Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Diplomacia da cibersegurança

sexta-feira, 16 de maio de 2025, 13h26

Diplomacia da cibersegurança: como acordos globais podem promover a proteção de dados.

 

A cibersegurança transcende fronteiras em todos os seus aspectos. Os principais grupos criminosos são afiliados por todo o mundo, não se limitando às barreiras geográficas, e seus alvos também estão limitados em um único país ou continente. Ao mesmo tempo, e também considerando esses fatores, o esforço para preservar a integridade digital opera numa escala igualmente global. A interconectividade do mundo 100% digitalizada em que vivemos tornou todo o tipo de infraestrutura, seja ela crítica ou comercial, um potencial vetor de ataque, e que exige uma resposta à altura.

 

Ao longo dos últimos anos, houve iniciativas importantes na tentativa de construir pontes e estreitar relações diplomáticas em prol da segurança digital. Um dos principais marcos foi há dez anos, no Acordo de Paris de 2015. Embora o foco principal do encontro tenha sido o clima, incluiu discussões iniciais sobre cibersegurança, na época, para proteger sistemas relacionados ao monitoramento ambiental. Dois anos depois, a Microsoft propôs ao mundo as “Convenções Digitais de Genebra”, uma versão aplicável ao ambiente online do documento formulado após a Segunda Guerra Mundial, e que serve até hoje como uma espécie de “manual de regras humanitárias” das guerras.

 

Mais recentemente, o Fórum Econômico Mundial, em seu relatório “Global Cybersecurity Outlook 2025”, destacou a necessidade de colaboração entre setores públicos e privados para enfrentar a crescente complexidade do cenário cibernético. Além disso, acompanhamos regulamentações como a LGPD no Brasil, e o GDPR na União Europeia. A importância de todas essas iniciativas mencionadas não está somente no seu impacto direto na redução de ameaças cibernéticas (que é fundamental), mas também na mensagem transmitida: a necessidade de cooperação.

 

Sem acordos promovidos pelas principais potências globais em cibersegurança, e que também contemplam as nações menos favorecidas, os esforços individuais de países ou empresas falham em prevenir a escala e a sofisticação dos ataques modernos. Uma coalizão internacional promove não só um maior compartilhamento de informações e estratégias, como também uma capacidade ampliada de resposta coordenada. Além disso, tais acordos têm o potencial de estabelecer normas que desincentivam práticas como o uso de hackers patrocinados para atacar infraestruturas estrangeiras – em casos cada vez mais comuns e que, dependendo da motivação e origem, também recebem o nome de “hacktivismo”.

 

O próximo passo deverá ser ainda mais ousado. É necessário um comprometimento para a criação de um tratado universal que inclua, por exemplo, cláusulas de transparência, avaliações para descumprimentos e incentivos para cooperação. Além disso, há uma urgência em incluir países em desenvolvimento, que frequentemente carecem de recursos para proteger suas próprias redes, tornando-se alvos vulneráveis ​​– se mesmo as nações mais avançadas na maturidade cibernética ainda são frequentemente atacadas, para os demais países o impacto é ainda mais catastrófico.

 

Assim, a diplomacia da cibersegurança não é apenas uma questão de prevenção, mas de visão. Ela representa o reconhecimento de que o futuro das infraestruturas críticas, da economia global e da privacidade individual depende diretamente da capacidade de colaboração e da confiança mútua entre os principais atores. Esse é um esforço que transcende os interesses individuais e se alinha ao propósito maior de garantir um amanhã mais seguro e conectado.

 

Por: Allan Costa é Co-CEO da ISH Tecnologia 

 

Fonte: Minuto da Segurança


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