Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Majur quebra tabus e se torna a primeira cacique trans de Mato Grosso

sexta-feira, 13 de agosto de 2021, 09h37

Majur é uma mulher indígena e trans. Com 29 anos de idade, ela está vivendo dois importantes momentos na sua vida. O primeiro é que começou o tratamento para sua redesignação sexual. E o segundo fato é que ela acaba de se tornar a primeira mulher trans a ocupar o posto de cacique em Mato Grosso e uma das primeiras do Brasil.

 

fotos por Joicy Souza

                                                         Foto por Joicy Souza

 

Liderança em sua comunidade, Majur mora na aldeia Apido Paru da Terra Indígena Tadarimana, localizada em Rondonópolis (MT). Além da sua função de destaque junto a seu povo, ela também trabalha como agente indígena de saúde, prestando serviços de assistência básica em sua comunidade.

 

Sua profissão na área da saúde a faz cultivar um sonho maior, a de ser médica e continuar atendendo os povos indígenas.

 

O desejo de ajudar o próximo começou desde criança, quando já manifestava o desejo de trabalhar pelo melhor de sua comunidade. Filha de cacique, aprendeu o significado da liderança logo criança.

 

Aos 12 anos, Majur já se percebia mulher trans. “Eu me descobri desde quando me intendo como pessoa. As minhas coisas eram mais ligadas ao feminino, gostava de brincar com boneca, gostava mais de ficar ao lado das meninas e sentia atração por meninos”.

 

Apesar de que a aceitação de pessoas trans ainda seja um tabu entre muitas famílias indígenas, a família de Majur sempre a respeitou e apoiou.

 

“A coisa que mais me marcou nessa vida mesmo foi ter quebrado o tabu falando sobre a minha vida no filme “Majur” isso fez com que criasse mais expectativa entre as pessoas que estão no armário. Mais pessoas, indígenas inclusive, tiveram coragem de se assumir”, relata ao se referir do impacto do curta-metragem com seu nome, estreado em 2018, sob direção de Íris Alves Lacerda.

 

Majur também demonstra empolgação por ter participado da ocupação artística Corpo Espetáculo, na qual vê como oportunidade para ajudar a desmistificar a visão distorcida que a sociedade ainda tem em relação aos indígenas LGBTQIA+.

 

Com forte posicionamento político, ela também denuncia os abusos praticados pelo Governo Bolsonaro. “Nós indígenas somos vítimas de muito racismo e homofobia desse governo e seus aliados. Somos os piores inimigos desse governo doente e genocida”, assevera.

 

Majur é a expressão viva da resistência e da superação. Contra todas as adversidades, ela se transforma em cacique de sua comunidade Boe Boboro , grava seu nome na história de um país que no primeiro semestre de 2021 matou 80 pessoas transexuais, conforme dados da Associação Nacional de Trans e Travestis (Antra).

 

Majur demonstra que a ocupação de espaço por pessoas LGBTQIA+ é mais que possível, é uma urgente necessidade. “Quero deixar frisado para a sociedade, que nossa orientação sexual ou de gênero não define nossa personalidade. Somos o que somos e não o que essa sociedade LGBTfóbica quer que a gente seja”, pontua.

 

Majur e uma das 11 figuras retratadas em Corpo Espetáculo, um projeto aprovado na seleção estadual nº 5 — Edital Nascente da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), por meio dos recursos da Lei Federal nº 14.017/2020, designada Lei Aldir Blanc.

 

matéria por Vinicius Bruno

FONTE: Corpo Espetáculo 


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