MP oferece denúncia contra policiais presos por corrupção e formação de quadrilha
sexta-feira, 16 de março de 2007, 00h00
O Ministério Público Estadual (MPE) ofereceu hoje denúncia contra os dez policiais militares do Grupo Especial de Fronteira (Gefron) presos no dia 8 deste mês acusados de facilitarem a passagem de mercadorias sem recolhimento de taxa alfandegária na fronteira entre a Bolívia e o Brasil. O processo, subdividido em três para facilitar a análise e o andamento, foi encaminhado à juíza Lúcia Peruffo, da 11ª Vara Especializada da Justiça Militar da Capital.
As investigações do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), do MPE, tiveram início há aproximadamente um ano. Conforme o Olhar Direto antecipou, havia um acerto prévio entre os policiais denunciados e os lojistas e sacoleiros que garantia a passagem na fronteira. A propina era paga em espécie, depósitos bancários e cheques.
Rinaldo da Cruz Oliveira (soldado) e Adevair Cevada (cabo) eram os responsáveis pela articulação junto ao grupo, por serem os únicos que trabalhavam sempre no mesmo local, o Posto Militar do Limão, em Cáceres. No entanto, o rateio da propina entre os demais policiais ficava a cargo de outros membros da quadrilha.
“O maior valor (de uma operação) que eu pude constatar foi de R$ 1,5 mil”, afirmou o promotor Rubens Alves de Paula. Segundo ele, durante os depoimentos, os policiais negaram todas as acusações e afirmaram que não conheciam as pessoas que pagavam a propina. “Mas ficou provado que os sacoleiros e os lojistas combinavam por telefone o dia e o horário em que os policiais estariam de plantão. Havia certa confiança entre as partes, porque a maioria dos pagamentos era feita depois, em depósitos”, contou o promotor.
O Ministério Público não divulgou o resultado das quebras de sigilos bancário e telefônico dos acusados, já que o processo tramita sob segredo de Justiça, mas o promotor informou que as movimentações financeiras deles eram incompatíveis com os seus rendimentos. “Alguns justificaram que a renda era maior porque eles vendiam roupas nos dias de folga”, disse.
Além de Cevada e Cruz, foram presos Waldir Francisco Góes (sargento), José Antônio dos Santos Leite (soldado), Heverton Dias de Moura (soldado), Edenilson Joaquim Simões Hurtado (soldado), Maria Rosimary Gonçalves Mendes (sargento), Elcio do Nascimento Justino (soldado), Romagno Gomes de Oliveira (soldado) e Josuel Leandro Tracz (soldado). Desde o início da investigação, que demorou a ser concluída devido à extensão de 780 km de fronteira seca entre os dois países, quatro deles foram transferidos sem alarde dos cargos para evitar a continuidade da corrupção.
Até agora, o MPE identificou sete pessoas, entre sacoleiros e lojistas, que teriam participado do esquema. São moradores de Cuiabá, Cáceres e São José dos Quatro Marcos. Eles responderão por descaminho (contrabando), corrupção e formação de quadrilha. Em depoimento, conforme o promotor, eles também negaram as acusações. “A maioria deles já responde por processos na Justiça Federal”, informou.
Os policiais militares continuam detidos no presídio militar de Santo Antônio do Leverger.
Fonte – Site Olhar Direto