MP denuncia delegado por extorsão e sequestro de 7h
quarta-feira, 10 de janeiro de 2007, 00h00
VANTAGEM INDEVIDA
Andréia Fontes
A Gazeta
O delegado da Polícia Civil, Waldeck Duarte Júnior, a advogada Karla Fainina Freitas de Campos, dois policiais militares e uma terceira pessoa, que seria namorado da advogada em 2005, foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por extorsão mediante sequestro. Waldeck é acusado pela Justiça Federal de Mato Grosso do Sul por tráfico internacional de armas e chegou a ser afastado da Delegacia Metropolitana em Cuiabá.
Segundo a nova denúncia, assinada pela promotora Ana Cristina Bardusco, os cinco acusados sequestraram Rubens Alexandre de Jesus e o mantiveram por mais de 7h sob ameaça, circulando, dentro de seu veículo, por diversos bairros de Cuiabá. A promotora enfatiza que os denunciados tinham como objetivo "obter vantagem indevida" e tentavam obrigar a vítima a entregar 12 notebooks, dezenas de celulares e três veículos. Esta seria a condição para ser liberado e "para que sua família não sofresse nenhum mal injusto".
A promotora relata na denúncia que o delegado Waldeck e a advogada Karla Fainina, tendo conhecimento que a vítima possui grande quantia de dinheiro e outros objetos valiosos e, sob a suspeita de que a origem destes bens não era lícita, em razão dos antecedentes da vítima, "planejaram a realização da noticiada extorsão". Rubens, segundo a denúncia, foi pego as 7h40 da manhã do dia 3 de janeiro de 2005 e só libertado às 15h, após a família da vítima acionar a polícia pela segunda vez.
Karla teria participado como forma de tentar reaver honorários, uma vez que já teria advogado para a vítima e foi a isca para atrair Rubens. Os policiais militares Laércio Silva de Moraes e Alinor Gomes dos Reis, além de Elifran da Silva e Silva, que seria namorado da advogada, deram apoio à ação. Todas as ações foram supervisionadas pelo delegado.
O primeiro encontro de Rubens com Waldeck, após ser sequestrado, foi no CPA, onde o delegado exigiu que a vítima entregasse vários bens. Entre os locais que a vítima foi com os denunciados está uma oficina, onde estavam os carros de sua propriedade. Outro local foi ao lado do Verdão, momento que eles foram flagrados, pela primeira vez, pela polícia, acionada pela esposa de Rubens. Devido as ameaças, Rubens teria despistado os policiais.
O sequestro continuou. Quando a vítima já estava na delegacia do CPA, com Waldeck, a polícia anti-sequestro chegou e liberou Rubens. O delegado disse que a vítima teria ido prestar uma queixa. Elifran, Alinor e Laércio alegaram que haviam sido contratados por Rubens como seguranças. "A versão fantasiosa dos denunciados não encontra abrigo nas provas produzidas", afirma a promotora.
Todos os denunciados foram procurados pela reportagem nos telefones que constam na denúncia, mas não foram localizados. O telefone de contato da advogada, que consta no site da OAB, foi atendido por uma pessoa que afirmou não haver ninguém com o nome de Karla. O advogado de Waldeck, Ricardo Monteiro, diz não ter conhecimento da denúncia. O delegado, que está atuando novamente na Delegacia Metropolitana, não foi localizado.
O presidente da OAB, Francisco Faiad, informou que já existe processo ético disciplinar instaurado para apurar a conduta da advogada.