TJCE: Experiência inclusiva inédita: alunas(os) surdas(os) realizam júri simulado por meio do “Justiça em Libras”
quinta-feira, 09 de outubro de 2025, 13h41
O entusiasmo era evidente nos rostos de estudantes do Instituto Filippo Smaldone que, pela primeira vez, realizaram um júri simulado. A experiência de inclusão e acessibilidade foi viabilizada por meio do projeto “Justiça em Libras”, uma iniciativa inédita do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) no âmbito dos tribunais do país.
“Eu tô me sentindo muito poderosa em ser a juíza porque parece que todo mundo me respeita nessa posição, né? Pode acontecer de, no futuro, eu querer cursar, além de Moda, Direito, que tá começando a entrar no meu coração depois dessa experiência”, afirmou Amanda Freitas Vieira, aluna do 3º ano do Ensino Médio, que desempenhou o papel de juíza sob a orientação do juiz Edilberto Oliveira Lima, auxiliar da 1ª Vara do Júri de Fortaleza, durante a simulação ocorrida na quinta-feira (02/10).
A estudante Mirele Farias quer ser médica, mas já teve o sonho de ser advogada para atuar na área criminal e achou importante conhecer o funcionamento do Poder Judiciário. “Eu gostei muito do aprendizado sobre as leis porque, por exemplo, na comunidade surda, nós aprendemos mais sobre os direitos dos surdos. Mas faltam as outras leis, como a Maria da Penha, que protege as mulheres”, explicou a aluna do 3º ano.
“Eu nunca tinha tido essa experiência com a Justiça, então, pra mim foi muito diferente. Esse conhecimento nos auxilia porque a gente consegue entender melhor sobre os nossos direitos e isso é muito bom para o nosso desenvolvimento”, complementou Francisco Caio Santos, que também é estudante do 3º Ano do Ensino Médio. O intérprete de Libras George Meredite auxiliou na realização das entrevistas desta reportagem.
A presidente do Instituto Filippo Smaldone, irmã Assunta Pasqualina Filograna, acredita no potencial e no futuro promissor dos jovens. “É um sonho que se concretiza. Precisamos acreditar que podemos realizar, ter essa esperança. É muito importante que eles entendam que um dia podem ser um juiz, um advogado. Tudo é possível”, avaliou a gestora. Fundada em 1988, a organização sem fins lucrativos atende a 250 crianças e adolescentes desde a Educação Infantil ao Ensino Médio.
“NOSSA IDEIA FOI DAR PROTAGONISMO A ELES”
Alunas e alunos do 1º e do 2º ano participaram ativamente do júri simulado, assumindo as funções de juradas(os), atuando na acusação ou defesa, como testemunhas e até no papel de ré do crime fictício de tentativa de homicídio da personagem Bianca, vítima de bullying. Todo o enredo foi preparado antes da simulação e envolveu 41 estudantes da disciplina Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais, responsáveis por gravar e editar vídeos para compor o cenário do júri. Os estudantes contaram com as orientações da estudante de Psicologia Luciana Assunção Nogueira Silveira, que também é advogada psicanalista e já atuou no júri. Clique AQUI para ver o vídeo.
No detalhe, juiz Edilberto orienta a aluna Amanda, que desempenhou o papel de juíza no júri simulado
“Tem sido um grande privilégio poder participar desse trabalho do Tribunal e ver as pessoas compreendendo as ações da Justiça, entendendo algumas particularidades. Temos uma comunidade surda que fez todo um preparo para esse momento, criou um caso fictício, com a participação de vários alunos, e aqui entendemos que o projeto cumpre seu propósito. Ou seja, vale a pena você ter um Tribunal que busca a sociedade”, salientou o juiz Edilberto Oliveira Lima.
A professora Luana Lins Coelho acompanhou todo o processo criativo e disse que a experiência foi enriquecedora. “Nossa ideia foi dar protagonismo a eles, permitindo que vivenciassem na prática a investigação, a argumentação e o trabalho em equipe. Além disso, conseguimos trazer temas importantes como o bullying e a acessibilidade na comunidade surda, conectando o projeto à realidade dos estudantes”, destacou a educadora. Ela acrescentou que “o júri simulado é uma forma de desenvolver cidadania, senso crítico e preparar os jovens para o mundo do trabalho”.
A JUSTIÇA QUE VAI À ESCOLA
O júri simulado teve a colaboração do promotor de Justiça Rafael Matos de Freitas Morais. “Fiquei muito feliz e entendo que os estudantes que participaram do ato representa uma forma de aproximar a sociedade daquilo que é a Justiça, o Ministério Público, a Defensoria. Então eu fico feliz, satisfeito e esperançoso de que, quem sabe, futuramente, saia daqui um colega de trabalho.”
Quem também participou foi a defensora pública Liana Lisboa Correia, que considerou a “iniciativa muito louvável. O Tribunal do Júri tem essa mística em torno dele, então as pessoas sempre têm muita curiosidade de saber como é, há muitos mitos, e é importante que os estudantes entendam como funcionam, até porque pela Constituição, eles podem compor o Conselho de Sentença. A gente precisa permitir que essas pessoas estejam nos espaços de democracia direta. E também é um grande aprendizado estar aqui e poder viver esse momento de inclusão e de acessibilidade de maneira tão rica.”
Caio Santos afirmou que o conhecimento auxilia a entender melhor “os nossos direitos e isso é muito bom para o nosso desenvolvimento”
O júri simulado foi o primeiro da terceira etapa do “Justiça em Libras” e ainda serão realizados mais dois: Instituto Cearense de Educação dos Surdos (Ices) e na Associação de Pais e Amigos do Deficiente Auditivo (Apada), conforme o cronograma do projeto.
SAIBA MAIS
O “Justiça em Libras” foi lançado no dia 29 de abril por meio de convênio entre o TJCE, o Ices, o Instituto Filippo Smaldone e a Apada. Além da realização de júris simulados nas instituições, a iniciativa viabilizou, no último dia 11 de agosto, uma sessão de julgamento real com o apoio dos intérpretes de Libras, bem como videoaulas com informações sobre Direito e o funcionamento do Poder Judiciário estadual.
O projeto realizará mais dois júris simulados: no Instituto Cearense de Educação dos Surdos e na Apada
Fonte: TJCE


