Arcanjo parte para MS
quarta-feira, 17 de outubro de 2007, 00h00
Operação para combater contravenção em MT acaba na tão aguardada transferência do bicheiro para presídio federal
Depois de constatado “escritório” do jogo do bicho no presídio, Arcanjo foi imediatamente embarcado
ALECY ALVES
Diário de Cuiabá
Numa ação sigilosa que mobilizou dezenas de policiais, o “comendador” João Arcanjo Ribeiro foi transferido no início da tarde de ontem da penitenciária do Pascoal Ramos para o presídio federal de Campo Grande (MS). A ida dele aconteceu menos de 7 horas depois de deflagrada a Operação Arrego, que resultou na prisão de 17 pessoas, entre elas dois delegados de polícia, cinco policiais militares, dois policiais civis, um advogado, o genro de Arcanjo, Giovani Zen Rodrigues, e supostos gerentes do jogo do bicho em várias cidades do Estado. Até o fechamento desta edição, dois mandados ainda estavam em aberto.
Deflagrada pelo Grupo de Ação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), a operação trouxe à tona a informação de que, de dentro da penitenciária, João Arcanjo vinha comandando o jogo do bicho e tinha como braço direito seu genro. De acordo com as investigações, Arcanjo mantinha um “escritório” dentro do presídio e tinha liberdade para receber visitas todos os dias, em especial do genro Giovani (estudante de Direito) e do advogado Silvio Alexandre de Menezes.
O “comendador” também cooptava e corrompia policiais e até combatia fortemente a concorrência de outros operadores do jogo. Em Cláudia (cidade a 620 quilômetros de Cuiabá), por exemplo, os delegados Richard Damasceno e Helenas Yloise de Miranda, ambos presos ontem, teriam chegado a fazer uma operação para apreender material de apostas e proibir a instalação de um concorrente do “comendador”. A mando da organização de Arcanjo, os delegados proibiram uma modalidade de apostas similar a do bicho, batizada de “águia de ouro”. Conforme o promotor do Gaeco, Mauro Zaque, as investigações mostram que o delegado Damasceno se deslocou de Sinop, onde estava lotado, especialmente para a operação de repressão ao concorrente.
Dois dos cinco policiais militares presos, os soldados Basílio Monteiro da Silva e Anilton Sergio da Silva, pertencem ao Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), o grupo de elite da PM. O promotor Joelson Campos disse que um deles, Basílio Silva, chegou a atuar na guarda de Arcanjo logo que extraditado do Uruguai, em 2006.
Basílio, Anilton e os colegas de farda Robson Bernardo da Silva, Gilmar da Silva Pereira, são acusados de negociar propina para liberar um apontador do jogo do bicho detido em Cuiabá. Já os agentes da Polícia Civil, Onésimo Martins de Campos, conhecido como “Poconé”, e Hiroshi Wakiejama, liberam uma moto de outro apontador detido com bilhetes de apostas.
O ex-cunhado de Arcanjo, Awanio Moreira da Silva, é apontado como gerente das transações, além de recolher o dinheiro, negociava com policiais. A extração do jogo acontecia em sua casa, no Jardim Vitória. A irmã de Giovani, Romana Zen Rodrigues, explicou Mauro Zaque, atuava como contadora do grupo, juntamente com Keila Cristina Untar. O advogado Silvio Alexandre Menezes também fazia os contatos com Arcanjo e negociava com policiais. Os outros envolvidos são Agnaldo Gomes de Azevedo; soldado PM de Tangará da Serra, Heronides Jardim França, e Rener Robert. Keila e Rener são os únicos que estão foragidos.