MPPE - Luta pela acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência foi tema da última live do Pautas da Cidadania
terça-feira, 28 de setembro de 2021, 16h26
28/09/2021 - Encerrando o mês dedicado à visibilidade da Comunidade Surda Brasileira, o Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa da Cidadania (Caop Cidadania) promoveu, na última segunda-feira (27), a live: O Setembro Azul da Acessibilidade. O evento foi transmitido pelo Youtube do Caop Cidadania, onde encontra-se disponível, e contou com a participação de dois intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras): Débora Silva e Wesley Aleluia.
“A gente usa o politicamente correto, às vezes, como uma narrativa que esconde quem somos de fato. Só que em inclusão isso não funciona. Por mais que você tenha uma narrativa correta em relação à pessoa com deficiência, quando ela estiver na sua frente, seu olhar já vai entregar o que você pensa”, destacou a psicopedagoga Karla Daniele Luz, que há 22 anos trabalha com inclusão social de pessoas com deficiência.
Depois de observar, após realização de diversas palestras e formações sobre o tema, que muitos dos participantes continuavam praticando capacitismo - nome dado ao ato de discriminar pessoas com deficiência -, Karla resolveu mudar a abordagem: “Foi aí que, em 2015, veio a ideia da formação A Inclusão começa em mim, numa perspectiva de dizer ‘vamos assumir o que a gente pensa de verdade?’. Porque quando me assumo, eu tenho chance de aprender. Quando você erra, você se mostra e aí aprende inclusão efetiva. Quando estamos na ânsia de querer acertar, corremos o risco de começar a maquiar”, destacou Karla.
Em sua fala, a professora Helayne Cardoso, que é surda e representante da comunidade surda em Petrolina, relatou um pouco das dificuldades enfrentadas durante sua trajetória. Ela nasceu ouvinte e perdeu a audição aos cinco anos e meio; ainda criança, sofreu preconceito na escola devido a sua surdez. “Com o passar do tempo, eu entrei numa escola de alunos surdos, onde eu tive contato com a Libras, e disse a minha professora que, no futuro, queria ser professora de alunos surdos. Depois de quatro anos, consegui entrar em Letras/Libras”, contou Helayne.
No curso, ela reencontrou a antiga professora de infância. “Ela disse ‘eu pensava que você, como surda, não seria capaz de se tornar professora. Eu achava que apenas ouvintes poderiam’. Agora, ela pode ver que um surdo tem capacidade de ser professor, de ensinar algo também. Assim como os ouvintes, o surdo é capacitado para isso”, destacou. Hoje, Helayne é licenciada em Letras/Libras, especialista em Língua Brasileira dos Sinais (Libras), professora de Libras e servidora estadual e municipal.
“Nós somos tão iguais quanto os outros. Eu quero mostrar para a sociedade que nós podemos chegar onde a gente quer. O que falta? Apenas acessibilidade. A gente percebe que em diversos espaços falta acessibilidade. Se eu vou ao médico, por exemplo, eu não consigo estabelecer essa minha relação, preciso sempre levar alguém da família, um amigo, um intérprete. Não é apenas falar que respeita a pessoa por ser surda, mas garantir esse nosso direito à acessibilidade. A lei está aí para isso”, comentou Helayne.
Para reforçar a importância da empatia, Helayne citou sua participação no júri simulado com a participação de pessoas surdas, realizado há dois anos em Petrolina, em uma parceria do MPPE, por meio da 4ª Promotoria de Justiça Criminal de Petrolina, com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). “Nesse meio jurídico, a gente sabe que a maioria das pessoas são ouvintes, mas existe uma minoria surda que frequenta esses espaços. Nós fizemos esse simulado para observar como aconteceria se o surdo estivesse nesse espaço. E nós mostramos, com esse exercício, como o surdo é capaz de se autodefender”, relatou.
“O primeiro passo para todos nós combatermos a discriminação e o preconceito é se conhecer, descobrir o que em cada um não está funcionando da forma adequada. Principalmente quando o problema não é pertinho da gente, quando não é sentido através de nós ou dos nossos. A gente é empático demais no discurso, na comunicação, mas tropeça nas pequenas atitudes, e são elas que fazem a grande diferença”, finalizou a coordenadora do Caop Cidadania, a promotora de Justiça Dalva Cabral, que também mediou o encontro.
Fonte: MPPE