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TRF1 - INSTITUCIONAL: Psicólogo destaca em palestra que o enfrentamento dos transtornos mentais relacionados ao trabalho deve ser feito em nível institucional

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022, 16h06

INSTITUCIONAL: Psicólogo destaca em palestra que o enfrentamento dos transtornos mentais relacionados ao trabalho deve ser feito em nível institucional

 


O psicólogo Thiago Dias Costa, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutor em Teoria e Pesquisa do Comportamento, afirmou nessa quarta-feira, 23 de fevereiro, durante a palestra “A importância de se falar sobre transtornos mentais relacionados ao trabalho” proferida no TRF 1ª Região, que enfrentar o transtorno mental relacionado ao trabalho é algo que deve ser feito em nível institucional.

 

O evento, promovido em ambiente virtual pela Secretaria de Gestão de Pessoas (SecGP) do Tribunal, por meio do Centro de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento de Servidores da 1ª Região (Cedap), reuniu gestores e servidores do Tribunal e de suas Seções e Subseções Judiciárias.

 

Thiago Costa apresentou os transtornos mentais relacionados ao trabalho, como alcoolismo, depressão, transtornos de pânico e neurótico, ansiedade, síndrome de burnout ou do esgotamento profissional – distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.

 

Inicialmente, ele explicou a diferença entre transtornos mentais e de comportamento. “O mental se refere a determinados aspectos do nosso comportamento que a gente não consegue observar, como pensamentos que parece que nos perseguem, a despeito da nossa motivação ou de não querer pensar naquilo. Ou aquela música que pega e quando a gente vê está cantarolando. Tem determinadas coisas que acontecem que a ciência ainda não tem condições de observar. Para esses aspectos da nossa vida, esse universo interno que cada um de nós tem, utilizamos o termo mental”, explicou

 

No entanto, disse ele, boa parte dos problemas mentais não são só da ordem de pensamentos e a maioria acaba afetando nosso comportamento. “Os transtornos de comportamento são mudanças de certos padrões de atitudes, da forma como a pessoa se comporta dentro de determinado ambiente. Essas diferenças de comportamento podem ser diretamente observadas”, informou

 

Segundo o psicólogo, atualmente o termo mais usado é transtornos mentais e do comportamento, porque tratam não só de perturbações cognitivas, mas também comportamentais. “A palavra transtorno no dicionário é uma perturbação, uma mudança de ordem, é bagunçar algo que estava em ordem. Frente ao que o indivíduo era antes de adoecer sua cognição mudou. A capacidade que ele tem de regular e controlar as emoções mudou e a forma como ele se comportava naquele ambiente mudou”, ressaltou.

 

Como exemplos de perturbações cognitivas, ele citou o stress pós-traumático, que acomete muita gente durante a pandemia, decorrente da perda de pessoas próximas ou da vivência de eventos naturais que sejam potencialmente prejudiciais à nossa saúde e sobrevivência.

 

O especialista falou, ainda, de perturbações de regulação emocional, como quando as pessoas que antes eram calmas passam a ficar nervosas, "estouradas", agressivas e com menos tolerância à frustração. Ou que antes conseguiam regular as suas relações e controlar os seus desejos e agora não conseguem mais. “São pessoas que já não estão segurando emocionalmente seus desejos e seus impulsos”, comentou.

 

Thiago Costa observou que os transtornos não são pontuais e que todos ficamos tristes e queremos muitas vezes ficar isolados em nosso canto e isso não é transtorno mental, porém, que quem sofre esse tipo de problema não é mais capaz de fazer as atividades diárias, que antes fazia tranquilamente; ela perde o auto cuidado. “O transtorno mental e comportamental é uma mudança permanente de comportamento e personalidade por períodos prolongados de tempo, até que esse transtorno seja devidamente tratado. São raríssimos os transtornos que passam sozinhos. De todos os transtornos relacionados ao trabalho, o único que passa sozinho é o estresse pós traumático, que passa depois de seis a oito meses dos primeiros sintomas,” explicou Thiago, que também identificou os principais sintomas dos transtornos mentais relacionados ao trabalho, como a fadiga, tensão muscular, distúrbios do sono e irritabilidade.

 

Dados – O psicólogo relatou que atualmente os transtornos mentais e comportamentais já estão entre as principais causas dos afastamentos do trabalho, de acordo com dados estatísticos do SUS. “O afastamento do trabalho por transtorno mental ocupa a terceira posição entre as causas de concessão de benefícios, não só de auxílio-doença, como também de aposentadoria precoce por invalidez. Inclusive de servidores públicos, por conta de doenças coronarianas e dores nas costas”, falou.

 

Ele trouxe dados sobre o percentual de pessoas que sofrem de transtornos mentais no trabalho por conta de fatores psicossociais: executar um trabalho de alta exigência, ou seja, com alta demanda e baixo controle (56,5%); baixo apoio social (52,7%); alto esforço e baixa recompensa (55,7%); e alto excesso de comprometimento (87%).

 

Em relação à carga horária dos servidores públicos, ele afirmou que durante a pandemia e o trabalho em home office a carga horária dos homens aumentou em duas horas e das mulheres em quatro, já que elas ainda têm as tarefas do lar e os filhos para cuidar.

 

A diretora da Divisão de Saúde Ocupacional (Disao), Monica Silva da Cunha, informou, no chat durante a palestra, que os transtornos mentais no TRF1 são a segunda maior causa de afastamento e o primeiro motivo são as lombalgias e as dorsalgias.

 

Possíveis causas – Como principais causas dessas doenças, o palestrante apontou que o trabalho é um elemento essencial em nossa vida e tem um impacto muito grande na nossa saúde. A insegurança no emprego, excesso de trabalho, além de falta de reconhecimento, de turnos definidos, de um ambiente tranquilo e adequado para o desenvolvimento das funções pode prejudicar o servidor e levar ao adoecimento.

 

Outros fatores citados foram mudanças estruturais no trabalho e gerenciais, que geram insegurança e expectativa, falta de educação dos gestores e chefia, e de acesso aos insumos para desempenhar seu trabalho.

 

Além disso, o professor pontuou que as instituições devem criar, com frequência, políticas de conscientização dos servidores para respeito às diferenças, combate ao racismo e ao assédio moral e sexual, para que os servidores se sintam protegidos e seguros.

 

Para o palestrante, todos os servidores e gestores devem estar preparados para identificar os sintomas e informar às áreas responsáveis, como o serviço médico e de assistência psicossocial.  

 

Prevenção – O especialista apontou medidas de prevenção dos transtornos mentais relacionados ao trabalho. A principal delas é afastar o trabalhador do agente causador do transtorno mental relacionado ao trabalho. "É necessário identificar o risco de exposição após avaliação do ambiente e organização do trabalho e introduzir mudanças significativas que sirvam de proteção à saúde dos trabalhadores", orientou.

 

Tratamento – Como tratamento, o psicólogo indicou que é preciso um diagnóstico especializado e o afastamento do trabalhador por prescrição médica. “Cada médico tem sua conduta no tratamento, que pode incluir remédio e psicoterapia”, falou.

 

Ainda pontuou a orientação de colegas e chefia para lidar com a situação, com colaboração e suporte para identificar novos casos e destacou que atividades físicas ajudam bastante na prevenção dos transtornos e no tratamento deles.

 

Certificado – O certificado será liberado via plataforma Moodle para aqueles que assinaram a lista de presença e fizerem a Avaliação¿de¿Reação¿ da palestra, até o dia 26 de fevereiro. Qualquer dúvida pode ser encaminhada ao e-mail¿sedup@trf1.jus.br.

 

 

 

Fonte: TRF1


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