GAECO
Operação ‘Colutório’ estoura bocas-de-fumo em bairros de Cuiabá

por CLÊNIA GORETTH
quinta-feira, 22 de abril de 2010, 08h42
Aproximadamente 80% dos crimes ocorridos em Cuiabá estão ligados ao tráfico de drogas. A informação partiu do coordenador do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), procurador de Justiça Paulo Roberto Jorge do Prado, que nesta terça-feira (20/04), participou da operação ‘Colutório’. O objetivo foi ‘estourar’ bocas-de-fumo existentes nos bairros da Capital, mostrando aos traficantes que as instituições responsáveis pela segurança pública estão unidas e não vão dar trégua.
“Essa operação também teve finalidade pedagógica. Queremos mostrar aos traficantes que estamos unidos e não vamos parar por aqui. Se abrir a boca-de-fumo de novo, nós voltaremos lá quantas vezes for necessário”, ressaltou o coordenador do Gaeco.
A operação ‘Colutório’ foi desencadeada em 18 pontos de venda de drogas, em bairros da região do Coxipó, Morada da Serra, Santa Isabel e área central. A ação contou com a participação de 153 homens da Força Tática da Polícia Militar, Agência Central de Inteligência da PM, Gaeco e Ciopaer. O trabalho durou aproximadamente três horas.
Ao todo foram apreendidas 108 trouxinhas de pasta base, 134 gramas de maconha, R$ 3.252,80 em notas miúdas, 14 celulares, 12 máquinas digitais, 02 aparelhos de DVD, 01 arma de fogo com munição (garrucha), 01 filmadora, 01 notebook, 09 peças de jóias. Doze pessoas, sendo sete homens e cinco mulheres, foram conduzidas à delegacia para a lavratura do flagrante.
Segundo o coordenador do Gaeco, os policiais que participaram da operação foram orientados a recolher nas bocas-de-fumo todo o material que caracterizasse o tráfico de drogas, como balanças, bicarbonato, papéis para embalagem de trouxinhas, entre outros itens. Os celulares apreendidos serão importantes instrumentos para realização de novas investigações que terão como ponto de partida as informações contidas nos aparelhos.
De acordo com o secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, Alexandre Bustamante, operações semelhantes à que foi realizada em Cuiabá, acontecerão em todo o Estado. O combate às bocas-de-fumo é uma das prioridades estabelecidas pelo governo do Estado. No ano passado, as trouxinhas de drogas apreendidas na Capital corresponderam a 187 quilos. No primeiro trimestre deste ano, já foram apreendidos 63 quilos.
DESTRUIÇÃO: Eram 16h30, quando dezenas de carros da Polícia Militar saíram em comboio do Comando Geral da PM para o cumprimento dos mandados de prisão. Acompanhamos a equipe do Gaeco em três pontos de venda de drogas nos bairros Planalto, Novo Horizonte e CPA IV.
Nos três locais visitados, uma certeza: a droga destrói a auto estima e o caráter das pessoas,. A miséria, a sujeira e o desgaste físico dos usuários eram evidentes.
No primeiro local que estivemos, por exemplo, um jovem aparentando 30 anos mal conseguia se levantar do sofá no momento em que os policiais chegaram. Pálido, ele se mantinha inerte com um olhar que parecia não levá-lo a lugar algum. O mais chocante foi a presença de duas crianças de aproximadamente 03 e 07 anos. Elas pareciam estar acostumadas com aquela situação e não se assustaram com a presença de estranhos, apenas acompanhavam atentamente o que estava acontecendo.
No bairro Planalto, a boca-de-fumo funcionava em um bar. Enquanto os policiais faziam a vistoria, os quatro jovens que estavam no local, sendo três mulheres e um homem, pareciam não estar muito preocupados com a ação da polícia. Apesar de a movimentação ter despertado a atenção de toda a vizinhança, eles não demonstraram estar envergonhados com a situação. Pelo contrário, parecia que tudo aquilo era normal, mais uma ação rotineira. Do grupo de moradores, apenas uma menina de aproximadamente sete anos mantinha uma aparência assustada e não desgrudava das pernas da mãe.
No CPA IV, a residência utilizada para o tráfico fugiu um pouco dos padrões dos outros dois bairros e possuía uma fachada mais atrativa. Só que, em seu interior, a situação era bem diferente: poucos móveis e três jovens, cuja aparência não escondia os efeitos da droga. Um deles, quando indagado sobre sua profissão, disse que era estudante, mas não soube dizer bem o nome da escola em que estudava.
Já eram quase 18h e chegava ao fim o trabalho realizado pela equipe do Gaeco, quando duas moças passaram em um carro, em frente à boca-de-fumo do CPA IV, e gritaram É isso aí, parabéns!!!! O agradecimento aos policiais soou como uma recompensa, após uma tarde tensa e desgastante, fisicamente e emocionalmente.