TJRN - Projeto Círculos de Diálogo trata sobre drogas, mitos e neurociências com Sidarta Ribeiro
quarta-feira, 08 de setembro de 2021, 09h42
O projeto Círculos de Diálogo, promovido pela Vice-Presidência do TJRN em conjunto com a OAB/RN, realizou na sexta-feira (3/9) mais uma edição. Dessa vez o convidado foi o neurocientista Sidarta Ribeiro, professor e vice-diretor do Instituto do Cérebro da UFRN, abordando o tema “Drogas e Neurociências: mitos e verdades”.
Assista AQUI a palestra completa
No início da palestra a vice-presidente do TJRN, desembargadora Zeneide Bezerra deu as boas-vindas ao palestrante e o parabenizou pela sua longa trajetória em busca do aprofundamento e aperfeiçoamento científico, trilhada sempre em busca de difundir, o máximo possível, esse conhecimento. Em seguida, a representante da OAB/RN, advogada Carla Coutinho, falou da importância do trabalho científico de Sidarta Ribeiro desmistificando preconceitos e trazendo mais racionalidade a importantes debates da atualidade.
Sidarta Ribeiro é mestre em biofísica pela UFRJ, doutor em comportamento animal pela Universidade Rockefeller, pós-doutor em neurofisiologia pela Universidade Duke. O cientista defende o uso medicinal de substâncias psicoativas como a cannabis para o tratamento de doenças como Alzhaimer, Parkinson e tumores cancerígenos.
Ao começar sua explanação, o vice-diretor do Instituto do Cérebro falou sobre o preconceito que envolve a forma como são tratadas as questões relacionadas às drogas ao longo da história. Ele recordou que a maconha, por exemplo, vem sendo cultivada pela humanidade há aproximadamente 1200 anos, quando houve a descoberta das primeiras práticas agrícolas, sendo utilizada desde essa época para criação de fibras (cânhamo) e também como remédio.
Em seguida, Sidarta mencionou algumas afirmações que são amplamente difundidas em relação à maconha e outras drogas, mas que a ciência comprova serem, na verdade, mitos. Tomando como exemplo a alegação de que as drogas ilícitas seriam mais perigosas que as lícitas, Sidarta trouxe farta exposição de dados indicando que o consumo de álcool é muito mais perigoso e nocivo ao ser humano do que outras drogas, como maconha ou ecstasy. Ele trouxe referências mostrando que algumas drogas, como álcool e o tabaco, consideradas substâncias lícitas, foram celebradas ao longo de décadas nas mídias, no cinema, na televisão e meios publicitários; ao passo que outras drogas são representadas como causadoras de um enorme mal social.
Nesse sentido, o neurocientista aponta uma pesquisa sobre a criação de uma atmosfera de pânico social em relação a determinadas drogas, como acontece com o ecstasy, que causa cerca de menos de um terço das mortes ocasionadas por drogas lícitas como o diazepam. Porém, essa mesma pesquisa demonstrou que as mortes por ecstasy, por diferentes razões, sempre são amplamente divulgadas em jornais e noticiários, ao passo que as mortes por diazepam quase não aparecem nessas pautas.
O neurocientista falou sobre experiências feitas com usuários de crack e cocaína, a partir de pesquisas com ratos de laboratório, apontando que as reações neurológicas que impelem o uso degradativo através da dependência química, gerando a mortes dos indivíduos, decorre muito mais da falta de vínculos e de ausência de outras perspectivas de vida.
Por fim, Sidarta Ribeiro mencionou que a guerra às drogas deve sempre buscar minimizar os efeitos nocivos causados por estas. E esse enfrentamento precisa ser feito com a difusão de conhecimentos e de informações a respeito dessas substâncias, apresentando seus usos benignos e malefícios, usando a racionalidade e a verdade no decorrer desse processo.
Fonte: TJRN