Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Noodlophile Stealer – quando a promessa da inteligência artificial se torna isca para o cibercrime geopolítico

quarta-feira, 14 de maio de 2025, 16h38

Resumo Executivo

 

A ascensão meteórica das tecnologias baseadas em inteligência artificial tem provocado uma verdadeira corrida por inovação em múltiplos setores. No entanto, esse entusiasmo também tem servido como terreno fértil para ações cibercriminosas cada vez mais sofisticadas. Nesse contexto, destaca-se o surgimento do Noodlophile Stealer — um malware disfarçado de ferramenta de edição de vídeo por IA, que evidencia a intersecção entre engenharia social, espionagem digital e manipulação geopolítica em escala transnacional.

 

IA como isca – o engodo por trás do Noodlophile Stealer

 

O cenário atual de proliferação de plataformas de IA generativa tem sido explorado com precisão por agentes mal-intencionados. Detectado por especialistas da Morphisec, o Noodlophile Stealer vem sendo disseminado por meio de sites fraudulentos que mimetizam serviços amplamente utilizados por criadores de conteúdo, como CapCut e Dream Machine.

 

Exemplo de site falso

Exemplo de site falso

 

A metodologia é tão simples quanto eficaz: o usuário é induzido a enviar imagens pessoais para suposta edição automática via IA. Em seguida, recebe um arquivo intitulado “vídeo processado” — na realidade, um executável malicioso mascarado como mídia (.mp4.exe). Uma vez aberto, o arquivo instala silenciosamente um infostealer que extrai credenciais sensíveis de navegadores e carteiras de criptomoedas, além de incorporar o trojan remoto XWorm, estabelecendo um canal persistente de controle externo.

 

A isca: plataformas falsas de IA amplificadas pelo Facebook

A isca: plataformas falsas de IA amplificadas pelo Facebook

 

 

Do Facebook ao comprometimento sistêmico – como a campanha se estrutura

 

A arquitetura de disseminação do Noodlophile se apoia na engenharia social impulsionada por redes sociais. Grupos do Facebook com aparência legítima — voltados a criadores digitais e entusiastas de IA — são utilizados como canal primário de atração. O engajamento orgânico desses ambientes contribui para a percepção de confiabilidade das plataformas falsas, reduzindo a vigilância das vítimas.

 

A isca: plataformas falsas de IA amplificadas pelo Facebook

A isca: plataformas falsas de IA amplificadas pelo Facebook

 

A isca: plataformas falsas de IA amplificadas pelo Facebook

A isca: plataformas falsas de IA amplificadas pelo Facebook

 

Após a infecção, os dados coletados são transmitidos de forma furtiva a operadores cibernéticos, por meio de bots do Telegram. Investigações baseadas em inteligência de fontes abertas (OSINT) indicam que o agente responsável pela campanha possui origem vietnamita, atuando sob o pseudônimo Noodlophile na venda de pacotes MaaS (Malware-as-a-Service), o que reforça o caráter industrializado do cibercrime moderno.

 

Perfil do desenvolvedor

Perfil do desenvolvedor

 

Perfil do desenvolvedor

Perfil do desenvolvedor

 

Arquitetura maliciosa – sofisticação técnica e ofuscação avançada

 

Noodlophile Stealer apresenta uma estrutura técnica notável pela complexidade e camuflagem. O executável principal, nomeado CapCut.exe (140 MB), oculta internamente 275 arquivos PE e emprega técnicas como PE hollowing, injeção de shellcode e carregamento dinâmico de bibliotecas .NET.

 

O malware faz uso estratégico de utilitários nativos do sistema, como o certutil.exe, e manipula extensões aparentemente inofensivas (.docx, .pdf, .exe) para camuflar sua verdadeira natureza. Essa abordagem multinível assegura não apenas a execução contínua do código malicioso, mas também sua capacidade de driblar mecanismos convencionais de detecção.

 

Cadeia de Ataque

Cadeia de Ataque

 

Entre o ciberespaço e a geopolítica – uma zona de conflito assimétrico

 

O caso Noodlophile transcende o escopo técnico e deve ser interpretado à luz do novo panorama geopolítico da segurança cibernética. Ao explorar o fascínio popular pelas promessas da IA, os operadores dessa campanha miram alvos não tradicionais — como influenciadores, criadores independentes e pequenas empresas — expandindo significativamente o raio de ação e impacto.

 

Esse tipo de ataque revela uma mutação na natureza dos conflitos digitais, nos quais ferramentas tecnológicas deixam de ser neutras para se tornarem instrumentos de manipulação psicológica e desestabilização sociopolítica. A sofisticação da campanha sugere, inclusive, seu possível uso como laboratório de teste para operações futuras patrocinadas por Estados-nação ou grupos alinhados a interesses estratégicos globais.

 

Perspectivas futuras – o que se delineia no horizonte

 

  1. Aperfeiçoamento de campanhas de desinformação com IA
    A automação de campanhas fraudulentas por meio de IA generativa tende a reduzir custos operacionais e ampliar o alcance das fraudes, com sites, vídeos e textos completamente sintéticos, porém convincentes.

  2. Exploração sistemática de redes sociais como vetores de infecção
    Plataformas como Facebook, Instagram e Telegram permanecerão como canais privilegiados para disseminação de links maliciosos e engenharia social.

  3. Engajamento de grupos APT com fins estratégicos
    A complexidade do Noodlophile o torna apto à integração em operações conduzidas por ameaças persistentes avançadas (APT), que visam obter vantagens geopolíticas ou econômicas de longo prazo.

  4. Erosão da confiança pública na IA
    O uso de plataformas falsas que imitam ferramentas legítimas pode comprometer a adoção de tecnologias inovadoras, prejudicando ecossistemas criativos e iniciativas legítimas de transformação digital.

 

Conclusão

 

A campanha do Noodlophile Stealer representa um ponto de inflexão na evolução do cibercrime. Mais do que um simples malware, trata-se de uma arquitetura maliciosa que alia engenharia social, disfarce tecnológico e propósito geopolítico. A ameaça está na promessa: ao oferecer progresso, seduz — mas ao ser executada, compromete.

 

Em um mundo regido por dados e algoritmos, a fronteira entre inovação e manipulação torna-se cada vez mais tênue. E talvez a próxima ofensiva não venha acompanhada de ameaças visíveis, mas de uma promessa inofensiva embutida em um simples botão de download.

 

Referência

https://www.morphisec.com/blog/new-noodlophile-stealer-fake-ai-video-generation-platforms/

 

Fonte: DCIBER


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