências Florestais, e acaba de ser publicado na revista Labverde.
"O objetivo dessa pesquisa foi exatamente trazer essa primeira aproximação pra que as pessoas consigam enxergar as diferenças entre as árvores e quanto elas podem trazer de serviços ecossistêmicos, de serviços ambientais. A gente sabe, tem sombra, ela faz a filtragem dos poluentes, tem 22 benefícios ambientas. Só que muitas vezes eles ficam abstratos, e na hora que a gente faz essa valoração torna isso mais concreto", explica Mendes.
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Sapucaia no quarteirão do Estádio Barão da Serra Negra, na Avenida Independência, em Piracicaba — Foto: Gerhard Waller
A pesquisa desenvolveu um método mais simples para mostrar para a população esse retorno financeiro que a árvore traz. Ele é baseado em um cálculo que envolve a relação entre a área da copa, o índice de área foliar (IAF) e um parâmetro médio de reais por metro quadrado.
De acordo com o pesquisador, a presença das árvores exige menos investimento público em manutenção de ruas e avenidas, além de proporcionar benefícios para a saúde e combater as mudanças climáticas. Ele explica que essas investigações também podem auxiliar no planejamento, gestão e formulação de políticas públicas.
Uma Sapucaia com mais de 100 anos que fica no cruzamento da Avenida Independência com a Rua Moraes Barros, no quarteirão do Estádio Barão da Serra Negra, faz parte da pesquisa.
"A gente chega ali em quase R$ 9 mil por ano somente nos serviços ecossistêmicos, fora toda essa questão sentimental. A gente sabe que ela foi plantada para celebrar o fim da 1ª Guerra Mundial, e é uma árvore centenária, tanto que os cuidados com elas são exemplares", revela o autor do estudo.
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Sibipirunas na Avenida Carlos Botelho, em Piracicaba — Foto: Ricardo Custódio/ EPTV
São várias espécies, entre elas as Oitis, que têm 6,2 mil exemplares no sistema viário da cidade e retornam R$ 8,2 milhões. Já as Sibipirunas têm 3,8 mil exemplares, que retornam R$ 5,5 mil. Mendes as considera como espécies-chave para a cidade.
"A gente vê cidades, inclusive aqui no estado de São Paulo, como por exemplo São Carlos e Araraquara, que os moradores que têm uma árvore em frente a sua casa, embora seja de domínio da prefeitura, eles têm um desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Que seja um valor simbólico, mas já é uma primeira iniciativa", acrescenta o pesquisador.
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Milton caminha por área verde da qual cuida em Piracicaba — Foto: Marcos Pinguim/ EPTV
O aposentado Milton Muller valoriza tanto as árvores que cuida de uma área verde em Piracicaba que ele mesmo foi montando aos poucos com um amigo.
"Tem eucalipto bastante, pé de jaca, pé de manga, laranja, caqui, então eu acho que todo mundo devia pelo menos plantar pelo menos uma árvore assim que possível, que tenha lugar disponível para isso. A árvore é tudo. Sem árvore não há vida".
Sobre a possibilidade de dar desconto no IPUT para moradores que cuidam das árvores em Piracicaba, a prefeitura informou que, por enquanto, não há nenhuma iniciativa em análise neste sentido.
Fonte: G1.