Fraudadores confessam só R$ 2 mi
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006, 00h00
QUIMERA
Apesar de "regalias", empresários burlam o fisco ao fugir da declaração espontânea ou admitir apenas 10% do volume em
sonegação
Juliana Scardua
Da Redação
A Gazeta
O volume declarado em sonegação fiscal pelas 9 empresas envolvidas no esquema investigado pela operação Quimera representa
apenas 10,9% do total apurado nas perícias contábeis. Os empresários declararam juntos R$ 2,217 milhões contra o montante
real da fraude de R$ 20,328 milhões. Esse rombo revela que apesar de fugirem de processos na esfera cível e criminal e
recorrer ao parcelamento dos débitos, a gama de "regalias" ainda é ineficaz perto das artimanhas que parte dos
estabelecimentos lançam mão para driblar o fisco estadual.
O bolo de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sonegado compreende operações fraudulentas entre 2001 e
2003 por médias e pequenas empresas de Cuiabá e do interior do Estado. O trabalho de apuração articulado pelo Ministério
Público Estadual (MPE) ainda esbarra num grande entrave: a relutância na adesão de grandes empresas sob o viés da impunidade
perante o fisco.
"No entendimento de algumas empresas talvez seja melhor ser fiscalizada depois, por talvez nem descobrirem o que realmente se
sonegou", admite o coordenador da Câmara de Tributária da Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio), Paulo Gasparoto.
Todas as 243 empresas sob suspeita foram notificadas pela Fecomércio e MPE a confessarem espontaneamente o volume sonegado
dos cofres do tesouro estadual. Contudo, balanço aponta que apenas 37 declaram os débitos, 15,2% do universo total.
A confissão espontânea para fugir de processos cíveis, aliada ao sigilo dos nomes, foi acordada entre Fecomércio e MPE em
protocolo assinado em outubro de 2005. Passado 1 ano, a perícia contábil completa esta semana a varredura fiscal em 12
empresas, 4,9% do conjunto de estabelecimentos envolvidos.
Entre as 9 empresas cuja apuração total foi concluída até a semana passada existem exemplos emblemáticos. Duas delas,
apontadas na lista de envolvidos, negaram qualquer tipo de sonegação perante a Delegacia Fazendária, mas juntas somam R$
780,019 mil em danos aos cofres públicos em 2 anos. No caso mais gritante, o bolo confessado, de R$ 31,5 mil, corresponde a
apenas 2,2% do montante sonegado de R$ 1,424 milhão.