Ódio online é praticado por pessoas com traços de psicopatia e que não teve limites
terça-feira, 22 de abril de 2025, 15h21
Traços de psicopatia, históricos de bullying e falta de imposições de limites pela família são, de acordo com especialistas, algumas das características comuns entre jovens que se envolvem com atos violentos como os três homens presos ontem. Eles encontram nas redes sociais ambiente propício para discursos de ódio.
Neste domingo, três homens foram presos por planejarem executar um homem em situação de rua. O crime seria transmitido ao vivo no Domingo de Páscoa, na plataforma Discord, em troca de dinheiro.
— As redes favorecem o anonimato. Não há freios, seja de natureza legal ou afetiva. Isso abre caminho para a prática de violência. E boa parte dos jovens que se envolvem com esse tipo de prática na internet tem um histórico de sofrer bullying ou ser pessoa solitária — diz o psicanalista Artur Costa, professor da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC).
A psicóloga Adriana Marques dos Santos diz que uma das características dessas pessoas é não terem qualquer sentimento de culpa:
— Esses jovens têm traços que parecem psicopatas. Nesse processo há fatores biológicos, sociais e psicológicos. A liberdade que existe nas redes sociais é propícia para manifestar esses traços, inclusive para angariar a participação de outros jovens que buscam uma sensação de pertencimento. Nesse processo, seguem orientação de pessoas que se dizem líderes— diz a psicóloga.
Adriana prossegue:
— É dessa maneira que conseguem influenciar adolescentes a cumprir desafios — disse, lembrando o caso da menina Sarah Raíssa Pereira de Castro, de 8 anos, que na semana passada morreu após inalar gás de desodorante aerossol ao cumprir um desafio no TikTok.
A psiquiatra Roberta França, por sua vez, diz que as redes abriram mais espaço para esse tipo de comportamento se manifestar:
— Esse tipo de comportamento sempre existiu. A diferença é que as redes sociais permitiram que encontrem mais capacidade para manifestar. Geralmente são pessoas que têm baixa autoestima. Se investigar a fundo, vamos identificar que manifestam desde cedo requintes de crueldade, principalmente com animais. Nas redes, eles defendem atacar pessoas menos favorecidas, como moradores de rua. Atos como humilhar, bater, maltratar alguém são manifestações de quem se sente superior.
Roberta destaca que as famílias têm um papel importante para tentar evitar essas atitudes:
— Pais devem preparar os filhos para enfrentar frustrações. É preciso que aprendam a ouvir “não”. Viver em sociedade exige regras—disse a especialista.
O Discord informou, por nota, que “tem políticas rigorosas contra atividades que promovam discurso de ódio, incitação à violência e compartilhamento de conteúdo prejudicial”. A empresa afirma que assim que toma conhecimento de conteúdos desse tipo por meio de ferramentas de segurança ou por denúncias de usuários, toma “as medidas apropriadas, incluindo a remoção de conteúdo, banimento de usuários e o desligamento de servidores”.
FONTE: FOLHA DE PERNAMBUCO