Arcanjo e sua organização sofrem outra derrota em MT
quarta-feira, 17 de outubro de 2007, 00h00
Investigação de promotores do Gaeco chega a mais recente rede do "Comendador", que comandava o jogo do bicho de dentro da penitenciária
Andréia Fontes
A Gazeta
João Arcanjo Ribeiro, o "Comendador", foi transferido ontem para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) logo após a deflagração da "Operação Arrego", por ter ficado comprovado que, mesmo dentro da Penitenciária do Pascoal Ramos, ele continuava comandando o jogo do bicho em Mato Grosso e cooptando servidores públicos, como policiais civis (delegados e investigadores) e militares para sua organização criminosa. A transferência de Arcanjo foi autorizada na segunda-feira pela juíza da Vara de Execuções Penais, Selma Rosane Santos Arruda e a operação foi deflagrada às 6 horas de ontem. Arcanjo saiu de Cuiabá por volta da 13h30, inserido no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
Durante a operação, coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), foram decretadas as prisões de 17 pessoas, entre elas a do "Comendador", do delegado de Sinop, Richard Damaceno, da delegada do município de Cláudia, Helena Heloisa de Miranda, do genro do "Comendador", Giovanni Zem Rodrigues, de um ex-cunhado, Awanio Moreira da Silva, dois policiais civis, cinco policiais militares, um advogado, e mais quatro pessoas ligadas ao "Comendador" que cuidavam dos seus "negócios".
O Gaeco não conseguiu prender duas pessoas, sendo Keila Cristina Untar, que era uma espécie de gerente do jogo do bicho e Rener Robert, também gerente do jogo do bicho da região de Sinop e que tinha sido transferido para Cuiabá.
O genro de Arcanjo é acusado de ser o grande gerenciador do jogo do bicho fora da prisão. Era ele quem determinava o que deveria ser feito para que a contravenção continuasse, quem pagar e quanto pagar, tudo a mando do "Comendador".
Giovanni e um dos advogados de Arcanjo, Sílvio Alexandre de Menezes, que também foi preso, eram o elo do "Comendador" dentro da prisão. De acordo com as investigações do Gaeco, Arcanjo recebia visitas diariamente. O promotor Joelson Campos Maciel, do Gaeco, afirmou que a lista de visita era "extensa", principalmente em relação as visitas dos defensores. O advogado, preso pela manhã, conseguiu um habeas corpus no Tribunal de Justiça no início da noite e foi solto ainda ontem.
Os cooptados - Os delegados foram aliciados pela organização para agir contra os concorrentes de Arcanjo que estavam se instalando no município de Cláudia, segundo afirmou o promotor Mauro Zaque. "Há provas que eles (delegados) agiram como funcionários do crime organizado e não como policiais em favor da sociedade".
Segundo o promotor, o delegado Richard Damaceno foi cumprir mandados de busca e apreensão em Cláudia "motivado pela organização criminosa". As investigações apontam que os policiais envolvidos com Arcanjo recebiam em média R$ 1,5 mil por mês. Quanto ao valor que os delegados teriam recebido, o promotor Mauro Zaque não quis revelar.
Policiais civis e militares presos agiram durante a apreensão de um apontador do jogo do bicho, pedindo dinheiro para liberação tanto do "funcionário" de Arcanjo como da moto apreendida. Entre os policiais, no entanto, estão dois integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), considerado o grupo de elite da Polícia Militar, Anilton Sérgio da Silva e Basílio Monteiro de Oliveira. Basílio, por sua vez, já integrou o grupo de policiais que nos primeiros meses, depois da extradição de Arcanjo, fez toda a segurança do "Comendador" e era responsável por todo o deslocamento do réu para as audiências. (ver no quadro ao lado a participação de todos os presos)
Desdobramentos - Novas prisões podem surgir de pessoas ligadas a João Arcanjo Ribeiro após a análise dos documentos apreendidos durante a operação. A afirmação é do promotor Mauro Zaque, um dos coordenadores da operação Arrego. Os presos ontem são acusados de corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha e contravenção penal (jogo do bicho). No caso do "Comendador", foram três mandados de prisão, pelos crimes cometidos em Cuiabá, Cláudia e Tangará da Serra.
"Mato Grosso deu um grande passo e exemplo, demonstrando que o Estado não está dormente e inerte. Se o jogo do bicho persistir, vai ser de forma muito tímida. E se continuarem, podem ter certeza que um dia vamos acordar em cima deles", disse Mauro Zaque.
O promotor Joelson Campos Maciel destacou que o grande sinal do poder do "Comendador" em Mato Grosso é que ninguém conseguiu entrar no jogo do bicho até hoje.
O Gaeco acredita que a partir da operação "Arca de Noé", em dezembro de 2002, quando foi decretada a primeira prisão de Arcanjo, o jogo do bicho deu uma espécie de pausa. Os promotores não sabem afirmar quando ele voltou a funcionar, mas destacam que em Cuiabá e Várzea Grande, por exemplo, a contravenção continua. Hoje, no entanto, para se fazer uma aposta é preciso conhecer os apontadores. "Esta atividade é típica de organização criminosa e por trás vem toda uma teia de crimes", acrescentou Mauro Zaque. (Leia mais na página 2)