LUNETAS: É bullying ou birra? Como diferenciar o comportamento da criança
sexta-feira, 07 de novembro de 2025, 16h49
Imagine a cena: duas crianças puxando um mesmo brinquedo ou se empurrando para garantir a vez no parquinho. Disputas como essas são comuns, principalmente antes dos sete anos, quando ainda estão na “fase egocêntrica”, como afirma a neurociência. Mas como saber até onde um empurrão, uma mordida e aqueles beliscões entre as crianças pequenas não passam de brigas pontuais? Será que elas já são capazes de praticar bullying?
Segundo Marcelle Alfinito, psicóloga especialista em psiquiatria da criança e do adolescente, é a partir dos 7 ou 8 anos que a prática de bullying pode surgir. “Antes disso, o que ocorre são birras e disputas momentâneas”. Isso porque a primeira infância marca o pensamento pré-operatório, defendida por Jean Piaget como uma fase de egocentrismo e de dificuldade em compreender o ponto de vista do outro.
Depois disso, a criança entra em uma nova fase cognitiva e social. “Ela chega no estágio das ‘operações concretas’, quando compreende melhor as regras, as hierarquias e as dinâmicas de grupo”, explica Marcelle. Nesse momento, surgem também as noções de justiça, pertencimento e posição, elementos que, segundo a psicóloga, podem fazer uma criança excluir a outra. “Nessa idade, ela é capaz de entender o impacto de suas ações e de usar isso de forma estratégica, especialmente quando há busca por afirmação dentro do grupo.”
No entanto, as brigas e o bullying não aparecem de repente. Marcelle aponta que meninas e meninos seguem padrões de comportamento aprendidos durante a interação nos primeiros anos. “A mediação e o exemplo dos adultos são decisivos para o avanço das habilidades socioemocionais.”
Qual a diferença entre a birra e o bullying?
Enquanto as birras se limitam à uma explosão emocional, com gritos ou pequenas agressões, o bullying é um comportamento repetitivo e com claras intenções. A psicopedagoga Andrea Nasciutti, especialista em combate ao bullying, conta que as crianças menores apresentam comportamentos desafiadores quando contrariadas.
“Como ainda ainda não desenvolveram a habilidade de coordenar perspectivas e pensar em nível mais abstrato, os comportamentos impulsivos prevalecem”, diz. Esses conflitos fazem parte da convivência e, segundo ela, são saudáveis quando a criança aprende a resolver com tolerância, respeito e diálogo.
Por outro lado, o bullying é uma violência mais séria, com efeitos diretos à saúde mental dos envolvidos, sobretudo das vítimas. “Ele está relacionado a um desequilíbrio nas percepções de valor. Isso é, o alvo se entende como alguém com menos valor dentro do grupo e recebe violência sem conseguir se defender”, exemplifica Andrea.
Existem também outros elementos característicos do bullying, como uma plateia que observa e não interfere; o agressor, que precisa da plateia para se sentir superior; e a vítima, que sofre sem se defender.
Neste cenário, as agressões podem ser físicas, verbais ou psicológicas, e são consideradas crime, conforme a lei anti-bullying, com pena de reclusão de dois a quatro anos e multa.
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