Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Mudanças climáticas foram a principal causa da grave seca na Amazônia em 2023, aponta estudo

por Roberto Peixoto, g1

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024, 11h45

 

Barco viaja por trecho do rio Amazonas afetado pela seca, perto de Manacapuru, na Região Metropolitana de Manaus, em 27 de setembro de 2023. — Foto: AP Photo/Edmar Barros

Barco viaja por trecho do rio Amazonas afetado pela seca, perto de Manacapuru, na Região Metropolitana de Manaus, em 27 de setembro de 2023. — Foto: AP Photo/Edmar Barros

 

seca histórica que assolou a região da Amazônia em 2023 teve sua principal origem na mudança climática causada pela atividade humana. Isso é o que aponta um novo estudo, divulgado nesta quarta-feira (24), realizado pelo World Weather Attribution (WWA), um grupo internacional de cientistas especializados em assuntos climáticos.

 

Segundo a pesquisa, o fenômeno natural El Niño, conhecido por trazer condições secas à região, teve uma influência consideravelmente menor no episódio.

 

📝 Contexto:

 

 

Ainda de acordo com a investigação da WWA, que teve a participação de universidades e agências meteorológicas no Brasil, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, a mudança climática está provocando uma diminuição na precipitação e um aumento nas temperaturas na Amazônia.

 

Com isso, esses fatores tornaram a seca sem precedentes de 2023 aproximadamente 30 vezes mais provável do que se apenas o El Niño estivesse atuando.

 

Embora o El Niño tenha levado a níveis ainda mais baixos de precipitação, nosso estudo mostra que as mudanças climáticas são o principal impulsionador da seca por meio de sua influência nas temperaturas mais elevadas.

— Ben Clarke, pesquisador do Grantham Institute - Climate Change and the Environment, do Imperial College de Londres

 

"Com cada fração de grau de aquecimento causado pela queima de combustíveis fósseis, o risco de seca na Amazônia continuará a aumentar, independentemente do El Niño", alerta ele.

 

Como foi feito o estudo

 

Para chegar a essa conclusão, os cientistas examinaram o impacto das mudanças climáticas na seca, usando dados meteorológicos e simulações de modelos. Eles compararam o clima atual, com cerca de 1,2°C de aquecimento global, com o clima mais frio pré-industrial, sem os impactos do ser humano, usando métodos revisados por especialistas.

 

O foco do estudo foi na Bacia Amazônica, analisando a seca de junho a novembro de 2023. Os pesquisadores usaram dois índices para avaliar a gravidade da seca:

 

  1. O primeiro é o Índice Padronizado de Precipitação (SPI), que considera a baixa precipitação e mede a seca meteorológica.

  2. O segundo é o Índice Padronizado de Precipitação Evapotranspiração (SPEI), que considera baixa precipitação e evapotranspiração, medindo a seca agrícola. Estudar ambos os índices ajuda a entender os fatores climáticos por trás do evento.

 

Usando modelagem estatística, os pesquisadores separaram as influências do El Niño e das mudanças climáticas na seca. Foi aí, então, que descobriram que tanto o El Niño quanto as mudanças climáticas reduziram a chuva em proporções semelhantes.

 

No entanto, eles constataram que o aumento nas temperaturas foi principalmente causado pelas mudanças climáticas ao analisar dados meteorológicos históricos. Assim, embora o El Niño tenha contribuído para agravar a seca, as mudanças climáticas foram o principal impulsionador.

 

À medida que o clima se aquece, uma potente combinação de diminuição da precipitação e aumento do calor está impulsionando a seca na Amazônia.

 

— Regina Rodrigues, professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

 

Trecho seco do rio Coari Grande devido à estiagem de 2023, em Coari, no Amazonas. — Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

Trecho seco do rio Coari Grande devido à estiagem de 2023, em Coari, no Amazonas. — Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace
 

⛈️☀️️ Relembre o que é o El Niño:

 

  • O El Niño é a fase positiva do fenômeno chamado El Niño Oscilação Sul (ENOS). Quando ele está em atuação, o calor é reforçado no verão e o inverno é menos rigoroso no Brasil. Isso ocorre porque ele dificulta o avanço de frentes frias no país, fazendo com que as quedas sejam mais sutis e mais breves.

  • Em resumo, o fenômeno causa secas no Norte e Nordeste do país (chuvas abaixo da média), principalmente nas regiões mais equatoriais, e provoca chuvas excessivas no Sul e no Sudeste.

 

 

Alerta para o mundo

 

No estudo em questão, os especialistas advertem ainda que, em um cenário ideal com temperaturas 1,2°C mais baixas em todo o mundo (ou seja, sem as alterações climáticas atribuíveis à atividade humana), a ocorrência da seca teria sido consideravelmente menos intensa.

 

👉 Isso ressalta que as emissões de gases do efeito estufa provenientes da queima de petróleo, gás e carvão desempenharam um papel crucial na transformação desse fenômeno em um evento de proporções devastadoras.

 

🚨 Os cientistas alertam que, em caso de um aumento global de 2°C na temperatura, a probabilidade de eventos semelhantes de precipitação extremamente escassa aumentará quatro vezes, ocorrendo aproximadamente a cada 33 anos.

 

Da mesma forma, secas agrícolas comparáveis se tornarão três vezes mais propensas, com uma ocorrência esperada a cada 13 anos.

 

Vale ressaltar que no ano passado, pela 1ª vez, o mundo registrou um dia com uma temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial.

 

Nossas escolhas na batalha contra as mudanças climáticas permanecem as mesmas em 2024 - continuar destruindo vidas e meios de subsistência queimando combustíveis fósseis, ou garantir um futuro saudável e habitável substituindo-os rapidamente por energia limpa e renovável.

 

— Friederike Otto, professor sênior em Ciência do Clima no Grantham Institute - Climate Change and the Environment, da Imperial College de Londres

 

Fonte: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/01/24/mudancas-climaticas-foram-a-principal-causa-da-grave-seca-na-amazonia-em-2023-aponta-estudo.ghtml


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