João Leite, antigo cobrador de João Arcanjo, volta a ser preso, com mais 2, acusado de extorquir pessoas dentro do MP
sexta-feira, 07 de dezembro de 2007, 00h00
Em uma situação sequer imaginada por diretores de Hollywood, dois cobradores de dívidas que trabalhavam junto com João Leite, ex-cobrador da organização de João Arcanjo Ribeiro, foram presos ontem no início da manhã dentro da Procuradoria Geral de Justiça de Mato Grosso, no Ministério Público Estadual. Os três já estão presos no presídio Pascoal Ramos acusados de extorquir pessoas endividadas e formação de quadrilha. João Leite, condenado a quase 15 anos de prisão pela morte de Sávio Brandão, estava cumprindo regime semi-aberto. Agora, está de volta à prisão, novamente pelas mãos do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
Os dois cobradores da quadrilha, Wilson Benedito Augusto Delgado e Roberto de Melo Mitev, foram presos na Procuradoria porque ousaram entrar no Ministério Público para cobrar a dívida de um empresário que presta serviços para o órgão em pleno Encontro Estadual dos Promotores de Justiça. Wilson e Roberto seguiram o empresário até o saguão do órgão e fizeram ameaças. O fato foi gravado pelo circuito interno de segurança.
Com medo das represálias dos cobradores, alguns minutos antes, a vítima havia ligado para o Gaeco para avisar que estava sendo seguido e que ia para o MPE. Os promotores do Gaeco já investigavam o grupo por causa de denúncias de outras vítimas e aguardavam apenas a liberação do mandado de prisão, que saiu antes dos dois cobradores saírem do órgão. A ousadia dos cobradores surpreendeu os servidores do MPE. Segundo o procurador-geral de Justiça, Paulo Prado, essa atitude mostra como essas pessoas acreditam na impunidade e até que podem chegar para cometer um crime.
O empresário havia feito uma dívida com uma madeireira do norte de Mato Grosso e descobriu que a cobrança estava com a quadrilha de João Leite após começarem as ameaças. Os cobradores teriam sido contratados por um funcionário do irmão de Valdir Piran. Assustado, o empresário deu um cheque para pagar a dívida, de R$ 3 mil, que foi devolvido. Por causa disso, a empresa avisou que entraria com um processo na Justiça. Ao ser cobrado novamente, o empresário recebeu a notícia de que a dívida agora era de R$ 15 mil, com honorário das cobranças. Após muita negociação, o valor baixou para R$ 3 mil.
Há cerca de um mês, o Gaeco investigava denúncias de vítimas de extorsão da quadrilha. Os relatos apontavam que os cobradores pegavam uma dívida e passavam a ameaçar os devedores, chegando a cobrar valores maiores que o devido. Conforme as investigações, João Leite chegava a usar a fama dele pelo envolvimento com Arcanjo para assustar as vítimas. “Você sabe com quem está falando? Já ouviu falar de João Leite? Sou eu”, falava Leite em tom de ameaça, segundo o Gaeco.
O grupo não trabalhava com empresas fixas. Era contratado por pessoas diferentes para fazer as cobranças. João Leite foi preso próximo à casa dele no final da tarde. O MPE já encaminhou para a 14ª Vara Criminal documentos que pedem o retorno de João Leite para regime fechado na condenação do caso Sávio Brandão, porque nas ligações interceptadas é possível identificar que ele não passava as noites na Casa do Albergado, como deveria ocorrer.
O Gaeco chegou até o empresário porque estava investigando o caso e o chamou para depor há cerca de 20 dias, quando ele relatou toda a situação.
Fonte:
Jornal Diário De Cuiabá
Jornalista ALINE CHAGAS
Fotógrafo GERALDO TAVARES D/C