Justiça afasta diretoria de entidade
quinta-feira, 30 de novembro de 2006, 00h00
MAUS TRATOS
Ministério Público denunciou tortura e castigo praticados contra crianças e adolescentes na Sociedade Betel, de Nobres, com conivência de diretores
NATACHA WOGEL
Da Editora Diário de Cuiabá
Sob a acusação de maus tratos físicos e psicológicos a crianças e adolescentes, a diretoria da entidade Sociedade Beneficente Betel – Centro Educacional, instalada em Nobres, foi afastada provisoriamente por determinação da Justiça depois de denunciada pelo Ministério Público. As informações que motivaram a ação partiram de relatos do Conselho Tutelar do município (a 151 quilômetros de Cuiabá), que dão conta inclusive de conivência de diretores e monitores sobre abuso sexual de adolescentes com as crianças que lá vivem.
Os funcionários investigados pelo MP são a diretora-presidente Valéria Rucker, o vice-presidente Francisco Collado dos Santos e os monitores Igor José da Silva e Henrique Marcelo Silva, responsáveis a época pela guarda de cerca de 20 menores que moravam no local. Eles estão afastados da entidade desde o dia 24, por determinação liminar da juíza Joanice Oliveira da Silva Gonçalves.
"A denúncia partiu do conselho tutelar do município, que relatou os abusos físicos, psicológicos e até sexuais. Infelizmente, alguns fatos acabaram se comprovando, com a visita da assistente social do município. Por isso, impetramos a ação de interdição para tirar os diretores provisoriamente, que são no mínimo omissos", justificou o promotor Leandro Volochko, que moveu a ação.
A situação encontrada na entidade, que tem fim educacional agrícola para meninos de 6 a 12 anos encaminhados por conselhos tutelares, e é mantida, conforme o promotor, por uma igreja do município, é crítica. "Ouvi um relato de uma criança que foi espancada porque outra havia contado que ela estava ouvindo hip-hop. Isso é um absurdo, porque ainda coloca a questão religiosa no meio, enquanto a lei diz que a escolha é livre", ponderou Volochko.
A suspeita de que adolescentes mantenham relação sexual com crianças que vivem na entidade foi uma das denúncias mais preocupantes, na opinião do promotor. "Sabemos que os adolescentes maiores abusavam das crianças, os monitores viam e nada faziam. A direção certamente tem conhecimento disso. Por isso, faço um alerta aos pais e às mães quando vão escolher uma instituição dessas para os filhos: têm que se certificar como é a instituição, a escola, ficar atentos sobre onde estão deixando seus filhos", pediu.
A juíza também deferiu o pedido de realização de exames de conjunção carnal e de lesão corporal nos menores para comprovar as suspeitas de abuso. Conforme a denúncia do MP, as crianças eram torturadas e castigadas e, ao relatarem à assistente social o que sofriam, teriam mostrado marcas das surras.
Por telefone, a ex-diretora-presidente da instituição, disse que desconhecia agressões aos menores que estavam sob sua responsabilidade. Também informou que recorrerá na Justiça da decisão de afasta-la da atividade, que exercia há pouco mais de uma ano. Mas Valéria também confirmou ter tomado conhecimento de que monitores teriam dado "duas varadas em uma adolescente da instituição", mas não disse se foram repreendidos por isso.