Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Falta material didático para negro contar sua evolução histórica

quarta-feira, 26 de novembro de 2008, 00h00

A carência de informação é tamanha que o próprio afro-descendente sente vergonha de ser quilombola. ‘Eles não querem ser negro pela história de sofrimento, humilhação e toda sorte de discriminação que vivem’, conta a professora Benedita Rosa da Costa, da comunidade São Benedito de Poconé. Ela reivindica materiais didáticos para que em suas aulas possa exemplificar que o negro é construtor de mais da metade do Brasil, que está em todas as profissões: medicina, arquitetura, música, artes em gerais e em todos os segmentos da economia nacional.

Benedita diz que muitos não querem ser quilombolas, temendo voltar à condição de escravos ou perder terras para o Incra. ‘É a falta de divulgação da história do negro, os professores da área não têm DVDs pedagógicos, cursos de capacitação, entre outros recursos’, diz a professora. Mesmo com a aprovação da lei 10.639, que regulamenta o ensino da história da África não há divulgação nas escolas.

Ela ressalta que muitos temem ser quilombola por receio de a terra passar a ser comum (sem título de propriedade). ‘Não é assim. O território é comum em termos culturais, pois ali há os traços e vivências dos ancestrais, mas cada um é proprietário de seus bens’, tranqüiliza a professora.

Outro que trabalha para ampliar o conceito de quilombo e passar toda a legislação específica para as famílias é o professor da Unemat (Universidade do Estado), Antônio Moura, de Metodologia Científica, mestre em Sociologia Rural e doutorando em Ciências Sociais (Unicamp). Ele iniciou os trabalhos em 2001, no município de Nossa Senhora do Livramento e, em 2003, nos quilombos de Poconé, onde identificou 32 comunidades quilombolas ligadas à descendência negra. ‘Todos os quilombos antigos foram destruídos’, diz Moura.

Ele observa que hoje essas comunidades conquistaram mais autonomia, cultura e religiosidade. ‘Hoje eles vivem melhor’, avalia ele, busca-se visibilidade. O professor também defende melhor coordenação dos assuntos referentes aos quilombolas. ‘Não existem dados sobre essas famílias, levantamentos, afirmando que fica difícil planejar para o que não se conhece.

Em 2007, apresentaram levantamento das comunidades negras rurais de Poconé, Cáceres, Barra do Bugres, Livramento e Porto Estrela, voltados para informação dos direitos dos afro-descendentes, organização e empoderamento. ‘As populações de um modo geral são excluídas, as escolas não têm infra-estrutura, abastecimento d’água, assistência técnica agropecuária e rede sanitária.

Moura cobra que até hoje a lei 7.775/2005, que trata do levantamento da história das comunidades quilombolas não foi regulamentada. ‘Isso traria melhoria sócio-cultural e até no turismo’, aposta.

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