Indústria brasileira de carne bovina ainda luta contra desmatamento de fornecedores indiretos, aponta pesquisa*
por MAXWELL RADWIN - MONGABAY
terça-feira, 10 de dezembro de 2024, 10h13
Bovinos em Mato Grosso, Brasil. Foto de Rhett A. Butler / Mongabay.
Pesquisas sobre a indústria pecuária brasileira constataram que ainda há uma séria falta de transparência em toda a cadeia de fornecimento de carne bovina, inclusive de frigoríficos e varejistas. Isso significa que há pouco controle sobre a origem da carne bovina, sugerindo que grande parte dela pode estar contribuindo para o desmatamento ilegal na Amazônia, de acordo com o Radar Verde, uma iniciativa de monitoramento de gado composta por vários grupos climáticos.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, e a Amazônia abriga aproximadamente 43% dos rebanhos bovinos do país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em um período de 12 meses, a partir de julho passado, a Amazônia perdeu 6.288 quilômetros quadrados (2.428 milhas quadradas) de floresta, de acordo com o instituto nacional de pesquisas espaciais do país, o INPE.
"As empresas da cadeia da carne bovina que ainda não adotaram medidas para controlar seus fornecedores diretos e indiretos são incentivadas a serem mais responsáveis, com o risco de serem privadas pelos consumidores que adotam cada vez mais atitudes mais conscientes em relação ao meio ambiente", disse a Radar Verde em seu relatório de 2023.
O gado torna-se difícil de rastrear quando se desloca entre diferentes fornecedores sem a documentação adequada. Em muitos casos, o gado pasta em terras desmatadas ilegalmente e depois entra em rebanhos legais, recebendo marcas auriculares e licenças como se estivessem pastando legalmente. Em seguida, eles passam para matadouros e supermercados.
Os fornecedores diretos de gado, ou os fornecedores que possuem o gado por último, são mais fáceis de rastrear, enquanto os fornecedores indiretos - que possuem o gado no início de suas vidas - muitas vezes desaparecem dos registros.
O Brasil está sob crescente pressão para rastrear fornecedores diretos e indiretos, especialmente com o regulamento de produtos livres de desmatamento da UE (EUDR) programado para entrar em vigor no final do próximo ano. O EUDR exigirá que os fornecedores comprovem que a carne bovina e outras commodities exportadas para a UE não são provenientes de terras desmatadas ilegalmente. Isso poderia desqualificar bilhões de dólares em carne bovina.
Para atender a esses padrões mais novos e mais elevados, as autoridades estão trabalhando em soluções ambiciosas, como etiquetagem e monitoramento de milhões de bovinos no estado do Pará até dezembro de 2025. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que todo o setor pecuário do país será rastreável até 2032.
Neste ano, o Radar Verde analisou 67 redes de supermercados e constatou que apenas três — Assaí, Carrefour e GPA — têm controle sobre os fornecedores diretos. Mas nenhum dos 67 tem controle sobre seus fornecedores indiretos.
As três redes tomaram medidas mais agressivas do que outros varejistas, incluindo manter um diálogo aberto com os fornecedores, alinhar as políticas internas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para combater as mudanças climáticas e comprar carne bovina apenas de fornecedores registrados no Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura.
De acordo com o relatório, das 132 empresas no Brasil com frigoríficos, apenas oito têm um "alto nível de controle" sobre a carne proveniente de fornecedores diretos, o que significa que sabem onde o gado foi criado e podem rejeitar animais pastando em terras desmatadas ilegalmente.
As oito empresas incluem Marfrig, Ativo, Frigol, Frigorífico Fortefrigo, Frigorífico Rio Maria, JBS, Masterboi e Minerva.
A Frigol disse que trabalha com a ONG brasileira de conservação Imaflora e o Ministério Público para monitorar fornecedores diretos na Amazônia e implementou protocolos de monitoramento para todos os estados onde possuem unidades de produção.
"A FriGol enfatiza que a sustentabilidade está no centro de sua estratégia de negócios", disse à Mongabay em um comunicado. “… A FriGol alcançou 100% de conformidade na aquisição de gado de seus fornecedores diretos."
No entanto, nenhuma das 132 empresas tem controle sobre a carne de fornecedores indiretos, segundo a pesquisa. Se o gado mudar de dono antes de chegar ao matadouro, é quase impossível saber se ele contribuiu para o desmatamento.
Mesmo empresas com controle mais rígido sobre fornecedores diretos, como a JBS, ainda estão expostas a altos níveis de desmatamento, mostrou a pesquisa do Radar Verde. A empresa corre o risco de contribuir para 9.666.567 hectares (23,8 milhões de acres) de desmatamento até 2025.
A Vale Grande Indústria e Comércio de Alimentos, que não tem controle sobre fornecedores diretos ou indiretos, está exposta a 4,2 milhões de hectares (10,5 milhões de acres) de desmatamento – o segundo maior do Brasil depois da JBS, segundo o Radar Verde.
No total, varejistas e frigoríficos correm o risco de desmatar mais de 109 milhões de hectares (270 milhões de acres de desmatamento até 2025, de acordo com a pesquisa.
Em comunicado, a JBS disse que o Radar Verde não considerou suas políticas corporativas e sistemas de gestão de compras sustentáveis. Ele disse que avalia milhares de fazendas fornecedoras de gado em potencial diariamente por meio de um sistema de monitoramento geoespacial desde 2009.
"As empresas que fizeram mais progresso em seus controles são frequentemente criticadas, e sua transparência é usada não como um incentivo, mas como uma penalidade", disse o comunicado.
*Tradução automática