Saúde Mental
Suicídio – Porque eu preciso saber sobre prevenção e importância?
quarta-feira, 04 de setembro de 2019, 10h09
A discussão entorno do suicídio tem se espalhado cada vez mais por entre os mais distintos países do mundo como um problema de contornos internacionais e isso tem preocupado e alertado ainda mais os órgãos responsáveis pela saúde em âmbito mundial.
Conforme aponta o crescimento das estatísticas, ano após ano, tem-se que um maior número de pessoas atenta contra a própria vida, tendo cada uma delas motivos e causas diferentes, normalmente estando vinculadas a dificuldades psicológicas e a problemas de vida.
Em um contexto como esse, escrevemos para conscientizar e transmitir uma mensagem sobre o quanto a vida de pessoas sofrendo e pensando em cometer um suicídio é algo extremamente importante para nós. Essa dor tem cura, vai passar e nós queremos que as pessoas saibam disso.
Nosso objetivo é ajudar. E nós estamos com você. Nós sentimos você e nós queremos te orientar a buscar ajuda. Não fique sozinho! Compartilhe sua dor com quem você ama e tenha calma! Sua vida vale a pena! Você vale a pena! Acredite nisso. Esses dias vão passar! Eles vão. Mas busque ajuda!
Se você precisar disso imediatamente, deixamos algumas informações importantes no final do artigo. Você vai sair disso! Peça ajuda! A sua vida vale a pena!
A história conceitual do suicídio, por Émile Durkheim
Pensar o tema suicídio conceitualmente não é uma tarefa possível sem que se pense a respeito de Émile Durkheim. Durkheim é considerado o fundador da ciência que conhecemos atualmente como Sociologia, e se tornou ao longo dos anos uma das principais referências mundiais a respeito do tema suicídio.
Durkheim baseava suas teorias na ideia de que alguns padrões e acontecimentos ocorridos em sociedade guiavam as pessoas segundo uma consciência coletiva compartilhada, que influenciaria diretamente no comportamento delas e, consequentemente, na forma como enxergariam a vida e o mundo.
A esses padrões e acontecimentos, Durkheim daria o nome de fatos sociais, entendendo que ocorreriam socialmente, como um fenômeno coletivo e influenciador, independentemente das manifestações individuais que qualquer pessoa poderia desenvolver.
Baseado nessas concepções sociológicas, Durkheim dá início a seus estudos sobre o suicídio. Em 1897, ele escreve seu famoso livro, “O Suicídio”, em que explica suas teorias e descreve seus entendimentos a respeito desse fenômeno. Daí em diante, sua obra torna-se um marco e se eterniza na história sobre o tema.
Pensando em sua teoria, Durkheim sustentava que o suicídio não era uma causa exclusivamente individual, mas que, na verdade, o suicídio tinha suas origens também em causas sociais, que deveriam ser observadas tanto quanto acontecimentos e elementos de origem individual.
Para Durkheim, o suicídio deveria ser explicado como uma questão social, que varia de acordo com a razão inversa do grau de interação social dos indivíduos com a sociedade, em que o elemento central seria a coesão social, e que quanto mais existisse coesão social, menor seriam as taxas de suicídio dentro dos grupos.
De acordo com essas considerações iniciais, Durkheim apresenta os quatro tipos de suicídio que observaria em meio a sociedade, apontando para suas causas sociais específicas e seus desdobramentos. Esses tipos seriam nomeados por ele como: suicídio egoísta; suicídio altruísta; suicídio anômico e suicídio fatalista.
Por suicídio egoísta, entende-se esse ato como um tipo de morte em que o indivíduo tiraria a própria vida em decorrência do enfraquecimento dos grupos sociais ao qual ele pertence, fossem eles grupos orientados por sua religião, sua família, seus amigos ou mesmo sua orientação política.
Quanto maior o seu afastamento e individuação perante os grupos sociais que produzem determinadas maneiras de agir, pensar e sentir capazes de manter a consciência coletiva acima da consciência individual, maior seria sua chance de cometer um suicídio (Almeida, 2018).
Por suicídio altruísta, enquanto algo inverso ao suicídio egoísta, Durkheim perceberia esse ato como um ato em que o indivíduo tiraria a própria vida ao sentir-se no dever moral de cometê-lo, como algo em prol do bem-estar de sua sociedade ou do grupo social no qual estaria inserido, fosse ele religioso ou advindo de uma outra origem.
Este, como informação complementar, seria o suicídio de menor ocorrência nas sociedades modernas, entendido que seria um tipo voltado a religiões antigas, sacrifícios militares, a culturas ancestrais e a princípios menos intensos e mais difíceis de serem encontrados na modernidade.
É interessante destacar e importante ressaltar que, apesar de se falar sobre um fenômeno coletivo, Durkheim nunca menosprezou os desejos e objetivos individuais imutáveis de cada um. O autor só entendia que, pensando nos estudos sobre sociologia, os sociólogos deveriam se ater aos elementos comuns entre as pessoas que poderiam cometer esse tipo de ato.
Voltando as explanações, Durkheim nos fala sobre um terceiro tipo: o suicídio anômico. Este, que seria o mais presente nas sociedades modernas, estaria vinculado a introdução de novos modos de vida baseados na sociedade industrial, que segundo ele, tiravam o poder de regulação e coesão social da sociedade e sua consciência coletiva.
A falta de cooperação social entre as pessoas, que cada vez mais adentrariam em um mundo de individualidades e trabalhos pouco interessados em fortalecer os grupos, estaria diretamente relacionado ao aumento dos suicídios na sociedade. A pouca regulação social em momentos de crise, por exemplo, daria margem a esse tipo de ato.
E por último, encerrando seus conceitos, estaria o suicídio fatalista. Nesses casos, ao contrário do que aconteceria nos suicídios anômicos, o excesso de regulamentação social e a falta de liberdades fundamentais do indivíduo seriam os elementos que levariam a esse ato.
Para eles, podemos citar exemplos de sociedades sob regimes totalitários, famílias extremamente rígidas e a escravidão, dadas as devidas proporções de coerção e da falta de liberdades.
Dados de importância e uma visão estatística do suicídio – OMS
Foi constatado pela Organização Mundial da Saúde (2014) que cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos ao redor do mundo – algo referente a uma pessoa morta a cada 40 segundos. O dado torna-se ainda mais preocupante quando se tratam das tentativas, que em comparação com o número de mortes, acontecem 20 vezes mais.
Todo suicídio torna-se uma tragédia que afeta a família, a comunidade e países inteiros, deixando grandes efeitos colaterais prolongados, principalmente, sobre as pessoas que ficam para trás.
Se tratando de jovens entre 15 e 29 anos, tem-se que o suicídio acaba sendo a segunda maior causa de morte no mundo. Fazem parte dessa estatística pessoas economicamente ativas, com relativamente pouco tempo de vida e ainda com uma enorme perspectiva relacionada ao viver.
O suicídio é um fenômeno global, que afeta praticamente a todos os países do mundo, mas principalmente aos países de baixa e média renda, como demonstram os dados da OMS referentes ao ano de 2015, tendo essas localidades apresentado 78% desses casos.
Em escala global, o suicídio foi responsável por 1,4% de todas as mortes no mundo no mesmo ano, tendo sido ranqueado em 17° lugar dentre todas as causas de morte (OMS, 2015).
Ainda se faz relevante mencionar que há mais causas de morte por suicídio do que por mortes causadas em função da soma de baixas em guerras e homicídios no mundo, representando 56% do total de mortes (OMS, 2014).
O perfil do suicídio e seus fatores de risco
Enquanto o algo sério que representa, sabe-se que o suicídio não acontece de um dia para o outro, que elementos diversos podem estar afetando a vida das pessoas que o planejam e que suas causas, tanto quanto esses elementos, normalmente são múltiplas e os casos demonstram isso.
Buscando esboçar um perfil para o suicídio, facilmente conseguimos perceber em primeiro lugar – ou deveríamos pelo menos – que dificuldades psicológicas estão fortemente conectadas com tentativas de suicídio – em particular, sentimentos depressivos e a dependência de substâncias.
A desordem psicológica desses acontecimentos pode ter um impacto muito intenso e negativo na vida das pessoas que os sofrem. É flagrante que diversos casos acontecem em momentos de crise e de altos níveis de estresse, como problemas financeiros, términos de relacionamento ou no descobrimento de doenças crônicas.
Em união a esses elementos, facilmente podemos apontar também que o vivenciar de conflitos, de experiências traumáticas, de abusos e de perdas vitais para a vida das pessoas estão recorrentemente associados a comportamentos que precedem o ato de suicídio.
Um dado importante para esse tópico diz respeito às altas taxas de suicídio entre grupos marginalizados e vulneráveis da sociedade, que estariam entre as maiores vítimas de discriminação e preconceito, como os refugiados e imigrantes, os indígenas, os LGBTQ+ e os ex-detentos.
Em forma de lista, reforçamos alguns fatores de risco para os quais devemos prestar atenção:
– Vivência de dificuldades psicológicas;
– Morte de uma pessoa querida;
– Traumas emocionais;
– Desemprego ou problemas financeiros;
– Histórico familiar de suicídio;
– Histórico de negligência ou abuso na infância;
– Não aceitação do envelhecimento;
– Término de relacionamentos;
– Não aceitação da orientação sexual ou identidade de gênero;
– Dependência de álcool e outras drogas.
Formas de prevenção ao suicídio
É importante se ter a consciência de que os suicídios podem ser prevenidos e de que existem diversas medidas que podem ser tomadas para que os mesmos sejam evitados. Pensando nisso, elencamos alguns pontos fundamentais para essa prevenção. A escuta atenta e a informação bem transmitida são aliados dessa conjuntura:
– Ouvir com atenção e respeito àquele que esteja correndo esse risco
– Levar o assunto a sério e verificar o grau desse risco
– Perguntar sobre tentativas anteriores e pensamentos com esse tema
– Ajudar a pessoa a pensar sobre outras soluções para além do retirar da própria vida
– Conversar com familiares e amigos imediatamente
– Em casos de risco imediato, remover possíveis meios para o suicídio
– Ajudar a pessoa a buscar ajuda especializada, sempre com o consentimento dela
– Permanecer ao lado da pessoa e dar apoio emocional a ela
– Entender os sentimentos da pessoa sem nunca diminuir a importância deles
– Procurar a rede de saúde, caso seja necessário, com o consentimento da pessoa
Garantir a efetividade destas medidas passa pela construção de uma boa e efetiva política nacional que inclua a colaboração entre setores de níveis governamentais e não governamentais e, também, de saúde e outros como a educação, o trabalho, a agricultura, o mercado, a justiça e a mídia.
Estes esforços devem ser integrados, de forma que se entenda que apenas um deles sozinho não será capaz de ter o impacto desejado em uma questão tão complexa como o suicídio.
A escuta atenta e a prevenção antecipada devem ser, assim como o monitoramento e a vigilância das estatísticas, na mesma medida, componentes principais de toda e qualquer estratégia a ser desenvolvida nesse sentido.
Os dados de suicídio no Brasil – Ministério da Saúde
Tendo como incentivo o setembro amarelo, mês de conscientização sobre a importância da prevenção ao suicídio que teve grande repercussão no país, o Ministério da Saúde divulgou o primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil em 21 de setembro de 2017.
Um dos alertas mencionados é a alta taxa de suicídio entre idosos com mais de setenta anos. Nessa faixa etária, foi registrada média de 8,9 mortes por cada 100 mil idosos nos últimos seis anos. A média nacional é de 5,5 por 100 mil.
O objetivo principal desse diagnóstico foi orientar a expansão e qualificação da assistência em saúde mental no país. O ministério, com base nesses dados, lançaria uma agenda estratégica para atingir a meta da OMS de redução de 10% dos óbitos por suicídio até 2020.
As principais ações que se pretende estabelecer são a capacitação de profissionais, orientação para a população e jornalistas, a expansão da rede de assistência em saúde mental nas áreas de maior risco, o monitoramento anual dos casos no país e a criação de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio.
O diagnóstico registrou entre 2011 e 2016, 62.804 mortes por suicídio, a maioria (62%) por enforcamento. Os homens concretizaram o ato mais do que as mulheres, correspondendo a 79% do total de óbitos registrados.
Os solteiros, viúvos e divorciados, foram os que mais morreram por suicídio (60,4%). Na comparação entre raça/cor, a maior incidência é na população indígena. A taxa de mortalidade entre os índios é quase três vezes maior (15,2) do que o registrado entre os brancos (5,9) e negros (4,7).
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é maior entre os homens, cuja taxa é de 9 mortes por 100 mil habitantes. Entre as mulheres, o índice é quase quatro vezes menor (2,4 por 100 mil). Na população indígena, a faixa etária de 10 a 19 anos concentra 44,8% dos óbitos.
O documento apresenta ainda que, entre os anos de 2011 e 2016, ocorreram 48.204 tentativas de suicídio. Ao contrário da mortalidade, foram as mulheres que atentaram mais contra própria vida, 69% do total registrado. Entre elas, 1/3 fez isso mais de uma vez.
Por raça/cor, a população branca (53,2%) registrou maior taxa. Do total de tentativas no sexo masculino, 31,1% tinham entre 20 e 29 anos. Além disso, 58% dos homens e mulheres que tentaram suicídio utilizaram substâncias que provocaram envenenamento ou intoxicação.
Diante desses altos índices apresentados e de um cenário que é alarmante, os serviços de assistência psicossocial tem papel fundamental na prevenção ao suicídio. O Boletim apontou que nos locais onde existem Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), uma iniciativa do SUS, o risco de suicídio se reduz em até 14%.
Existem no país quase 2.500 CAPS e, no último ano, foram habilitadas 146 unidades, com custeio anual de R$ 69,5 milhões do Ministério da Saúde. A OMS também tem identificado a atuação da mídia em relação aos suicídios como uma área estratégica para ajudar a prevenir tais atos.
O estigma em relação ao tema do suicídio impede a procura de ajuda, que pode evitar mortes. Da mesma forma, sabe-se que falar de forma responsável sobre o fenômeno do suicídio opera muito mais como um fator de prevenção do que como fator de risco, podendo, inclusive, se contrapor a suas causas.
Nesse sentido, falar sobre o tema sem qualquer tabu, enfrentando os estigmas inerentes a ele, bem como conscientizar e estimular sua prevenção, pode contribuir para reverter à situação crítica que estamos vivendo.
Fonte dos dados: Secretaria de Vigilância em Saúde − Ministério da Saúde – Brasil
Onde buscar ajuda em casos de emergência e risco eminente ao suicídio?
– Familiares e amigos: conte o que está acontecendo!
– CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Postos de Saúde da Família, Unidades Básicas de Saúde e Centros de Saúde).
– UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro e Hospitais
– Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita)
O CVV – Centro de Valorização da Vida – realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e vídeo – 24 horas todos os dias.
A ligação para o CVV acontece em parceria com o SUS, por meio do número 188. São gratuitas por meio de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar o site www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre a ligação gratuita.
Sobre Pietro Navarro Portela
Graduado em Ciências Sociais pela UNICAMP, atuando como gerente de conteúdo do CENAT. Tem experiência com as áreas de Marketing Digital, Psicologia e Sociologia.
FONTE: cenatcursos.com.br