Violência e Saúde Mental da Mulher
por JOEL RENNÓ
quarta-feira, 13 de julho de 2022, 15h15

A violência contra a mulher sempre existiu nas relações humanas e em todas as culturas. Isso apesar dos avanços ao longo do século conquistados pelas lutas feministas.
Há diversos tipos de violência contra a mulher- geralmente perpetradas por homens. Todas causam profunda dor física, emocional e espiritual. Muitas dessas dores acompanharão as mulheres pelo resto de suas vidas, prejudicando-as demais nos relacionamentos e qualidade de vida. É um crime contra os direitos humanos!
A própria condição de gênero leva as mulheres, principalmente as negras e de baixo status sócio-econômico, a uma vulnerabilidade maior de serem agredidas de diversas maneiras desumanas pelos homens, sejam próximos, íntimos ou estranhos.
Quando pensamos sobre violência de gênero não podemos nos esquecer dos múltiplos fatores causais e mantenedores da mesma, é um processo amplo e complexo.
Os estudos da área demonstram uma ampla variação na taxa de violência contra a mulher, partindo de 25% até 75% das mulheres sendo vítimas de algum tipo de violência (física, psicológica, obstétrica, institucional e sexual).
Não adianta focarmos apenas no perfil individual de cada agressor porque isso não explica de forma abrangente todas as formas de violência contra as mulheres. Claro que temos algumas características de personalidade do agressor (sociopatia entre outras), de dependência química ou instabilidade emocional em determinados comportamentos masculinos repetitivos de violência relacionada ao gênero feminino.
A manifestação da violência sofre efeitos culturais e sociais significativos. Em algumas sociedades machistas, a mulher é vista como instrumento de posse do homem, apoiando, de forma velada ou não, práticas de abuso e violência nas relações estabelecidas. Normas e hierarquias estabelecidas e eternizadas em tais meios mantêm acesas as raízes de tal violência contra a mulher ao determinar o papel de submissão ao universo masculino.
E como a violência afeta a saúde mental das mulheres?
Sabemos que mulheres vitimas de violência têm uma frequência 3 a 8 vezes maior de sintomas depressivos além de consumo de álcool e tabaco mesmo na gravidez.
Alguns autores usam o termo Síndrome da Mulher Espancada (Battered Women Syndrome) para representar os sintomas caracterisiticos da mulher vítima de qualquer tipo de violência: revivência dos traumas sofridos, altos níveis de ansiedade, sentiment de medo e culpa, isolamento social, comportamentos de negação e silêncio, alterações negativas no humor e na memória ou atenção, além de quadros dissociativos.
O fato é que os transtornos mentais mais comuns são: transtorno do estresse pós-traumático, depressão, transtornos de ansiedade (incluindo fobias e pânico), alcoolismo e outras dependências. É frequente essas mulheres terem dor crônica de difícil controle além de comportamentos de automutilação ou suicídio.
Práticas públicas de acolhimento humanizado às vitimas (com assistência de qualidade) e políticas de prevenção de tais violências com punição exemplar também aos agressores ajudam mas não são suficientes. Questões sociais e culturais machistas precisam ser combatidas desde os primórdios da educação infantil, levando à desconstrução das normais e hierarquia machistas vigentes.
É importante entender que em algumas situações os profissionais de saúde também precisam ser melhor educados em suas respectivas universidades, com disciplinas que enfoquem a humanização dos relacionamentos e respeito às questões de gênero. Em exames medicos de rotina ou procedimentos cirúrgicos simples, envolvendo mulheres, deveria ser obrigatória a presença de um acompanhante escolhido pela mulher. E cabe também aos Hospitais e Ambulatórios uma responsabilidade de controle melhor de exames e procedimentos realizados em mulheres (com a presença de uma enfermeira nos exames, por exemplo). Muitos alegam que as mulheres deveriam procurar só profissionais do sexo feminino, o que é um direito de escolha delas. Mas, sinceramente, isso é apenas a “ponta do iceberg” e jamais resolverá a violência que pode ocorrer em instituições de saúde. Além do mais, em muitos atendimentos pelo SUS, não haverá possibilidade de escolha ou preferência da mulher para ser atendida por um profissional do sexo masculino ou feminino.
Demonizar uma unica categoria profissional, nesse caso específico, imperdoável e lastimável do médico anestesiologista me parece simplório e superficial demais em um assunto tão complexo e com raízes tão profundas no mundo todo.
Fonte: estadao