Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Saúde planetária propõe ações conjuntas de cuidado com os sistemas naturais e seus seres

por Redação USP

segunda-feira, 23 de junho de 2025, 12h58

Com a proximidade da COP 30 — que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém — desafios sustentáveis se tornaram tópicos de discussão. A saúde planetária é uma das linhas de pesquisa dessa temática e adota uma visão sistemática, focada em buscar soluções e entender os impactos do ser humano nos sistemas naturais da Terra, dos quais ele depende.  

 

Acordo de Paris, tratado internacional adotado em 2015 por mais de 190 países, definiu como objetivo a longo prazo evitar que a temperatura média mundial excedesse 1,5°C até o final do século. Entretanto, 2024 foi considerado o ano mais quente já registrado e atingiu 1,6ºC acima do normal. No Brasil, acontecimentos como as chuvas no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia e a onda de calor na região central do País marcaram o ano. 

 

António Mauro Saraiva, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e membro do grupo Rede  Saúde Planetária Brasil, sediado na Universidade, explica que a superexploração do meio ambiente está ligada aos avanços sociais. “A partir especialmente do pós-Segunda Guerra, houve uma aceleração muito grande da atividade econômica humana; então a mortalidade infantil caiu, a expectativa de vida aumentou, a alfabetização aumentou. Ao mesmo tempo, há uma clara degeneração dos sistemas naturais”, afirma. 

 

Justiça climática

 

Para o pesquisador, o consumo desenfreado tem influência e grande impacto no cenário das mudanças no clima. “Tudo o que a gente faz enquanto ser humano impacta o planeta. O fato de a gente estar aqui no planeta tem um impacto, já que a gente consome para se alimentar, a gente consome para se vestir, a gente consome para se deslocar, e geramos resíduos, geramos impactos.” Em sete meses, a humanidade utilizou mais recursos e produziu mais gases do efeito estufa — como o dióxido de carbono e o metano – do que a Terra consegue gerar e absorver, respectivamente, ao longo de 2024. 

 

O professor relata que as principais perturbações antrópicas nos ecossistemas naturais se caracterizam por mudanças no clima, no uso da terra, em alterações no ciclo de nitrogênio e fósforo, poluição (água, solo e ar), redução na disponibilidade de água potável, perda da biodiversidade, destruição da camada de ozônio e acidificação dos oceanos. “As consequências desses fenômenos ocorrem sobre a saúde e bem-estar da humanidade, surgem novas doenças, outras se agravam e há o aumento das doenças crônicas relacionadas à deterioração do sistema alimentar vigente, hiperurbanização, resistência microbiana, migrações climáticas e conflitos por recursos naturais, por exemplo.”

 

Saraiva defende a justiça climática — ou seja, que as políticas e ações de redução dos impactos no planeta sejam justas e equitativas. “Os países do norte global são os grandes responsáveis pela emissão de gás de efeito estufa, desde a Revolução Industrial. Com o carvão, depois com o petróleo. Por outro lado, os países que mais sofrem com esse efeito são os países do sul.” Ele avalia que os territórios mais desenvolvidos possuem mais recursos para prevenção e reconstrução de áreas afetadas pelas mudanças climáticas, enquanto os demais não conseguem proteger suas populações por falta de recursos. Os Estados Unidos, por exemplo, emitiram 5289,13 milhões de toneladas de gás carbônico — substância responsável por cerca de 75% do aquecimento global —, número que representa 11,13% das emissões globais, segundo a plataforma Climate Watch. Em janeiro, no início do segundo mandato de Donald Trump, presidente atual do Estados Unidos, o país foi retirado do Acordo de Paris.

 

“Pequenas ações podem ter grandes resultados”

 

António Mauro Saraiva defende que o cuidado com o planeta e os seres que convivem nele precisa ser pensado de maneira sistêmica.

 

“Acho que no dia a dia as pessoas podem ter pequenas ações que têm pequenos impactos, mas que podem ter grandes resultados. […] Claro, o impacto individual é mínimo, mas vezes mais de 200 milhões de pessoas no Brasil já deixa de ser mínimo, vezes 8 bilhões no planeta deixa de ser mínimo”, afirma.

 

Para ele, ações como o cuidado com o consumo excessivo, a reciclagem e a economia de água e energia elétrica são boas práticas, mas precisam ser acompanhadas pela eleição de pessoas comprometidas com “uma visão ampla: ambiental, ética, educacional e focada na saúde.”  

 

Aliança Saúde Planetária — grupo do qual a USP faz parte desde 2015 — é uma organização internacional que busca entender os impactos das mudanças ambientais na saúde e no bem-estar humanos. Universidades, institutos de pesquisa, ONGs e entidades governamentais de mais de 80 países fazem parte da ação.  

 

A cada 18 meses ocorre a Reunião de Saúde Planetária (PHAM), cujo objetivo é discutir a colaboração interdisciplinar entre os territórios e ampliar o número de adeptos. A Universidade de São Paulo organizou um dos encontros da Aliança Saúde Planetária, realizado em 2021, durante a pandemia de covid-19: “A gente foi selecionado em 2019 e o plano de fazer um evento presencial teve que ser mudado por causa da quarentena. Foi um evento on-line, com 5 mil inscritos de 130 países”. 

 

Da ação foi desenvolvida de forma aberta e colaborativa a Declaração de São Paulo sobre Saúde Planetária, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). “Ela traz mensagens muito claras para diversas categorias, como artistas, economistas, escolas e profissionais da tecnologia. […] A gente tem vários papéis, nos quais vamos ver o que podemos fazer”, explica.

 

 

Fonte: https://jornal.usp.br/radio-usp/saude-planetaria-propoe-acoes-conjuntas-de-cuidado-com-os-sistemas-naturais-e-seus-seres/


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