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XXII ENCONTRO DO MPMT
Palestrante dá a receita para envelhecer bem e feliz
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por ANA LUÍZA ANACHE
quinta-feira, 09 de dezembro de 2021, 15h15
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“Nosso maior capital, nossa maior riqueza, é o nosso tempo. E é o que mais desperdiçamos a vida toda, especialmente com vampiros emocionais que sugam nosso tempo e nossa alegria de viver. Quando você fica mais velho, percebe que não pode mais desperdiçar o seu tempo. Afinal, a maior parte da vida já se foi e você desperdiçou tentando agradar e responder às expectativas dos outros”. A lição é da professora Mirian Goldenberg, palestrante desta quinta-feira (9) no XXII Encontro Estadual do Ministério Público de Mato Grosso. Escritora, colunista do jornal Folha de São Paulo, doutora em Antropologia Social e pós-doutora em “Envelhecimento e Felicidade”, a professora Mirian deu uma verdadeira aula a membros e servidores do MPMT e convocou a instituição para uma campanha de combate à “velhofobia”.
A palestrante, militante contra o pânico de envelhecer e a violência contra os idosos, se colocou à disposição para o desenvolvimento em parceria de um projeto institucional. “Só estou esperando saber qual será a minha próxima contribuição para o MPMT”, afirmou, com empolgação. Uma verdadeira “escutadora dos velhinhos”, como gosta de ser chamada, Mirian Goldenberg mostrou como envelhecer pode ser o melhor momento da vida, relatou as experiências com amigos de quase 100 anos, expôs o resultado de uma pesquisa realizada por ela com 3 mil homens e mulheres brasileiros de 18 a 96 anos e abordou uma outra pesquisa aplicada por economistas em 80 países, com mais de 2 milhões de pessoas sobre o tema.
Conforme Mirian Goldenberg, a pesquisa mundial apontou que a felicidade é uma curva e tem formato da letra “u”, com picos na infância e velhice, e nível mais baixo aos 45 anos de idade, em média. “O nível de felicidade vai caindo ao longo da vida, a medida em que as pessoas vão recebendo ‘nãos’, começam a se comparar, sofrem rejeições, passam a ter dúvidas e angústias”, pontuou. Segundo a professora, assim como a consulta realizada por ela no Brasil, o momento do fundo do poço da felicidade ocorre por volta dos 45 anos, quando as mulheres passam a ter medo da invisibilidade social, da decadência do corpo e de não ter liberdade. Por outro lado, o medo dos homens é da aposentadoria, da impotência sexual e da dependência física e emocional. “Existe um descompasso bastante grande entre desejos e medo entre homens e mulheres, mas ambos sofrem com medo de envelhecer”, destacou.
Mirian relatou que a curva da felicidade, então, passa a subir a partir dos 50 anos, chegando ao ápice do nível de felicidade a partir dos 70 anos, atingindo o mesmo patamar das crianças. Mas, “o que falta para você ser feliz?”, questionou a convidada. Após provocar a reflexão do público, observou que a falta está associada à comparação, à culpa e à cobrança, consideradas por ela “os três maiores venenos para a felicidade”. E continuou a perguntar: “qual é o momento do seu dia em que mais se sente feliz?” Para então afirmar que “poder usar o tempo com o que mais gosta é a maior felicidade de uma pessoa”.
Ao citar a filósofa e teórica social francesa Simone de Beauvoir, reforçou a ideia de que não se deixa de ser criança, que no decorrer da vida ela chega a ser sufocada para depois florescer na velhice, quando ocorre uma verdadeira revolução e libertação. Para Mirian Goldenberg, são fundamentais para uma bela velhice: adaptação, aprendizado, alegria de viver e amizade, tudo isso costurado por um propósito de vida. Dessa forma, a professora ensinou mais uma lição: “deletar os vampiros emocionais”, que podem estar na família, no trabalho, nos grupos de WhatsApp, nas redes sociais, entre outros. E, quando isso não for possível, a saída é acionar um mecanismo de proteção, de não ligar e não dar importância ao que o outro diz ou pensa.
Velhofobia - Segundo Mirian Goldenberg, a velhofobia não está nos outros, está dentro de nós, introjetada, quando dizemos “não posso mais” ou “estou velho (a) para isso”. O caminho apresentado é de saborear o tempo presente, se adaptando à nova realidade. “Escute os seus velhos, profundamente, todos os dias. Eles precisam ser escutados de maneira bonita, com generosidade, propósito, e deixando-os florescer”, aconselhou. Por fim, a professora agradeceu pelo convite e enalteceu o prazer de dividir a manhã com os integrantes do MPMT. “Sinto que o meu propósito de vida adquiriu uma dimensão maior estando com vocês hoje porque vocês vão propagar tudo isso que eu pesquiso e que é a minha vida”, manifestou.
Na prática - Em nome do Ministério Público de Mato Grosso, o procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges Pereira reforçou o compromisso da instituição na defesa do idoso e revelou que a ideia de trazer o assunto para debate foi proposital, de maneira a sensibilizar os componentes da instituição. Ele se comprometeu a trabalhar o tema na próxima revisão do Planejamento Estratégico Institucional, bem como levar a discussão ao Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG) e lutar pela criação de uma unidade judiciária no estado especializada em julgar demandas relativas à pessoa idosa.
Além disso, o Departamento de Comunicação do MPMT lançou, nesta quinta-feira (9), o último vídeo da série especial sobre envelhecimento, produzida a pedido do Centro de Apoio Operacional (CAO) do Idoso. As reportagens tratam dos desafios de envelhecer, com enfoque também no período de pandemia. Assista aos três vídeos aqui.
O evento - O XXII Encontro Estadual do Ministério Público de Mato Grosso teve início nesta quinta e segue até amanhã (10), de maneira virtual, com transmissão pela plataforma Microsoft Teams. Realizado pela Procuradoria-Geral de Justiça com apoio do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf), o evento é destinado a todos os integrantes da instituição. No segundo dia, o tema tratado será “Homem, sexo frágil?”, com a psicanalista, professora e pesquisadora Maria Homem.
“Ao longo dos últimos três anos, no Encontro Estadual do Ministério Público de Mato Grosso de fim de ano, buscamos trazer temas transversais ao Direito. Seja para cada um pensar individualmente na sua vida ou na conjugação com a nobre missão de atuar no Ministério Público, na defesa da sociedade”, pontuou o procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges Pereira. “Cada vez mais, precisamos abandonar o formalismo e buscar a base em outras matérias de direitos sociais”, acrescentou.
Ainda na abertura do evento, o coordenador do Ceaf, promotor de Justiça Paulo Henrique Amaral Motta enfatizou a importância do encontro estadual e que os desafios impostos ao Ministério Público neste momento demandam união dos integrantes. “Os desafios nunca foram tão árduos, principalmente na defesa da Justiça Social e do regime democrático, bem como na fiscalização da ordem jurídica, exigindo, como nunca, uma instituição combativa e unida”, argumentou.
Escola - Paulo Henrique Amaral Motta também aproveitou a oportunidade para divulgar que, na terça-feira (7), o Conselho Estadual de Educação aprovou o credenciamento da Escola de Governo do MPMT. “A partir de agora, o Ceaf se transformará em uma escola institucional do Ministério Público, com autonomia pedagógica e científica. Com apoio amplo e irrestrito do nosso procurador-geral, ela atuará cada vez mais como importante ferramente de auxílio a membros e servidores, capacitando todos continuamente para que trabalhem em prol de uma sociedade mais justa e igualitária”, registrou.