Gestão de desastres ambientais exige articulação e integração
por Redação USP
segunda-feira, 15 de setembro de 2025, 15h50
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Dados da Confederação Nacional dos Municípios mostram que entre 2013 e 2022 mais de 90% das cidades brasileiras enfrentaram algum tipo de desastre. Só no ano de 2023, mais de 1.600 municípios decretaram situação de emergência por conta de algum evento climático extremo. Para o enfrentamento de desastres, cada vez mais recorrentes, é necessário conhecimento, informação e preparo nos territórios.
“O mais importante para destacar aqui é que o impacto desses eventos nunca é igual para todos. Quem mora em áreas de risco, que não tem uma infraestrutura básica, vai ser sempre o mais afetado, que foi o que a gente viu em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, em fevereiro de 2023”, começa Tatiana Tucunduva, integrante do Movimento RUA e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da USP. Com o avanço da emergência climática estamos todos sujeitos a desastres naturais, embora regiões de risco sejam sempre as mais vulneráveis a eventos extremos.
Fragmentação da ação
A partir das reflexões sobre o desastre de São Sebastião, os pesquisadores identificaram que as ações de combate a desastres são fragmentadas, reativas e setorizadas. Ainda há nas cidades brasileiras a necessidade de planejamento, dados qualificados e integração, para que possam ser organizadas respostas articuladas entre as diversas equipes de resposta a desastres. “A gente precisa de um plano intersetorial, de um compartilhamento de dados qualificados. Isso está relacionado à necessidade de uma resposta coordenada que evite duplicidade de esforço. Quando a gente apenas age de maneira reativa e setorizada, como eu apontei anteriormente, normalmente se aprende muito pouco com aquilo que aconteceu antes”, completa Marcelo Nery, integrante do Movimento RUA e coordenador de Transferência de Tecnologia do Centro Colaborador da Opas/OMS no Núcleo de Estudos da Violência.
Nery destaca a insuficiência da prevenção no caso de São Sebastião. Segundo ele, embora se conhecessem as áreas de risco na cidade, o poder público não foi capaz de evitar a ocupação desses locais. Nery também comenta que, embora a defesa civil da cidade tivesse informação suficiente para agir, não houve um preparo para conseguir repassar essas informações às defesas civis e equipes de apoio de outras regiões que vieram auxiliar na situação e no resgate da população.
(Re)construir melhor
Ambos os pesquisadores explicaram que a metodologia do RUA consiste em aprender com os casos passados. Nery comenta: “Dentro da metodologia do RUA, a gente trabalha com a ideia do build back better que é o seguinte: aconteceu alguma coisa, a gente não pode reconstruir pensando em voltar à situação que se tinha antes. Temos que reconstruir melhor, temos que construir de uma maneira que o risco que havia antes não volte. A gente percebe que muito pouco disso se observa em São Sebastião”. Já Tatiana afirma: “Quando a gente não trabalha o antes, o depois vai se tornar muito mais doloroso, muito mais caro, tanto em relação às vidas quanto à infraestrutura e à reconstrução”.
Tatiana também comenta sobre o Marco de Sendai, um documento adotado pelas ONU que traz diretrizes para a prevenção de riscos e gestão de desastres. A pesquisadora também comenta a necessidade de velocidade nos investimentos em gestão de desastres. Investimentos na capacitação de gestores, governança inclusiva e melhorias na comunicação e contato com a população podem ser passos importantíssimos na preservação de milhares de vidas.
Fonte: https://jornal.usp.br/radio-usp/gestao-de-desastres-ambientais-exige-articulacao-e-integracao/