Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Qualidade do ar no Cerrado está comprometida pelo excesso de agrotóxico

por Mongabay

terça-feira, 31 de outubro de 2023, 15h59

 

Pulverização aérea no município de Santo Inácio, Paraná.

Pulverização aérea no município de Santo Inácio, Paraná.
Imagem: Edmarjr, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

 

Respirar ar puro no Cerrado tem sido cada vez mais difícil. É o que indica um estudo recente, elaborado pelo Instituto Federal Goiano. A pesquisa constatou uma relação entre a morte de líquens e a exposição ao glifosato, um tipo de herbicida usado para impedir o crescimento de plantas espontâneas.

 

Os líquens são organismos formados por fungos e algas que se relacionam entre si.

 

Na prática, isso indica a má qualidade do ar. Em florestas tropicais, como é o nosso caso, a presença dos líquens indica boas condições atmosféricas. Por outro lado, a sua ausência indica que as condições do ar não estão adequadas.

 

Luciana Vitorino, doutora em Microbiologia, pesquisadora do Instituto Federal Goiano e uma das autoras do estudo.

 

As amostras analisadas foram recolhidas de uma Área de Preservação Permanente (APP) localizada no município de Caiapônia, distante 335 km de Goiânia, capital de Goiás. A APP está localizada dentro de uma propriedade privada de monocultivo de cana-de-açúcar em larga escala.

 

Foram recolhidos dos troncos das árvores líquens das espécies Parmotrema tinctorum e Usnea barbata (conhecida como barba-de-velho). Essas amostras estavam no centro da APP, portanto, em tese, não haviam sofrido exposição direta ao glifosato.

 

Nas análises, porém, foi constatado que houve redução de células vivas e aumento de células mortas nos líquens barba-de-velho - ambos os resultados proporcionais ao tempo de exposição e à concentração do herbicida.

 

Segundo Luciana Vitorino, o interesse em realizar esse estudo mais aprofundado surgiu após ser encontrado cádmio, um dos metais pesados presentes no glifosato, em líquens localizados nas bordas de quatro Áreas de Preservação Permanente do município de Rio Verde, em Goiás.

 

O levantamento feito em 2017 envolveu áreas de conservação localizadas em propriedades privadas de cultivo de commodities.

 

Em 2018, a preocupação dos pesquisadores aumentou. Foram encontrados líquens com metais pesados provenientes do glifosato também no Parque Nacional das Emas.

 

Levando-se em conta que esse parque é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, ou seja, com restrição de atividade econômica, deveria ser improvável encontrar resíduos de glifosato nestes organismos vivos.

 

Foi então que os pesquisadores suspeitaram de contaminação por efeito de deriva. Esse é o nome dado ao efeito que leva os agrotóxicos, por meio das águas subterrâneas e de correntes de ar, para outras áreas além do alvo da pulverização.

 

A pulverização via aérea, a mais comum adotada em Goiás, favorece a dispersão desse agrotóxico.

 

Esses estudos anteriores serviram para comprovar que havia contaminação de líquens em áreas de conservação. Já o estudo atual mostrou, de forma mais efetiva, como os líquens eram afetados.

 

Luciana Vitorino, doutora em Microbiologia, pesquisadora do Instituto Federal Goiano e uma das autoras do estudo.

 

Fonte:https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/noticias-da-floresta/2023/10/31/qualidade-do-ar-no-cerrado-esta-comprometida-pelo-excesso-de-agrotoxico.htm


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