Artigo
Uma lição que vai ficar após o coronavírus
quarta-feira, 15 de abril de 2020, 18h18
Voltaire de Lima Moraes, Presidente do TJRS, Doutor em Direito
Ao menos na era mais moderna, certamente a pandemia causada pelo novo coronavírus tem sido a maior guerra travada pelos mais diferentes países de todo o globo terrestre para manter a sobrevivência de seus habitantes. Uma guerra que assume um caráter singular, jamais antes visto: todos os países unidos, numa interlocução permanente, onde as tradicionais armas bélicas são substituídas pela infantaria sólida, humanitária e responsável dos profissionais da saúde, contra um inimigo comum e invisível, esse novo vírus. A eles se somam, em solidariedade, homens e mulheres de todas as áreas do conhecimento. Pobres, ricos, civis e militares, crentes e ateus, pessoas simples e sofisticadas, numa corrente universal, que numa guerra comum seria inconcebível pensar, formando um exército que vai ser registrado pela história como o mais compacto, solidário e efetivo que já se formou para debelar esse mal. E sob os olhares de uma imprensa livre e responsável, que a tudo acompanha, registra e procura difundir informações colhidas de especialistas, da forma mais didática possível e com uma preocupação pedagógica.
Disso tudo, certamente, vai despertar a imperiosa conscientização de que será necessário, sobretudo em nossos dirigentes, responsáveis pela implementação de políticas públicas, de que é preciso investir cada vez mais nas áreas das pesquisas e da saúde: uma lição eloquente, que não admitirá recuos, notadamente porque, claudicar nessas áreas significa, como consequência, afetar a atividade econômica, responsável pela geração de empregos e riquezas de um país, como se está a ver agora. E, a isso também, não se deve descurar do necessário investimento na Educação, sem o que os hábitos de higiene elementares sequer são conhecidos e ensinados em muitas regiões, muito menos as demais áreas de conhecimento para se viver com dignidade em sociedade.
O investimento nessas políticas públicas terá como consequência, dentre outras, a do decréscimo no ajuizamento de ações voltadas à preservação da vida e da saúde das pessoas, como se verifica no dia a dia forense, onde os juízes(as) são chamados, frequentemente, para determinar ao Poder Público, em face da sua inércia, a entrega de remédios, a internação hospitalar ou outro bem da vida necessário para a sua sobrevivência; angústia permanente, vivida por milhares de magistrados(as), que procuram reunir forças dantescas que lhes dê serenidade e um dever de consciência superior para bem decidir em situações delicadas como essas.
Tiremos, pois, dessa guerra, travada no isolamento social e no confinamento vivido em nossas casas, que nos impede de estar próximos aos nossos familiares e amigos, essa grande lição, que não seja efêmera, mas que nos sirva para redirecionarmos melhor nossas intenções, nosso agir e um fazer diferente, situados num patamar superior, fruto de uma experiência jamais dantes experimentada.
*Artigo publicado nesta segunda-feira, 06/4/20, no jornal Correio do Povo
Fonte: www.tjrs.jus.br